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N.º 099, Sivan-Tamuz 5700 (Mai-Jun 1940)







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 6            HA-LAPID
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           VIDA COMUNAL

               PORTO

Ano Novo das Árvores-Realizou-se
nesta comunidade a solenidade de Rosh-
-Ha-shanah Lailanoth (Ano novo das árvo-
res) e 2.° aniversário da inauguração solene
da nossa magnifica Sinagoga Kadoorie.

Em seguida ao acto de culto, houve um
Pôrto-de-Honra.

O Rev. Moreh (Preceptor), David Mo-
reno usando da palavra, disse:

"Minhas Senhoras e meus Senhores:

A data de hoje, 15 de Shebat, é uma
data digna de permanecer na memória dos
judeus em geral e dos maranos em parti-
cular. Comemora o dia de rosh-ha-shanah
(ano novo das árvores): e comemora o dia
da inauguração da Sinagoga Kadoorie Mekor
Haim, que coincidiu com o (5.° centenário)
aniversário de Dom Isaac Abravanel. Êste
célebre judeu, de fama universal, nasceu em
Lisboa em 1437 e descendia da Casa Real
de David.

Com tal riqueza de tema podia hoje,
minhas Senhoras e meus Senhores, falar du-
rante muitas horas, contar-lhes detalhada-
mente a vida dos maranos. descrever o
notável papel das árvores na vida da huma-
nidade, etc. Mas estes assuntos são já do
conhecimento da grande maioria dos que me
escutam, que teve mesmo o prazer de assis-
tir à inauguração desta catedral. Limitar-
-me-ei portanto a lembra-hes em breves
palavras os acontecimentos a que me venho
referindo.

Em referência aos maranos é-me extre-
mamente grato ler um fragmento da Men-
sagem da União Universal das Comunidades
Sepharditas, dirigida à nossa Comunidade
quando da sua inauguração (faz portanto
dois anos).

"Se a sobrevivência de Israel tinha ne-
cessidade duma prova, os maranos do Porto



ali estão para a fornecer. O recente regresso
dos maranos à fé judia após vários séculos
de exercício dum culto ao qual foram con-
vertidos pela violência, não é um facto es-
pantoso nos anais da mística humana e um
testemunho brilhante da fôrça invencível do
espirito judeu?

Durante séculos, na sombra, nas criptas,
a pequena flama dêste espírito era transmi-
tida de geração em geração, emquanto
sobre o solo flamejavam as chamas da inqui-
sição.

Que admirável força de resistência!

Que luta desigual!

E contudo, chegou um dia em que a
flama do espirito passou por cima das cha-
mas da fogueira. Estas extínguiram-se para
sempre e outra flama eterna fêz a sua
reaparição.

Inaugurando o seu templo, os maranos
do Porto celebram ao mesmo tempo o
triunfo da liberdade de consciência sobre a
opressão religiosa, sobre tódas as opressões.
O templo do Pôrto, mais que todos os
outros templos de Israel, é um monumento
que contará aos que passam na linguagem
da sua massa, das suas linhas e do seu
nome, uma das mais comoventes epopeias
judaicas.

O novo templo do Porto constituirá, sem
dúvida, não somente uma casa de orações,
mas também uma mansão de estudos ju-
daicos.

Será um lar onde a alma e o espirito
encontrarão o seu alimento: a alma, a pie-
dade; o espirito, o estudo. E quem sabe?
Talvez, graças à síntese dêstes dois grandes
valores, reflorescerá sobre a terra de Portu-
gal um judaismo tão elevado como nos
tempos memoráveis de Dom Isaac Abra-
vanel."

A nossa Sinagoga foi a primeira que,
após a Inquisição, se ergueu no Porto.
A última fora transformada em igreja - a
igreia de S. Bento da Vitória. É depois de
quási cinco séculos que o monumento onde


 
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