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N.º 097, Shevat-Adar 5700 (Jan-Fev 1940)







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 2            HA-LAPID
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ram sôbre isso nomes de cristandade e
os meteram em poder de vélhos cristãos
para os sujeitar à religião e guarda de
sua fé.

Como tiveram esta injusta e violenta
obra acabada, tornaram aos pais, que tão
angustiados sustinham já a vida que abor-
reciam, a dar-lhe outro trago mortal, di-
zendo-lhes que seus filhos se haviam con-
vertido já cristãos e que o devessem êles
assim fazer se queriam ter vida em sua
companhia; nem a isto os vélhos se aba-
laram, até que El-Reí lhes mandou tirar o
comer e o beber por três dias contínuos,
para com a angústia da fome os tentar, o
que éles também mui animosamente supor-
taram; vendo El-Rei que ainda isto não
bastava, e que se mais com fome os pe-
nasse pereceriam, determinou usar com
êles a violência que havia usado com seus
filhos, e arrastando-os pelas pernas, outros
pelas barbas e cabelos, dando-lhes punha-
das no rosto, e espancando-os, às igrejas,
onde lhes deitaram água, os levaram.

De muitos que grandes extremos fize-
ram por se defender, foi assinalado entre
êles, um o qual fazendo cobrir a seis filhos
com seus thalecioth, com uma sábia prá-
tica esforçando-os a morrer pela lei, um a
um, com éles todos ao cabo se matou; e
outros, mulher e marido se enforcaram, e
aquéles que os quiseram levar a enterrar
foram mortos pelos inimigos às lançadas.

Muitos houve que se lançaram em
poços, e outros das janelas abaixo se fa-
ziam em pedaços, e todos estes corpos
israelitas assim mortos os levavam os al-
gozes a queimar ante os olhos de seus
irmãos, para maior medo e temor de sua
crueldade os compreender.

Com esta violência, contra as leis divi-
nas e humanas, ficaram feitos cristãos
muitos corpos, mas nunca nas almas lhes
tocou mácula, antes sempre tiveram impri-
mido o sélo da sua antiga lei."

Referindo-se a estes tristes aconteci-
mentos. Garcia de Resende, escreveu na
sua Miscelánia.

      "Os judeus vi cá tornados
      todos num tempo cristãos,
      os mouros então lançados
      fora do reino passados
      e o reino sem pagãos;



      vimos sinagogas, mesquítas,
      em que sempre eram ditas
      e pregadas heresias,
      tornadas em nossos dias
      igrejas santas bemditasm

Nos dias 9, 10 e 11 de Abril de 1506
houve em Lisboa uma matança de cristãos-
-novos, tendo servido de pretexto uma
explicação racional imprudente que um
cristão-novo deu acêrca dum pretenso
milagre.

Garcia de Resende, testemunha, narra
êsse horrivel massacre da seguinte forma:

      Vi que em Lisboa se alçaram
      povo baixo e vilãos
      contra os novos cristãos
      mais de quatro mil mataram
      dos que houveram às mãos.
      Uns deles vivos queimaram
      meninos despedaçaram.
      fizeram grandes cruezas,
      grandes roubos e vilezas
      em todos quantos acharam ...

Quando tal soube, El-Rei D. Manuel
agiu, mandando as suas justiças actuarem.
Garcia de Resende, também narra isso
em verso:

      Estando só a cidade
      por morrerem muito nela,
      se fêz esta crueldade;
      mas El-Rei mandou sôbre ela
      com mui grande brevidade.
      Muitos foram justiçados
      quantos acharam culpados
      homens baixos e bragantes:
      e dois frades observantes
      Vimos por isso queimados.
      El-Rei teve tanto a mal
      a cidade tal fazer,
      que o titulo natural
      de nobre e sempre leal
      lhe tirou e fez perder.
      Muitos homens castigou
      e ofícios tirou:
      ..............................

O cronista judeu Samuel Usque, tam-
bém contemporâneo, sôbre êsse massacre
diz o seguinte:

"Não bastou havé-los trazido com tanta
sem razão e injustiça à sua fé, afastando-os


 
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