2 HA-LAPID ======================================== éste inspirado, que amotinava a populaça e perturbava até os exercícios do culto islâmico. Ben-Thumrut retirou-se para um cemi- tério, próximo da cidade, onde construiu uma choupana, e recomeçou as suas pré- dicas perante uma grande multidão, que. de toda a parte afluía ao seu eremitério. Esta prodigiosa romagem e a efervescência, que provocam no povo as suas audaciosas palavras, assustaram por fim o Emir que deu ordem para o matarem. Avisado por sectários, que tinha no próprio paço do Emir, Ben-Thumrut fugiu para o deserto, Além-Atlas, com os seus mais dedicados partidários, e reüniu com a sua palavra as tríbus rudes, donde era originário, como tinha reünido o povo de Marrakesh. Intitulando-se então Mahdy (encaminha- dor-no caminho de Deus), equivalente a enviado de Deus, nome que lhe haviam dado os seus discípulos, escolheu dez com- panheiros ou apóstolos, formou um con- selho (Diwan) de 50 conselheiros, e, feito assim chefe supremo duma nova seita reli- giosa, resolveu iluminar à ponta de espada os que não tinha iluminado com a sua palavra. Como outrora o fundador dos almorá- vidas, desceu de-repente das montanhas à testa dum enorme bando de rudes faná- ticos (1121). O Emir Aly, que neste momento estava na Andaluzia, acabava de sufocar uma revolta em Córdova, quando teve conheci- mento da aparição do Mahdy nos seus estados. Regressou precipitadamente a Marrocos e enviou contra o agitador algumas tropas, que foram desbaratadas logo no primeiro recontro. Uma segunda expedição, mais considerável, sofreu a mesma sorte, disper- sada antes de combater por uma espécie de terror pânico. Finalmente foi enviado um exército, comandado pelo próprio irmão do Emir, Abu-Tahir-Temym, o qual não foi mais feliz, sofrendo uma completa derrota. Depois desta tríplice vitória, o Mahdy e os seus soldados, aos quais deu o nome de almóadas (al-muahedyn=unitários) esta- beleceram-se atrás das montanhas do Atlas e construíram uma cidade fortificada, cha- mada TINMAL, no alto dum grande rochedo, donde saíam para contínuas razias na pla- nicie. Tendo durante três anos aumentado as suas forças pelo proselitismo e pela guem de algaradas, os almóadas desceram então de Tinmal, onde ficou o Mahdy, em número de 30 a 40 mil, comandados pelos dez apóstolos e dirigiram-se para a capital, com a intenção de a tomarem e de destruir com isso o império dos almorávidas. O Emir Aly reüniu sob o seu comando tôdas as forças de que dispunha e saíu ao encontro dos almóadas. A-pesar-da Supe- rioridade numérica do seu exército, o Emir foi batido pelos discípulos do Mahdy, e refugiou-se na sua capital onde se entrin- cheirou. Os almóadas começaram o cêrco, mas sendo mais bravos no combate do que em estratégia, deixaram-se surpreender por uma sortida nocturna dos defensores, e foram exterminados nos seus acampamentos. Dos dez apóstolos, seis morreram, e os fracos destroços do seu exército, que deveram a sua salvação ao valor e prudência de Abd- -al-Mumen (servo do crente), um dos após- tolos escapados ao massacre, fugiram para o seu refúgio de Tinmal (1125). Em 1130 morre misteriosamente o Mahdy depois de ter transmitido os seus soberanos poderes ao seu discípulo Abd-al-Mumen, que dirigiu desde então os negócios da nova seita como político hábil e como capitão valoroso. Tendo reparado as perdas da campanha anterior, retomou a ofensiva. Consquistando aldeia por aldeia, tríbu por tríbu, província por província, apoderou-se a pouco e pouco de todo o Mogreb. O Emir Aly só podia lutar com êxito contra os almóadas, protegendo-se com as fortes muralhas da sua capital, sendo for- çado para sua própria defesa a chamar em socorro seu filho Texufin, governador da Andaluzia, para o vir ajudar com as suas tropas. Na Península Ibérica o exemplo de Mar- rocos frutificara. Fizeram-se almóadas os árabes da Andaluzia, e, animados pelas vitórias dos correligionários em África. revoltaram-se em vários distritos contra os almorávidas. Texufin, o filho do Emir Aly, que governava em Espanha, conseguiu deter energicamente as rebeliões, mas tendo re- cebido as cartas, em que seu pai lhe contava o mau estado da causa almorávida e lhe pedia socorro urgente, juntou as melhores tropas almorávidas de Espanha, compostas
N.º 099, Sivan-Tamuz 5700 (Mai-Jun 1940)
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