2 Ha-Lapid ============================================== O que foi a inauguração da Sinagoga K. M. H. ? (Continuação) tarefa visto ter sido êle que na cerimónia da fundação colocou a primeira pedra do mesmo templo Seguiu-se o serviço de dedicação da no- va casa ao culto divino e a oração de Salo- mão. Esta última-oração que vem na Biblia, Livro 1.o dos Reis, capitulo 8.°-foi pro- nunciada pelo snr. Cap. B. Basto. Visto que os judeus primam como tradicionalistas ainda aqui se não abandonou o Livro dos Livros, repetindo se hoje, no século XX, em terras ocidentais, as mesmas palavras que pronunciou Salomão no século X em terras orientais. E foi da mesma maneira o fun- dador do templo que o fez. Foram em seguida ditas sucessivamente orações pelo presidente da República portu- guesa, pela congregação, pelas vítimas do fanatismo religioso, pela Spanish & Portu- guese Congregacão de Londres, pela familia Kadoorie e por todos os benfeitores. A co- munidade do Pôrto tributou assim a todas estas entidades o seu reconhecimento, con- sideração e veneração. O Igdal-canto profissional da fé judai~ ca-terminou o oficio litúrgico. O snr. Cap. B. Basto fez em seguida um darusch (sermão). Referiu-se com a sua palavra fluente e entusiástica à longa e no- bre existência do povo judeu, do qual fez uma eloqüente apologia. Finalmente, tocados a orgão, fizeram-se ouvir: a Portuguesa-hino nacional do he- roico país em que, salvo o reinado da In- quisição, os judeus viveram sempre livre- mente; God save de King (Deus salve o rei) -hino nacional do diplomático país que mais tem protegido os judeus em geral e os maranos em particular; e Hatickvah (Espe- rança)-hino nacional judaico, único canto que os Israelitas do mundo inteiro podem sem prévio ensaio entoar em côro. Na Biblioteca Dr. David de Sola Pool teve depois lugar um pôrto de confraterni- zação. Ouvia-se uma miscelânia de linguas, faladas por elementos de tôdas as classes sociais, desde o povo humilde até às elites, que, não obstante a eterogenei- dade, mostraram compreender bem que os judeus, pobres ou ricos, mais cultos ou me- nos cultos, seja qual for a sua origem ou nacionalidade, são sempre irmãos, descen- dentes do mesmo pai (Abraham) que soube- ram, desde há 6.000 anos, engrandecer-se pela te, pelo ideal, amor ao estudo, à civili- zação, à Paz e à Justiça. Seguiu-se ainda uma sessão em que a mesa era constituida pelos seguintes se- nhores: Cap. B. Basto (presidente), Paul Goodman, Dr. Klee, Caceres, Edwards e Dr. Klee (filho). O snr. Paul Goodman (digníssimo secre- tário de Portuguese Maranos Comitee de Londres, espirito cultissimo, escritor célebre e trabalhador incansável em pról da causa judaica, que entre nós deixou muitas simpa- tias, à parte as suas brilhantes qualidades, pela maneira paternal e carinhosa como acolhia os maranos) leu um sem número de mensagens de toda a parte do mundo e em tôdas as linguas. Foi esta uma nota extre- mamente simpática e grata para a jóvem Comunidade do Pôrto. A participação espiritual nesta solenidade de associações, comunidades, homens de estado, sábios, etc., etc., dos quatro cantos da terra é honrosa para o judaismo e par- ticularmente para esta comunidade. E para os maranos, repito, imensamente grato saber que o mundo judaico inteiro os felicita com as mais paternais, carinhosas e animadoras palavras-a êles que não há muito começaram a despontar como rosas timidas da vastidão das cinzas inquisitoriais. Falaram também os Snrs. Cáceres, do Conselho dos Anciãos da Comunidade Por- tuguesa de Londres, que teve a gentileza de oferecer auxilio material e espiritual à Co- munidade do Pôrto; o snr. Dr. Klee, presi- dente da Comunidade de Berlim, que igual- mente teve a gentileza de lhe oferecer um sefer torah; e o snr. Dr. Klee (filho) que fez parte do seu discurso em correcta e pura lingua hebraica. Todos estes senhores, com rara eloqüencia, manifestaram a sua admi- ração pela grande obra realizada pelo snr. cap. B. Basto. Muitíssimo mais poderiamos dizer desta solenidade. Limitàmo-nos, porém, à simples orientação do programa, assinalando a técnica inteligente que presidiu à organização do mesmo.
N.º 084, Nisan 5698 (Mar 1938)
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