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Ha-Lapid הלפיד


N.º 084, Nisan 5698 (Mar 1938)







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 6            HA-LAPID
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Crear um tribunal para lhes dar caça
como a perigosas feras - a êles cujo princi-
pal pecado consistia em adorar um Deus
Altíssimo, Uno Onnipotente, Espiritual e
Eternal; encarcerá-los e infligir-lhes tôda a
espécie de torturas e martírios; violentar-lhes
as filhas e esposas depois de por todos os
meios lhes fazer perder as fôrças nas mas-
morras-porém, quantas preferiram provocar
a morte esmagando a cabeça conta as pare-
des, à falta de uma arma com que se podes-
sem ferir, a entregar a sua honra a monstros
como eram os esbirros!

Acontecimentos formidáveis pela grande-
za dramática estes!

Suponham, Minhas Senhoras e Meus
Senhores, o que sentirá um marano cioso
dos seus antepassados e da sua história,
cada vez que sobre esta corre a vista
Sem dúvida há-de ver sempre os seus irmãos
amarrados aos instrumentos de tortura, de-
bater-se nos cárceres com tôda a espécie de
agonias, caminhar lentamente para as fo-
gueiras e sentir crepítar as chamas devora-
doras dos corpos em que o sangue da sua
raça circulava.

Muitos dêles conseguiram fugir para o
estrangeiro; outros, porém, foram obrigados
à fôrça a adoptar o cristianismo; e as
crianças atiradas brutalmente para as pias
batismais.

Aparentemente obtinham católicos e,
sob pena de irem saborear o ardor das
chamas, tinham em público de mostrar que
o eram.

A maioria refugiou-se nas montanhosas
aldeias transmontanas e beirenses. Aí con-
tinuaram a viver, exteriormente católicos e
interiormente fieis ao credo mosaico, à reli-
gião dos seus antepassados.

E os anos foram-se arrastando, agrupan-
do-se às dezenas e às centenas.

Os maranos sempre da mesma maneira,
lutando pela vida, indo por vezes à igreja,
mas orando ao Deus de Moisés.

A propósito, Minhas Senhoras e Meus
Senhores, permitam-me que confirme estas
minhas palavras com algumas orações co-
lhidas no distrito de Bragança entre corre-
ligionários que as não deixaram perder atra-
vés os séculos e ainda hoje as pronunciam
com fervor:

Padre nosso: "Padre nosso um, padre
nosso dois, padre nosso três... padre nosso

 

dez; morra a lei de Cristo e viva a lei de
Moisés."

Ao entrar na igreja: "Nesta igreja entro,
mas não adoro pau nem pedra; também não
adoro pão nem vinho; venho unicamente
adorar ao Deus de Moisés vivo."

Louvor ao Senhor:

"Quando ao mar chegámos,
"Logo por Moisés chamàmos.
"Moisés nos respondeu
"Com uma voz muito dolorida:
"Chamai pelo Deus de Israel
"Que vós sereis socorridos.

"Louvamos ao Nascente,
"Louvamos ao poente;
"Louvamos ao Deus de Israel
"Para todo o sempre.

"Oh grande Deus de Israel
"Santo e justo e bendito.
"O Vosso Santo Nome
"No Monte Sinai está escrito.

             ==

Orações como estas, cheias de sincerida-
de e grandeza, poderia ler um grande nú-
mero se não receasse abusar demasiado da
paciência dos que me escutam.

              *
           *     *

Ora, segundo a própria natureza, o ho-
mem é sempre influenciado pelo meio e,
por isso, pouco a pouco, os maranos come-
çaram a assimilar-se aos católicos, perden-
do algumas das suas tradições e costumes.

Os anos foram-se acrescentando. Cêrca
de cinco séculos são já passados-cinco sé-
culos, Minhas Senhoras e Meus Senhores!

Havia-se quási deixado de falar em
judaismo. Mas a tradição nunca se chegou
a perder por completo.

Hoje existem ainda nas reconditas aldeias
e, duma maneira geral, em todos os meios.
Não falam em judaismo, é certo, mas oram
ao Deus de Israel, têm práticas judaicas.
Provam-no as orações que acabei de ler e,
melhor, o vasto repositório de tradições re-
centemente colhidas nas mais diversas loca-
lidades registadas no jornal "Ha-Lapid" que
há 11 anos publica a Comunidade Israelita


 
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