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Ha-Lapid הלפיד


N.º 074, Tevet 5696 (Dez 1936)







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                HA-LAPID                7
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O TALMUD (Continuação do n.° 73

       I - OS ANTECEDENTES

Segundo a tradição judaica, Esdras ti-
nha fundado a Kenesseth hagedola (a gran-
de Sinagoga), corporação de doutores que
receberam a reunião doutrinal conservada
até êles, para adaptar e desenvolver de
acordo com as condições novas da sua
época, e transmitírem-na em seguida aos
antepassados directos dos rabbis talmudicos.
A cadeia seguida das autoridades é assim
descrita: "Moisés recebeu a torah sôbre o
Sinai, transmitiu-a a Josué, Josué aos an-
ciãos, os anciãos aos profetas e os profetas
aos membros da grande sinagoga. "(Aboth,
1,1)".

A existência dêste colégio foi posta em
questão pelos sábios modernos. E' incon-
testável que os dois séculos e meio que
decorreram depois da época de Esdras
ficam envolvidos nas trevas e praticamente
não oferecem nenhum ponto de ligação
historicamente estabelecido. Todavia, não
se descobre, parece, nenhuma razão sólida
para contestar que uma corporação oficial
de doutores tenha funcionado durante êste
período. Um reformador de vistas tão
penetrantes como as de Esdras não teria
podido disfarçar quanto a sua obra se ar-
riscava a perigar depois dêle se não encon-
trasse nenhum homem cheio do seu pro-
prio zelo para continuar a aplicar o seu
método. A creação duma autoridade co-
lectiva à qual o povo possa dirigir-se para
receber a (instrução aparece assim como o
partido mais expediente que tenha podido
tomar.

Ainda mais. Quando cai o véu que
nos ocultava a continuação dos aconteci-
mentos, encontramo-nos, na primeira me-
tade do segundo século antes da nossa era,
em presença da luta heroica sustentada
por um punhado de Judeus para resistir
aos que tentavam então aniquilar a sua re-
ligião. Estes Hasmonens levantam-se
contra os exercitos assirias porque Antioco
Epifánio ousou ordenar-lhe que violassem
os preceitos do judaismo, "esquecer a torah
e mudar todas as regras da justiça". (I
Macabeus 1,49), Matatias levantando o
standarte da revolta, lança esta proclama-



ção: "Os que amam a torah e querem
manter a aliança venham e sigam-me!
-(Ibidem, 2,27). Antes de morrer exorta
ainda os seus filhos nestes termos: "Mani-
festai a vossa fôrça e a vossa valentía em
favor da torah" (Ibidem, 2 64).

Isto prova incontestavelmente que desde
o comêço do segundo século, a torah esta-
va poderosamente implantada pelo menos
entre uma parte dos Judeus. Ora, como
explicar esta ligação imorredoira que lhe
manifestavam os Hasmonens, se nenhum
canal não tivesse conduzido até êles o co-
nhecimento da torah desde a V século,
época de Esdras? Se isto é assim, os
membros terão sidos recrutados, pela
maior parte senão exclusivamente, entre os
sopherim, porque eram as pessoas melhor
qualificadas para desempenhar os cargos
referentes a esta colectividade.

Três grandes directrizes lhe são atribui-
das: "Fazei um julgamento circunspecto,
formai muitos discipulos, levantai barreiras
em volta da torah. "(Aboth, 1,1)".

Assim se experimem os três principios
motores da sua actividade. O julgamento
deve ser circunspecto, em que as questões
a resolver segundo a torah forem objecto
dum estudo minucioso e só a mais rigoro-
sa investigação possa levar à decisão.

Isso explica o exame escrupuloso do
texto sagrado que caracteriza os rablis do
Talmud.

Tôda a leitura supercial não permitiria
senão um julgamento precipitado. Com a
formação de discípulos numerosos os dou-
tores tinham evidentemente de ter cuidados
incessantes porque o conhecimento da
tarah foi transmitido ás gerações futuras
Este ideal duma erudição que se propaga
e cuja consideração, por consequência, se
viu rodeado o instrutor versado no estudo
da torah, constituíram um poderoso atrac-
tivo por esta espécie de ensinamento, que
predomina na compilação do Talmud.

Quanto a "levantar uma barreira em
volta da torah", isso vem do desejo de har-
monizar com a vida os seus preceitos. Se
uma pessoa se encontra muito próximo dum
dado limite, poderá por inadvertência ser
levada a transpô-lo. Assim como um campo
cultivado deve ser rodeado duma cêrca para
evitar que nêle se penetre mesmo inocente-
mente, da mesma maneira em volta do


 
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