4 HA-LAPID ========================================= teista na qual o amor é elevado a princí- pio universal, que determina as relações familiares e sociais, os fenomenos biolo- gicos e químicos e as leis cosmicas. Ao lado dos dois filhos mais velhos de Don Isac, herdeiros das atitudes cien- tifico-literarias do pai, lembramos o ter- ceiro filho Don Samuel, no qual prevale- ceu o serm pratico e a atitude financeira do progenitor, dotes que, junto a uma notavel rectidão, fizeram com que ele fosse chamado à côr-te de Don Pedro de Toledo, vice-rei de Napoles, para desem- penhar um cargo semelhante ao que o pai tinha tido sob os ultimos Aragonêses. Como o pai, Don Samuel valia-se da sua posição eminente para afastar mais duma tempestade, que se adensava sobre a ca- beça dos seus irmãos e, como o pai, quiz compartilhar da sua sorte quando esses foram expulsos do reino, desdenhando a imunidade oferecida. Para o decoro da sua casa contribuiu, e não pouco, sua mulher Benvenida, cuja virtude é suficien- temente provada com o facto de que o vice-rei Don Pedro de Toledo confiou a ela, uma hebrêa, a educação de sua filha Eleonora. Tinhamos deixado Don Isac Abarbanel em Veneza, entregue aos seus estudos predilectos Em 1506 recebia ele uma car- ta de Rabbi Saul Ha-Cohen, de Creta, na qual lhe apresentava uma soríe de per- guntas sobre alguns pontos controversos do guia dos transviados de Maimonides: prova da consideração que Abarbanel go- sava entre os seus contemporaneos mesmo no campo cientifico. A' carta do Rabbi cretense, Abarbanel respondeu depois de madura reflecçâo duma maneira exaustiva. Foi este o seu ultimo trabalho, porque no ano seguinte, em 1508, Don Isac Abarbanel findava em Veneza a sua activa e benefica existencia. A tradição diz que ele está sepultado em Padua. Rabbi Samuel Mordecai Girondi de Padua fala no costume de visitar e tu- mulo de Don Isac Abarbanel no dia de Kipur. Extrato do magnifico artigo, com o mesmo titulo, na revista La Rassegna Mensili di Israel-Vol. VII, n.° 6 = Roma, da autoria de Paolo Colbi. A sentença de morte da D. Isac Abravanel, Rabi-mór de Portugal Já os leitores sabem que D. Isac. Abra- vanel, amigo intimo do Duque de Bragança (que El-Rei D. João II mandou decapitar) tambem teve que fugir para Castela, mas o que talvez os leitores não saibam é que D. Isac foi julgado á revelia e condenado á morte. Hoje publicamos a sua sentença. que constitue um notável documento para a his- tória dos judeus em Portugal. Dom joham, por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa, senhor da Guiné, a todos os juizes e justiças dos nossos reinos a que esta nossa carta de sentença fôr mostrada saude. Sabede que à petição do procurador da nossa justiça fiscal citar fizemos por nos- sa carta de éditos Isaque Bravanel, merca- dor, morador em a nossa cidade de Lisboa, por se dizer contra êle que êle fizera, e or- denara, e encobrira, e tratara contra nós, e contra o nosso real estado, e contra o bem e paz e socêgo de nossos reinos, muitas des- lealdades e traições, pelas quaes coisas me- recia morte natural e perder todos os seus bens moveis e de raiz para a corôa dos nos- sos reinos; e para bem da dita maldade e traição o procurador da nossa justiça e fis- cal o queria demandar para ser encartado, e sua fama e nome ser danado, e perder os ditos bens para a dita corôa. E porquanto se não sabia o logar certo onde era para em pessoa ser citado, nos pedia que lhe man- dassemos dar a dita carta de éditos por que fosse citado. E visto por nós seu dizer e pe- dir em Relação, com os do nosso conselho e desembargo viramos a inquirição, devas- sa e antes por que se mostravam as ditas culpas e erros do dito Isaque Bravanel, pela qual mandaremos passar a dita carta de éditos, e lhe assinamos termo de quarenta dias, a que viesse perante nós por pessoa para ser ouvido com o dito procurador e fiscal da nossa justiça, e tosse certo que se
N.º 061, Shebath 5694 (Jan 1934)
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