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N.º 097, Shevat-Adar 5700 (Jan-Fev 1940)







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N.° 97                       PORTO - Luas de Janeiro e Fevereiro - 5700 (1940 e.v.)                   ANO XIV
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Tudo se ilumina                     _______  ___  _______ |=|____  _______                     ...alumia-vos,
para aquele que                    |____   ||_  ||  ___  ||____  ||_____  |                   e aponta-vos  o 
busca a luz.                            | |   |_| \_\  | |    / /   _   | |                   caminho.
                                        | |       _____| |   / /   | |  | |
       BEN-ROSH                         |_|      |_______|  /_/    |_|  |_|                          BEN-ROSH

                                                  (HA-LAPID)
                                                   O  FACHO

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DIRECTOR E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH)   ||   COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA
      Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim         ||                 Rua da Fábrica, 80
           Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto           || ------------------- P O R T O -------------------
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Os cristãos novos no Pôrto

El-Rei D. Manuel estando em Muge,
decretou, em 5 de Dezembro de 1496, a
expulsão dos judeus. os quais sob pena de
morte e confisco de bens. deviam abando-
nar os territórios portugueses até ao fim
de Outubro de 1497. Ordenava o decreto
que eles podiam sair livremente com tôdas
as suas fazendas e El-Rei lhes mandaria
pagar quaisquer dívidas que lhes fôssem
devidas.

Dizia mais El-Rei que para sua ida
lhes daria todo o aviamento e despacho
que cumprir.

Um poeta satirico coevo de D. Manuel
referindo-se à liberdade de que gozavam
os judeus em Portugal, antes do decreto
de expulsão, diz:

      A terra está
      de esnogas bem cheia
      e fazem a ceia
      dos asmos por cá.
      Vereis enfeitados
      os sábados todos
      vereis de mil modos
      capuzes frisados.

Nenhuma má vontade tinha El-Rei
D. Manuel contra os judeus e a sua expul-
são tinha sido exigida pelos reis católicos
de Espanha, em cláusula expressa no con-
trato de casamento do rei português com
a herdeira do trono espanhol.

Satisfazendo o pedido dos sogros, mas
vendo os inconvenientes da expulsão, pois
não desejava privar o Pais de súbditos
que pelo número, pelas aptidões várias,
Sobretudo para as artes mecânicas, pela



riqueza que possuíam, pelos espíritos ilus-
trados e subtis que contavam no seu seio,
não eram para desprezar sem quebra de
importância para a vida da nação, D. Ma-
nuel resolveu convertê-los à força ao cato-
licismo.

No dia 2 de Abril de 1497 El-Rei
mandou tirar aos judeus todos os filhos
menores de 14 anos para serem baptizados,
medida violenta que deu lugar a cenas
lancinantes, e pouco depois usou da mesma
maneira para com os restantes israelitas.

Samuel Usque descreve essa horrivel
tragédia da seguinte forma:

"e mandou-lhes ali notificar que êle
queria se tornassem todos cristãos e que o
devessem fazer por amor, o que fariam
ultimamente por fôrça; não bastou estes
ameaços para voltarem meus filhos as cos-
tas a seu Deus, antes com constância res-
ponderam que tal não fariam. Vendo
El-Rei que maiores fôrças eram necessá-
rias para os abalar, entrou em conselho e
acordaram apartar dentre os vélhos os
mancebos de até 25 anos.

Como os tiveram divisos fizeram-lhe
uma prática de venenosas palavras cobertas
de triaga, prometendo-lhes muitos favores
no reino se por amor se convertessem ...;
de maneira que achando-os tão firmes
como a seus pais, a êles com grandissima
ira arremeteram aquêles executores, e a
uns pelas pernas e braços, e a outros pelos
cabelos e pelas barbas arrastando, por fôrça
os levaram até dentro às igrejas. e ali lhe
deitaram a sua água, e tocando com ela
uns e mal alcançando outros, lhe impuse-


 
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