HA-LAPID 3 ========================================== -E' tacil. Lembra-te de que Diogo de Paiva e Pedro da Covilhã eram judeus. -Ah! - Acompanharam o grande Gama ser- vindo-lhe de conselheiros e interpretes por falarem várias linguas. E qual a recompen- sa de todos esses serviços? A morte nas fogueiras e nos carceres da Inquisição. -Explica-me uma coisa: como é que, sem sair de Portugal, conseguiram escapar as garras dos inquisidores? -Uns foram forçados a converter-se ao catolicismo, são os tais Maranos, outros re- fugiram-se nas aldeias sobretudo de Tras- -os-Montes e das Beiras, onde secretamente continuaram a dizer as suas orações, a adorar o seu Deus e a cumprir a lei de Moisés. Todos eles eram apenas católicos exteriormente; no seu coração existia so- mente a divina Lei do Sinai. Os séculos decorreram e êles lá perma- necem lá semi-assimilados, sentindo, porém um arrepio se se lhes fala em Inquisição; prova isto que continuam a temê-la embora tivesse deixado há muito de existir, sendo apenas um facto histórico passado que muito contribuiu para a decadencia nacio- nal e uma nodoa negra na história dos países que lhe experimentaram os efeitos. Finalmente no século XX aparece um descendente desses martires da fé, conhe- cendo ainda as tradições religiosas da sua ilustre familia, que inicia a "Obra do Res- gate", renascimento judaismo marano-por- tuguês, obra esta que, quando terminada, será uma das mais grandiosas na historia. Esta obra começou, como todas, so- nhando, mas hoje já é mais alguma coisa, uma realidade. Para a terminar necessita do auxílio de todos, mas sobretudo de vós, jovens que sois capazes de alimentar um ideal e trabalhar para sua realização não fraquejando nunca, por maiores que sejam os obstáculos. As dificuldades existem em tudo, a não ser no que não tem valor. e quanto maiores forem mais valioso será o triunfo final. E agora, religiosa israelita, visto que necessito retirar-me termino aqui e quando de novo nos encontrar-mos continuaremos a nossa palestra. -Que por sinal me está a interessar bastante, tanto mais que não tenho a cer- teza se na minha familia não existirão algu- mas costelas judaicas. Mas depois fala- remos. Adeus. -Adeus. Norberto A. Mareno o o o O 8° Centenario de Maimonides No dia 30 de Março proximo passado celebrou-se em Cordova o oitavo Centenario de Rabbi Moisés Ben-Maimun (conhecido vulgarmente por Maimonides), com festas grandiosas organisadas pelo governo espa- nhol. As solenidades começaram no dia 25 de Março pela recepção na Camara Munici- pal das notabilídades estrangeiras. No dia 26, após uma conferencia erudita, as autoridades inauguraram sobre as paredas da antiga sinagoga de Cordova uma lapide de marmore com a seguinte inscrição: "VIII centenario de Maimonides 1125- 30 de Março de 1935. A Espanha, pelo Governo da Nação, ex- prime a sua homenagem ao imortal génio do judaismo. Cordova, a sua pátria, lhe oferece a vene- ração da sua saudade". Numerosas conferencias, saraus literários, reuniões académicas se realisaram em honra do grande Teólogo, medico e filosolo judeu. De toda a parte do mundo foram rece- bidas adesões a esta consagração. O nosso director recebeu tambem convite para as solenidades, honra em que não pôde tomar parte por motivos estranhos -à sua vontade, mas todos os bons judeus do Porto acompanharam em espirito tal digna homenagem. Em todas as principais comumidades israelista o Centenario de Maimonides tem sido celebrado. A Revista israelita americana The Je- wish Forum editou umas interessan- tes estampilhas para cartas com o retra- to de Maimonides e desenhos alusivos à sua acção. ------------------------------------ Visado pela Comissão de Censura
N.º 071, Tamuz-Ab 5695 (Jun-Jul 1935)
> P03