2 HA-LAPID ============================================== dando-as a viver com algumas migalhas que ele fazia sobrar do sustento das suas ovelhas. Os corvos conseguem infiltrar algumas ovelhas ranhosas do seu rebanho no rebanho do bom pastor. Das bestas carniceiras, al- guns lobos, disfarçados em cãis de guarda, simulam ajudar o guia sonhador, que mal não pensa e que mal não cuida. As corujas enquanto comem as migalhas do rebanho vão, num piar manso e suave, preparando as ovelhas, insuflando nelas ins- tintos de feras. Nahash, com os seus encantamentos, a todos dava aspectos humanos. Um corvo pela calada da noite entra nos subterrâneos da torre, levando para ali os seus malefícios. E, um dia, quando tudo estava preparado, toda a horda miserável assalta a torre inde- fesa, e assenhoreia-se dela. O sonhador é entregue aos abutres para que o dilacerem. Nahash, pelos seus maléficos poderes e pelos seus sinistros elementos, transforma algumas das ovelhas mansas em cãis dana- dos, que abocanham ferozmente o seu bon- doso amigo e protector. Outras ovelhas reagem, mas são impotentes para resistirem ao ando criminoso, que as dispersa e lhes nega a alimentação, enquanto as rezes dana- das tinham boa e fresca erva, límpida e saborosa água, para terem força para mor- derem o seu guia. Preparavam-se os abutres para a elimi- nação de Aíb, quando Deus Bendito, juiz da eterna verdade, que protegeu Daniel, o pro- feta, na cova dos leões, fez triunfar a verdade. E Aíb volta a ocupar a torre e a reparar os estragos que a maléfica malta havia feito, e ali vieram de longes terras e dos campos vizinhos boas almas para saüdar aquele guia das almas escurecídas. Pouco tempo antes do sol da verdade deslumbrar os olhos dos que haviam de justiçar o apóstolo, uma das rezes do reba- nho, que haviam danado e que abocanhara ferozmente o seu preceptor, vinha pedir-lhe perdão, rogando-lhe que esquecesse todas as suas maldades e que lhe consagrasse a sua amizade e carinho, como outrora. Acres- centava que, encorajado pelo desejo de repa- ração do dano, fora perante os executores dos abutres proclamar que havia mentido contra o sangue inocente do seu mestre, sujeito a ser vitima ele próprio, e por todos os locais por onde andava patenteava o seu arrependimento; que lhe perdoasse, pois, visto ter assim descarregado a sua cons- ciencia e feito completamente a reparação do mal feito. Aib ouviu-o serenamente e depois res- pondeu: -Meu pobre e pequeno judas: vai ao jardim, toma um galo dos dedicados aos sacrifícios, sobe ao alto da torre, depena o galo e espalha todas as suas penas. Quando tiveres terminada essa obra, volta. O pequeno judas cabrito montes assim fez; uma a uma foi arrancando as penas ao galo e as arremessava para fora do eirado; e uma leve brisa as fazia esvoaçar e espalhar pelos campos em redor. Terminada a sua tarefa, o cabrito montes voltou dizendo:-Mestre, já fiz o que me mandaste. Ordenas mais alguma cousa? -Sim, diz-lhe o Mestre, vais agora reparar o que fizeste. Vais começar por apanhar todas as penas que lançaste fora. -Mestre, isso é impossível. Posso apa- nhar muitas delas mas nunca todas as penas, porque muitas as levou o vento para longe e não sei para onde. -Pobre alma de cabrito montes, se não consegues reparar o dano recolhendo todas as penas extraviadas, cousas facil- mente palpáveis e visíveis, como podes con- ceber que esteja reparado o dano das más palavras que são invisíveis e impalpáveis? Como é impossível a reparação do dano da dispersão das penas, mais e muito mais difícil é a reparação do dano moral. Da mor- dedura da boca caluniosa fica pelo menos a cicatriz da dentada. BARROS BASTO. * SENTENÇAS TALMUDICAS Está escrito: Tu amarás o Eterno teu Deus. Isto significa: Faze com que o nome do Eterno seja amado pela tua maneira de ser e de agir.- Talmud (Yomah). O pai que ensina a lei sagrada a seus filhos tem tanto mérito como se a tivesse ensinado aos seus netos e aos bisnetos, até ao fim das gerações. - Talmud (Kidushim). Sem discípulos não há mestres.- Tal- mud (Sanhedrin).
N.º 088, Heshvan 5699 (Out 1938)
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