N.º 081, Tishri-Heshvan 5698 (Set-Out 1937) > P05
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Ha-Lapid הלפיד


N.º 081, Tishri-Heshvan 5698 (Set-Out 1937)







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                 HA-LAPÍD                  5
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46- Para que afligir o coração daquêle que te
gerou? Porque és semelhante ao que me enterrasse
uma flecha nos meus rins?

47-Tu obscuresces a luz sob uma nuvem, tu
transformas a claridade em crepusculo.

48-A lua eclipsa-se sempre aos meus olhares, as
estrêlas dormem ocultas nas trevas.

49-Nem um raio de sol luz na miséria, Nem um
raio penetra pelas janelas do meu coração.

50-A rosa do meu Saron não floresce, a chuva
não refresca os meus campos.

51-Perturbas os meus pensamentos, tiras o sóno
aos meus olhos, e não distingo já a hora de me
levantar, nem a hora de me deitar.

52-Nâo me deleito com as minhas refeições: na
minha bôca o mel é amargo, tôda a doçura é para
mim veneno.

53-Os pasteis açucarados são pedras duras, entre
choros como pão sêco.

54-As lágrimas, eu as misturo com a minha
água, e as bêbo, e o sangue das uvas iá não entra na
minha bôca.

55-Eu fico saciado de água e de deslocações a
ponto de ser considerado como um dos Bené-Recha-
bitas.

56 -Mas quando sonho com o teu regresso e o
meu pensamento faz aparecer a tua imagem aos meus
olhos.

57-Imagino que a minha sorte é dóce e o meu
rosto cobre-se de rosada côr.

58-Depois adormeço num dóce sôno e desperto
contente e de bom humor:

59-Dôce me parece então a água que bebo e em
comunhão contigo-o meu pão duro me parece deli-
cioso.

6O-Contudo, logo que me lembro do teu exílio,
o meu coração abraza-se com um fôgo cuio calor me
tortura.

61- Semelhante a um homem atordoado e lasso,
eu fico decaido a minha estatura torna-se encolhida e
magra.

62- Não é a tua recordação-que é a minha
alegria e a minha tristeza?
Não és tu o meu balsamo, mas também o meu
inimigo e o meu opressor?

63-A tua imagem está gravada no meu coração
e é no meu coração que está também traçado o teu
afastamento.

64-E mais do que ela me reanima, a tua imagem
ausente me aflige.

65-A tua separação confunde os meus projectos;
o teu exilio impede e torna tortuosos os meus cami-
nhos.

66-É por tua causa que a minha alma foi abatida
e que o meu orgulho foi humilhado;

67-A ponto que os sicomoros se levantam acima
do meu cipreste e que o arbusto do hisope pareça
mais alto que os meus cedros;

68-Que o morcêgo ultrapasse o meu abutre e
que a môsca vôe por cima das azas da minha águia;

69-Que os meus membros enfraqueçam em plena
juventude; que o anho triunfe sobre os meus liões.

70-Atiro para longe a minha musa; quebrei o
meu violino, a minha lira a pendurei num salgueiro;

71-Mudei o meu cântico em canto de choros, na
minha dor a minha flauta vibra com fúnebre som.

72-A minha pomba se mudou em coruja, a mi-
nha rôla se transformou em côrvo.

73-Aborreço os palácios dos reis e aspira a viver
ao deserto como um beduino.



74 - Ó meu filho, o teu exílio me tortura, me aca
brunha e me cerca de ciladas.

75-É êle que enfraquece o meu coração, que
enraivece os meus sentidos e apodrece os meus ossos.

76-Ouço tua mãe todos os dias chorando, cha-
mando por ti: "Meu querido, meu coração, minha
seiva!

77-"Que te arrancou ao meu seio e fez do fruto
das minhas entranhas uma creança abandonada?"

78-Eu sinto-me exausto de fórças para ouvir os
seus queixumes ou para dissimular o meu desgosto
no meu fôro intimo.

79-Entâo a deixei. Fui para junto do meu Rei
para cumprir o serviço com que Deus, meu Bemfeitor,
me agraciou.

80-Eu andava errante sem repouso, circulando
por Edom, o povo das fogueiras.

81-Sem encontrar bálsamo para as minhas feri-
das, sem que o Tempo,-êste inimigo que me perse-
gue- -me deixe de novo levantar.

82-Odeio os dias e as noites de suplicios-e
prefiro a morte: quizesse Deus que assim fôsse.

83 -A vida é uma carga para mim e os dias pe-
sam sôbre as minhas costas e sôbre os meus ombros.
tais como as areias do mar.

84-Que aproveito desta vida cheia de desgastes,
à espera do fim do meu destino?

85 -Para uma alma mortificada, a vida é a morte.
Ora, eu já tenho tido bastante disso, e a sua custa
duração vale bem uma longa.

86-Porque esperarei eu uma longa vida quando
está embuscado atraz de mim um urso feroz?

87-Os filhos do Dia, os filhos da adjava cujo
arco me foi destinado pelo meu Atirador do alto do
céu.

88-Sou eu oue lhe sirvo de alvo; é à volta do
circulo do meu eixo que êles giram.

90-Deixa-me pois, que eu retome a palavra, com
o meu único filho: que ele deixe de ser meu tortu-
rador!

90-Ó meu primogenito! Ajusta o teu coração e
aprende: não és tu filho dos sábios cuia sabedoria
eguala a dos profetas?

91-A sabedoria coube-te por herança, tu não
deveras perder mais dias da tua infância; ó meu
querido!

92-Agora, meu filho tu tentarás dedicar-te aos
estudos: Aprenderás a ler as Escrituras e a interpretar
os textos:

93-Depois-a recitar a Mishnah, a estudar o
Talmud, segundo as treze regras e a conhecer os ca-
minhos.

94-Mas, como me poderei conter, com a sua
deserção, pois que é ela a causa do meu mal, da minha
febre e da minha ruína-.

95-Aquela que me traspassa semelhante ao gla-
dio dos meranarios, que fende o meu coração, não
sendo uma navalha de barba.-

96-A que toca o meu coração emurchecido com
a sua lâmina, que penetra até ao ventre e às entranhas.

97-A quem transmítirei pois os meus multiplos
conhecimentos, a quem darei a beber o suco do meu
lagar e da minha adega?

98-Quem se deleitará a provam-quando eu já
não, existir- dos frutos da minha fé e dos meus escri-
tos.

99-Quem saberia desenbaraçar-se na ciência
oculta, nas obras monumentais de men pai e mestre?

100-Quem. tendo sêde, saberia sósinho tirar
agora da nascente e nela se dessedentar durante a seca?


 
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