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N.º 097, Shevat-Adar 5700 (Jan-Fev 1940)







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           HA-LAPID 3
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da lei em que nasceram, mas ainda assim
os não deixavam viver quietamente, deno-
gando-os, injuriando-os, abatendo-os e tra-
tando-os com baixeza e desprêzo, e isto
já o levaram em paciência, se não lhe
levantaram aleives e falsos testemunhos
para os destruir e arrancar do mundo,
pregando os pregadores nos púlpitos, e
dizendo os senhores em lugares públicos,
e os cidadinos e vilões nas praças, que
qualquer fome, peste ou terramoto que
vinham à terra era por não serem bons
cristãos: e que secretamente judaizavam;
assim que alcançando alguns intrínsecos
inimigos a vontade do povo quanto incli-
nada estava em seu dano, acharam apare-
lho para meterem em efeito seus maus
ânimos, entre os quais houve dois frades
dominicos, que sairam pela cidade de Lis-
boa, com crucifixos às costas amotinando
o povo, e clamando viessem todos em sua
companhia vingar a morte do seu Deus, e
com muitos preversos ociosos e gente
mecânica que a êles se recolheram, com
lanças e espadas nuas em suas mãos arre-
metendo contra o fraco e desprovido povo
dos mal baptizados e novos cristãos mata-
ram quatro mil almas déles, roubando e
usando tôdas aquelas crueldades que em
um saque duma cidade se faz, atazalhando
os homens, arremessando as criaturas às
paredes e desmembrando-as, deshonrando
as mulheres e corrompendo as virgens, e
sôbre isso tirando-lhes a vida; houve mui-
tas que prenhes as lançaram das janelas
sobre as pontas das lanças que já em baixo
as estavam esperando, e assim atalhavam
o caminho às inocentes criaturas antes que
arribassem ao mundo, onde o Céu piedoso
as mandava; entre elas se achou uma que,
esforçando-a a muita ira e sua honra, a
um frade, que a queria forçar, matou com
umas facas que o mesmo frade trazia.

Se éste assim terrível mal durara na-
quele ímpeto acabaram todos os novos
cristãos, que na cidade de Lisboa habita-
vam, mas provendo a misericórdia divina
com as justiças da terra, que acudiram, e
atrás disso El-Rei que, com diligência,
veio a socorro da vila de Abrantes, onde se
achava, cessou aquela matança temerosa."

Estas tragédias da conversão forçada
dos judeus portugueses e de massacres de
cristãos-novos não deixaram vestígios nos



arquivos portucalenses; talvez alguém mais
feliz do que eu consiga encontrar algum
documento. Estou, até prova em contrário,
convencido que a gente laboriosa, rude,
mas bondosa do Pôrto evitou todos os
excessos.

Encontrei a fôlhas 56 do Livra de Pro-
visões (1500 a 1539) uma carta régia de
D. Manuel, datada de 12 de Maio de 1506,
em que diz ter em serviço não se fazer na
cidade do Pôrto prisão sôbre os cristãos-
-novos como se fêz em Lisboa.

A fôlhas 146 do referido Livro de Pro-
visões, do Arquivo Municipal do Pôrto,
existe uma carta régia de D. João III
ordenando que na cidade do Pôrto se favo-
reçam os cristãos-novos. A carta é datada
de 22 de Dezembro de 1521.

Julgo que a conversão forçada dos
judeus portuenses foi, pois, feita sem os
sucessos trágicos lisbonenses. Os judeus
abandonaram a judiaria do Olival e muitos
foram-se estabelecer para a Ribeira por a
isso serem forçados.

No Livro 1.° das Próprias, do Arquivo
Municipal do Pôrto, existe uma carta régia
de 4 de Abril de 1534, onde diz que uns
mercadores intentam ir para a rua de
S. Miguel e El-Rei manda aos seus juizes
que oiçam todos os pareceres dos oficiais
da Câmara sôbre a mudança de todos os
que estiverem arruados nela. Nessa carta
se menciona pretenderem os mercadores
algibebes. que vendiam roupa feita e usada,
da rua de S. Miguel, a construção duma
igreja, por aquela rua ser das mais povoa-
das e nobres da cidade.

Uma carta régia de D. joão III, exis-
tente no Livro de Provisões já citado, a
fôlhas 316, faz saber à cidade do Pôrto
que proveu para bispo a D. Frei Baltazar
Limpo. A carta é datada de 6 de Abril
de 1537.

Êste bispo foi solenemente recebido
pela cidade, como se verifica por um do-
cumento já publicado neste jornal.

O Bispo do Pôrto, pouco depois de
tomar posse da sua diocese, interessou-se
para que a grande Sinagoga do Pôrto, sita
à rua de S. Miguel, na parte dessa rua
actualmente chamada de S. Bento da Vi-
tória, fôsse transformada em igreja católica
e empregou todos os meios ao seu alcance
para esse fim.

Por documentação apresentada já sabe-


 
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