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N.º 081, Tishri-Heshvan 5698 (Set-Out 1937)







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 2           HA-LAPID
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omnipotente; mas assimilou o fundo ideo-
lógico contemporâneo, em tal grau que
um cristão subscreveria esta carta, tanto
mais que ela se não furtava ao gosto
retórico e erudito dos prosadores do
tempos.

Pelo que deixamos transcrito Isaac
Abarbanel refugiou-se em Espanha após
o assassinato do Duque de Vizeu em 1483,
e seu filho Judah Abarbanel, médico tam-
bém emigrou, tendo-lhe sido confiscados
os bens em Portugal.

Em 1492 os reis católicos de Espanha
expulsam dos seus estados os judeus que
não queiram aceitar o batismo Nêsse
ano, numa noite Judah manda ocultamen-
te, para Portugal seu filho Isaac de um
ano de edade acompanhado por uma ama.
Pouco depois Isaac Abarbanel e seu filho
Judah deixam Espanha e dirigem-se para
Napoles.

D. João II toma conhecimento da che-
gada do pequeno Isaac Ben Judah Abar-
banel e fa-lo deter.

D. Manuel I em 1497 manda batisar
essa creança de 6 anos, sendo no batismo
dado um nome diferente do de Isaac e
substituido também o apelido Abarbanel
por outro nome. Qual foi êsse nome de
marano os testemunhos judaicos, que
consultei nada dizem.

Em 1503 Judah manda a seu filho
Isaac, então com 12 anos uma carta em
verso hebraico intitulada "Lamentação
sôbre o Tempo" onde em frases repassadas
de saudades, aconselha seu filho a fugir
de Portugal e a ir ter com êle à Italia.

Nesta altura Judah era médico da
côrte do Vice-Rei de Napoles, o gran-ca-
pitão Gonçalo de Cordova.

Pela carta-lamentação, de que damos a
tradução em lingua portuguêsa, vê-se que
Isaac Ben-Judah Abarbanel sabia a sua
origem, o seu nome de familia e estava
em ligação em Portugal com pessoas que
lhe podiam ensinar a lingua hebraica, as
Escrituras Sagradas e Talmud, pessoas
estas que não podiam deixar de ser cripto-
-judeus ou maranos, pois judeus professos
não podiam existir abertamente em Por-
tugal desde 1497, data da grande con-
versão forçada dos judeus portugueses.

Isaac Ben Judah Abarbanel devia ser
morêno como os demais Abarbaneis, como



demonstram os seguintes versos de Brito
Pestana a Luiz Fogaça (Cancioneiro Geral,
de Garcia de Resende-apud Joaquim de
Carvalho).

   Por marran' não defamo
   os que foram judeus sendo
   cristãos lyndos,
   mas apostolos lhe chamo
   muy grandes louvores tendo,
   muy infyndos
   São marranos que marrã
   nossa fee muy ynfices,
   bautyzados
   que na ley velha samarram
   dos negros abrauanees
   dotrynados

Refere-se o autor ao trabalho oculto
dos cristãos-novos (cripto judeus ou ma-
ranos) em conservar a fé israelita entre
os seus.

Em 19 de Abril de 1506 e dias seguin-
tes há em Lisboa uma matança de cristãos-
-novos, que findou pela enérgica inter-
veução das fôrças reais

Após estes acontecimentos D. Manuel
autorisou que muitos cristãos-novos se
ausentassem do pais.

Isaac Ben-Judah Abarbanel sairia então
de Portugal?

Não creio. Seu avô em 1509 morre
em Veneza, tendo a seu lado os filhos, e
nenhum cronista judeu menciona êste neto
a assistir aos últimos momentos de seu
avô, e seria natural a referência dadas as
circunstâncias dramáticas do afastamento
deste rebento dos Abarbaneis. Julgo pois
que Isaac Ban-Judah Abarbanel em 1509
estava ainda em Portugal usando um
nome diferente. Porque motivo não saiu
com outros? Por ser Vigiado? Ignoro.
Por falta de recursos não foi, pois se seu
pai o chamava devia fornecer-lhe meios
para êsse fim.

Nesse mesmo ano de 1509 seu pai
Judah. o Leão hebreu, escreve em Mapoles
uma elegia sôbre a morte de D. Isaac
Abarbanel.

Em 1520 o imperador Carlos V conce-
deu, por decreto especial, a Judah Abar-
banel e à sua família, várias mercês e uma
isenção de impostos.

Mariano Lenzi, o primeiro editor ita-
liano dos Dialogos de Amor de Leon


 
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