2 HA-LAPID ======================================== omnipotente; mas assimilou o fundo ideo- lógico contemporâneo, em tal grau que um cristão subscreveria esta carta, tanto mais que ela se não furtava ao gosto retórico e erudito dos prosadores do tempos. Pelo que deixamos transcrito Isaac Abarbanel refugiou-se em Espanha após o assassinato do Duque de Vizeu em 1483, e seu filho Judah Abarbanel, médico tam- bém emigrou, tendo-lhe sido confiscados os bens em Portugal. Em 1492 os reis católicos de Espanha expulsam dos seus estados os judeus que não queiram aceitar o batismo Nêsse ano, numa noite Judah manda ocultamen- te, para Portugal seu filho Isaac de um ano de edade acompanhado por uma ama. Pouco depois Isaac Abarbanel e seu filho Judah deixam Espanha e dirigem-se para Napoles. D. João II toma conhecimento da che- gada do pequeno Isaac Ben Judah Abar- banel e fa-lo deter. D. Manuel I em 1497 manda batisar essa creança de 6 anos, sendo no batismo dado um nome diferente do de Isaac e substituido também o apelido Abarbanel por outro nome. Qual foi êsse nome de marano os testemunhos judaicos, que consultei nada dizem. Em 1503 Judah manda a seu filho Isaac, então com 12 anos uma carta em verso hebraico intitulada "Lamentação sôbre o Tempo" onde em frases repassadas de saudades, aconselha seu filho a fugir de Portugal e a ir ter com êle à Italia. Nesta altura Judah era médico da côrte do Vice-Rei de Napoles, o gran-ca- pitão Gonçalo de Cordova. Pela carta-lamentação, de que damos a tradução em lingua portuguêsa, vê-se que Isaac Ben-Judah Abarbanel sabia a sua origem, o seu nome de familia e estava em ligação em Portugal com pessoas que lhe podiam ensinar a lingua hebraica, as Escrituras Sagradas e Talmud, pessoas estas que não podiam deixar de ser cripto- -judeus ou maranos, pois judeus professos não podiam existir abertamente em Por- tugal desde 1497, data da grande con- versão forçada dos judeus portugueses. Isaac Ben Judah Abarbanel devia ser morêno como os demais Abarbaneis, como demonstram os seguintes versos de Brito Pestana a Luiz Fogaça (Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende-apud Joaquim de Carvalho). Por marran' não defamo os que foram judeus sendo cristãos lyndos, mas apostolos lhe chamo muy grandes louvores tendo, muy infyndos São marranos que marrã nossa fee muy ynfices, bautyzados que na ley velha samarram dos negros abrauanees dotrynados Refere-se o autor ao trabalho oculto dos cristãos-novos (cripto judeus ou ma- ranos) em conservar a fé israelita entre os seus. Em 19 de Abril de 1506 e dias seguin- tes há em Lisboa uma matança de cristãos- -novos, que findou pela enérgica inter- veução das fôrças reais Após estes acontecimentos D. Manuel autorisou que muitos cristãos-novos se ausentassem do pais. Isaac Ben-Judah Abarbanel sairia então de Portugal? Não creio. Seu avô em 1509 morre em Veneza, tendo a seu lado os filhos, e nenhum cronista judeu menciona êste neto a assistir aos últimos momentos de seu avô, e seria natural a referência dadas as circunstâncias dramáticas do afastamento deste rebento dos Abarbaneis. Julgo pois que Isaac Ban-Judah Abarbanel em 1509 estava ainda em Portugal usando um nome diferente. Porque motivo não saiu com outros? Por ser Vigiado? Ignoro. Por falta de recursos não foi, pois se seu pai o chamava devia fornecer-lhe meios para êsse fim. Nesse mesmo ano de 1509 seu pai Judah. o Leão hebreu, escreve em Mapoles uma elegia sôbre a morte de D. Isaac Abarbanel. Em 1520 o imperador Carlos V conce- deu, por decreto especial, a Judah Abar- banel e à sua família, várias mercês e uma isenção de impostos. Mariano Lenzi, o primeiro editor ita- liano dos Dialogos de Amor de Leon
N.º 081, Tishri-Heshvan 5698 (Set-Out 1937)
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