N.° 88 PORTO - Lua de Outubro - 5699 (1938 e.v.) ANO XIII ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos, para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A REPARAÇÃO DO DANO Naquele tempo e naquela terra havia um homem generoso e bom, de nome Aib, cuja cabeça era sempre agitada por pensamentos trementes de ideais de fé e de justiça social, cujo coração se comovia ao conhecer misé- rias humanas, cujo braço forte de actividade amparava os fracos no caminho da verdade e cuja mão acaríciadora afagava os tristes e aflitos de alma. Inteligencia reflectida e alma sonhadora, procurava ligar a si jóvens e vélhos, a quem pretendia insuflar uma alma nova que só tivesse a aspiração de caminhar para a luz, para o bem e para a beleza moral. Num verdejante prado fez construir um edifício, com uma alta torre, onde faria a sementeira de elementos formadores de almas novas. Chamou a si almas rudes e selváticas das montanhas do Norte dessa terra e, quando as viu formando um pequeno rebanho, como bom pastor as protegia, as guiava e as aca- ticiava. Que imenso prazer ele sentia quando, como bom lavrador, ele abria com a sua char- rua espiritual os sulcos donde brotaria uma messe doirada de trigo ideal! Que grande ventura sentia quando aquelas almas selva- gens, moldadas pelas mãos de escultor idealista, começavam a tomar formas de be- leza social! Que encanto sentia quando, como carinhoso e paciente preceptor, notava que essas almas de rude aspereza produziam gestos de bondade, de amor e de fé! E a alma do sonhador, elevava, então, no seu êxtase místico, louvores ao Deus Altís- simo e Único. Os animais egoístas, preocupados somente com o conforto do seu tubo digestivo, não compreendiam a obra de Aib, o formador de almas novas, porém, as simpáticas aves mi- gratórias, as boas andorinhas, iam, de terra em terra, por todo o mundo, chilreando sons laudativos do louco sonhador. E, desde então, nos quatro cantos da terra, aves de diversas cores e cantos, faziam ressoar pelas florestas as suas homenagens ao guia das almas selvagens. Mas eis que despertando dum pesado sono, provocado pela digestão duns sapos e outros úteis animais campesinos, abre os olhos, levanta a cabeça Nahash, a serpente, o mais malicioso e mais peçonhento dos ani- mais críados, que passa a sua existencia rastejando no pó e na lama. Repara e nota o fecundo trabalho de Aíb e, como a horrorisa tudo o que é belo e grande, tudo quanto é bom e generoso, silva furiosamente contra o agitador. O seu sinistro-silvar acorda e chama a atenção de negros corvos e maléficos abu- tres, que, vivendo de corpos mortos, prepa- ram nas trevas da noite as garras que hão de ferir o bom semeador. Bestas carniceiras sorriem, antegosando os bons pedaços de carne, que esperam sa- borear. E umas corujas, que. tendo fugido da destruição de Sodoma, se albergaram nuns pardieiros, naquele campo ale re, piam velhacamente, preparando a Haskabah (de profundis) daquele bom homem que ha- via tido piedade da sua fealdade e por isso lhes permitira a sua permanência ali, aju-
N.º 088, Heshvan 5699 (Out 1938)
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