HA-LAPID 7 ========================================== O TALMUD (Continuação do n.° 73 I - OS ANTECEDENTES Segundo a tradição judaica, Esdras ti- nha fundado a Kenesseth hagedola (a gran- de Sinagoga), corporação de doutores que receberam a reunião doutrinal conservada até êles, para adaptar e desenvolver de acordo com as condições novas da sua época, e transmitírem-na em seguida aos antepassados directos dos rabbis talmudicos. A cadeia seguida das autoridades é assim descrita: "Moisés recebeu a torah sôbre o Sinai, transmitiu-a a Josué, Josué aos an- ciãos, os anciãos aos profetas e os profetas aos membros da grande sinagoga. "(Aboth, 1,1)". A existência dêste colégio foi posta em questão pelos sábios modernos. E' incon- testável que os dois séculos e meio que decorreram depois da época de Esdras ficam envolvidos nas trevas e praticamente não oferecem nenhum ponto de ligação historicamente estabelecido. Todavia, não se descobre, parece, nenhuma razão sólida para contestar que uma corporação oficial de doutores tenha funcionado durante êste período. Um reformador de vistas tão penetrantes como as de Esdras não teria podido disfarçar quanto a sua obra se ar- riscava a perigar depois dêle se não encon- trasse nenhum homem cheio do seu pro- prio zelo para continuar a aplicar o seu método. A creação duma autoridade co- lectiva à qual o povo possa dirigir-se para receber a (instrução aparece assim como o partido mais expediente que tenha podido tomar. Ainda mais. Quando cai o véu que nos ocultava a continuação dos aconteci- mentos, encontramo-nos, na primeira me- tade do segundo século antes da nossa era, em presença da luta heroica sustentada por um punhado de Judeus para resistir aos que tentavam então aniquilar a sua re- ligião. Estes Hasmonens levantam-se contra os exercitos assirias porque Antioco Epifánio ousou ordenar-lhe que violassem os preceitos do judaismo, "esquecer a torah e mudar todas as regras da justiça". (I Macabeus 1,49), Matatias levantando o standarte da revolta, lança esta proclama- ção: "Os que amam a torah e querem manter a aliança venham e sigam-me! -(Ibidem, 2,27). Antes de morrer exorta ainda os seus filhos nestes termos: "Mani- festai a vossa fôrça e a vossa valentía em favor da torah" (Ibidem, 2 64). Isto prova incontestavelmente que desde o comêço do segundo século, a torah esta- va poderosamente implantada pelo menos entre uma parte dos Judeus. Ora, como explicar esta ligação imorredoira que lhe manifestavam os Hasmonens, se nenhum canal não tivesse conduzido até êles o co- nhecimento da torah desde a V século, época de Esdras? Se isto é assim, os membros terão sidos recrutados, pela maior parte senão exclusivamente, entre os sopherim, porque eram as pessoas melhor qualificadas para desempenhar os cargos referentes a esta colectividade. Três grandes directrizes lhe são atribui- das: "Fazei um julgamento circunspecto, formai muitos discipulos, levantai barreiras em volta da torah. "(Aboth, 1,1)". Assim se experimem os três principios motores da sua actividade. O julgamento deve ser circunspecto, em que as questões a resolver segundo a torah forem objecto dum estudo minucioso e só a mais rigoro- sa investigação possa levar à decisão. Isso explica o exame escrupuloso do texto sagrado que caracteriza os rablis do Talmud. Tôda a leitura supercial não permitiria senão um julgamento precipitado. Com a formação de discípulos numerosos os dou- tores tinham evidentemente de ter cuidados incessantes porque o conhecimento da tarah foi transmitido ás gerações futuras Este ideal duma erudição que se propaga e cuja consideração, por consequência, se viu rodeado o instrutor versado no estudo da torah, constituíram um poderoso atrac- tivo por esta espécie de ensinamento, que predomina na compilação do Talmud. Quanto a "levantar uma barreira em volta da torah", isso vem do desejo de har- monizar com a vida os seus preceitos. Se uma pessoa se encontra muito próximo dum dado limite, poderá por inadvertência ser levada a transpô-lo. Assim como um campo cultivado deve ser rodeado duma cêrca para evitar que nêle se penetre mesmo inocente- mente, da mesma maneira em volta do
N.º 074, Tevet 5696 (Dez 1936)
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