6 HA-LAPID ===================================== VIDA COMUNAL PORTO Ano Novo das Árvores-Realizou-se nesta comunidade a solenidade de Rosh- -Ha-shanah Lailanoth (Ano novo das árvo- res) e 2.° aniversário da inauguração solene da nossa magnifica Sinagoga Kadoorie. Em seguida ao acto de culto, houve um Pôrto-de-Honra. O Rev. Moreh (Preceptor), David Mo- reno usando da palavra, disse: "Minhas Senhoras e meus Senhores: A data de hoje, 15 de Shebat, é uma data digna de permanecer na memória dos judeus em geral e dos maranos em parti- cular. Comemora o dia de rosh-ha-shanah (ano novo das árvores): e comemora o dia da inauguração da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, que coincidiu com o (5.° centenário) aniversário de Dom Isaac Abravanel. Êste célebre judeu, de fama universal, nasceu em Lisboa em 1437 e descendia da Casa Real de David. Com tal riqueza de tema podia hoje, minhas Senhoras e meus Senhores, falar du- rante muitas horas, contar-lhes detalhada- mente a vida dos maranos. descrever o notável papel das árvores na vida da huma- nidade, etc. Mas estes assuntos são já do conhecimento da grande maioria dos que me escutam, que teve mesmo o prazer de assis- tir à inauguração desta catedral. Limitar- -me-ei portanto a lembra-hes em breves palavras os acontecimentos a que me venho referindo. Em referência aos maranos é-me extre- mamente grato ler um fragmento da Men- sagem da União Universal das Comunidades Sepharditas, dirigida à nossa Comunidade quando da sua inauguração (faz portanto dois anos). "Se a sobrevivência de Israel tinha ne- cessidade duma prova, os maranos do Porto ali estão para a fornecer. O recente regresso dos maranos à fé judia após vários séculos de exercício dum culto ao qual foram con- vertidos pela violência, não é um facto es- pantoso nos anais da mística humana e um testemunho brilhante da fôrça invencível do espirito judeu? Durante séculos, na sombra, nas criptas, a pequena flama dêste espírito era transmi- tida de geração em geração, emquanto sobre o solo flamejavam as chamas da inqui- sição. Que admirável força de resistência! Que luta desigual! E contudo, chegou um dia em que a flama do espirito passou por cima das cha- mas da fogueira. Estas extínguiram-se para sempre e outra flama eterna fêz a sua reaparição. Inaugurando o seu templo, os maranos do Porto celebram ao mesmo tempo o triunfo da liberdade de consciência sobre a opressão religiosa, sobre tódas as opressões. O templo do Pôrto, mais que todos os outros templos de Israel, é um monumento que contará aos que passam na linguagem da sua massa, das suas linhas e do seu nome, uma das mais comoventes epopeias judaicas. O novo templo do Porto constituirá, sem dúvida, não somente uma casa de orações, mas também uma mansão de estudos ju- daicos. Será um lar onde a alma e o espirito encontrarão o seu alimento: a alma, a pie- dade; o espirito, o estudo. E quem sabe? Talvez, graças à síntese dêstes dois grandes valores, reflorescerá sobre a terra de Portu- gal um judaismo tão elevado como nos tempos memoráveis de Dom Isaac Abra- vanel." A nossa Sinagoga foi a primeira que, após a Inquisição, se ergueu no Porto. A última fora transformada em igreja - a igreia de S. Bento da Vitória. É depois de quási cinco séculos que o monumento onde
N.º 099, Sivan-Tamuz 5700 (Mai-Jun 1940)
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