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Ha-Lapid הלפיד


N.º 071, Tamuz-Ab 5695 (Jun-Jul 1935)







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 2               HA-LAPID
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Ha dias, estava eu sentado à mesa dum
café a rabiscar não sei que historieta quando
senti tocarem-me no ombro. Voltei-me e
fiquei surpreendido. Tinha na minha frente
um velho amigo de quem já nem sequer me
lembrava; nada mais nada menos que um
companheiro dos primeiros anos do liceu,
companheiro que nunca deixou de tomar
parte em aventura alguma daquelas que tão
bem caracterizam os estudantes e têm o
condão de os conservar, tanto quanto possí-
vel, unidos fraternalmente pela vida fóra;
sendo obrigados, a separar-se, o que sucede
quási sempre, maior é o prazer que experi-
mentam quando mais tarde se encontram;
eis o que agora sucedía comigo e que sem
dúvida, deve ter sucedido contigo, leitor
amigo.

Ora a pessoa a quem me refiro tinha
sido obrigado pelas dificuldades da vida a
ir parar às costas africanas de onde nunca
mais deu sinal de si. Compreende-se, pois
a minha admiração ao vê-lo agora ali, fren-
te a frente comigo; era bem êle; os mesmos
olhos, os mesmos cabelos, etc. etc.: modi-
ficações apenas aquelas que o tempo impri-
me incluindo a côr mais morena do rosto,
efeitos dos raios solares, da região equato-
rial.

Contudo perfeitamente recouhecível.

Abraçámo-nos, sentámo-nos e conversa-
mos pondo-nos mutuamente ao facto da
nossa vida durante os anos da sua ausên-
cia. Duas vidas totalmente diterentes, tal-
vez dois interessantes romances se fossem
bem escritos.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

-Ah! Uma coisa que me estava a es-
quecer. . .

-Vamos lá ouvir.

-Preguntei em minha casa por ti e
disseram-me que tinhas abraçado a religião
israelita. Quasi não acreditei porque estava
plenamente convencido de que hoje já não
existiam israelitas em Portugal.

-...Disseram-te a verdade. Realmente
abraçei a religião judaica ou melhor regres-
sei à  dos meus antepassados.

-Não me compreendes, mas eu vou tor-
nar-me claro, sendo, contudo, o mais breve
possivel.



Começarei por te dizer que os judeus
aquele povo que na idade antiga tão nota-
vel se tornou pela sua religião, pois en-
quanto todos os outros povos seus contem-
poraneos adoravam uma infinidade de deu-
ses por vezes com todas as fraquezas hu-
manas, êle chegava à concepção de um
Unico, todo - poderoso e espiritual, nota
bem, um Deus espiritual naquela epoca em
oue só o materialismo reinava. E' só a
Ele que se agarraram desprezando todos os
outros. Era um povo pequeno, mas que a
sua fé tornava quási invencível. Cedo co-
meçou a dar provas da sua elevação moral
proclamando a dôr do escravo bem como
muitíssimos principios que ainda hoje re-
zem as nações civílizadas.

Esie povo dotado duma persistencia
rara e de várias outras qualidades, moral-
mente incompreendido começando a salien-
tar-se começa tambem a ser uma vitima dos
ódios dos poderosos.

Todos os outros povos o atacam, todos
procuram destrui-lo, não olhando sequer
aos meios e sorrindo-se das profecias em
que ele cria piamente: "será um povo eter-
no; poderá sofrer, ser disperso por todas
as nações, mas nunca sera completamente
destruídon etc. Porém Israel resiste sempre
preferindo morrer a profanar a sua religião,
a blasfemar contra o seu Deus.

A sua vida é um martírio.

Originária do Oriente com o decorrer
dos séculos espalha-se por todo o mundo.
Vêm para Portugal e até bem cedo, alquns
séculos antes de este pais existir. Aqui
viveram muitas familias israelitas ora pro-
tegidas pelos reis que lhes compreendiam e
admiravam as qualidades, sobretudo intele-
ctuais, ora perseguidas e expoliadas: isto
sucedia geralmente quando os tesouros
reais se esgotavam. Note-se, porém que
tal não sucedeu só entre nós; foi em toda
a parte; o imperador Adriano chegou a ven-
dê-los como escravos e como ele, fizeram
muitos outros.

Apesar de tudo a sua acção foi sempre
notavel. Em Portugal no seu período de
explendor, séculos XIV e XV, lá estão eles
em todas as grandes emprêsas.

E' a êles que D. joão II manda por terra
É saber noticias do pais das maravilhas, a
India.

--Perdôa por te interromper.
Não sei a que te queres referir,


 
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