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N.º 099, Sivan-Tamuz 5700 (Mai-Jun 1940)







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Documentário sôbre Maranos

Do livro Recordações da minha família,
por Israel Salomon - New Iork - 1887

(5647 E. H.)-(impresso para circulação
particular).

-111. Pág. 10.-

Meu pai era filho de Israel e de Bella
Salomon. Morreu repentinamente em Lis-
boa em Janeiro de 1819, vinte-e-um dias
após a sua chegada de Falmouth. Eu estava
com meu pai, e o seu falecimento deu-se
numa sexta-feira. Pouco antes nós tinha-
mos alugado um andar não mobilado numa
casa de andares, e um conhecido de Corn-
wall, chamado Phillip Samuel, um polaco,
tinha sido convidado por meu pai para
cear connosco. Depois da ceia pedi-lhe
que ficasse essa noite em nossa casa e no
dia seguinte nos acompanhasse à Sinagoga.
Pouco tempo depois eu estava deitado e
fui despertado pelos gemidos de meu pai
e sai apressadamente à meia-noite-a esta
hora, em Lisboa, as ruas estão cheias de
milhares de cãis, os quais vivem dos restos
de animais e sobejos de comidas que cada
noite despejam das janelas de cada casa.

Apressadamente me dirigi nessa terrivel
noite para a morada da Sr.a júlia Delivant,
uma velha amiga de Londres, e como che-
guei a sua casa, foi quási um mistério, por
causa do ladrar e dos ataques dos cãis e
coberto como estava com os despejos arre-
messados das casas; e depois despertei os
inquilinos e chamei um doutor, o qual
declarou que a vida se extinguira, a família
do Sr. Schemeya Cohen levantou-se, e os
criados, dos quais o cozinheiro se chamava
Benrimo, ficaram comigo toda a noite
velando. Meu pai tinha cerca de 55 anos
de idade quando faleceu. O Sr. Phillip
Samuel ficou comigo, e nunca me deixou
até que liquidei, com o seu auxilio, todos
os negócios de meu pai que requeriam
cuidado, isto gastou mais dum ano, e
então regressei a casa de minha mãi em
Falmouth.

-Pág. 12-

Desapontamentos em assuntos comerciais
perseguiram Phillip, e meu tio Lyon Joseph
aconselhou-o a ir para Portugal, onde meu
tio bem como meu pai, tinham relações



comerciais e por isso recebeu cartas de
recomendação para Schemeya Cohen, o mas
rico residente em Lisboa.

Phillip era um cavalheiro elegante,
usando barba preta. Mas, nestes dias, nin-
guem excepto judeus usavam na Europa
barbas, e a bordo do navio, em que era
passageiro, êle pensou na impressão e pre-
conceitos que a sua barba levantaria entre
os portugueses e, antes de sair do navio,
rapou a barba. Depois arrependeu-se disso
porque conheceu que neste tempo também
muitas familias judaicas da melhor classe
mercantil residiam em Lisboa, e descendiam
de velhas familias judaicas que se tornaram
aparentemente cristãs, observando exterior-
mente cerimónias para salvarem a fortuna
e as familias dos cruéis carniceiros da Santa
Inquisição; mas na vida privada familiar
êles sempre ficaram judeus até que chegasse
a oportunidade de disporem das suas posses
e propriedades. e emigraram para a Holanda,
Germânia e outras regiões; o Phillip chegou
a familiarizar-se com algumas destas fami-
lias de cripto-judeus, e era sempre recebido
por êles como um amigo.

Eu lembro-me, num sábado à noite,
virem dois cavalheiros a casa do Sr. Cohen
preguntar-lhe a data de Kipur, e êles incli-
naram-se respeitosamente perante a Arca;
um ajoelhou e chorou como uma criança.

Eu parti no ano de 1820 para Palmouth.
O meu pobre amigo Phillip continuou as
suas actividades comerciais e recebeu duma
casa francesa uma consignação de relógios
de ouro. Êle era sempre caritativo, e um
rapaz pobre, órfão, foi-lhe recomendado
para o auxiliar nos seus negócios comerciais.
Ele tomou o rapaz para sua casa e confiança.
e um dia, ao regressar a casa, notou que o
rapaz aparentava uma certa perturbação.

Ele disse que tinha abandonado a casa
por pouco tempo e na sua ausência alguém
entrara e roubara o stock de relógios de
ouro. O pobre Phillip ficou desnorteado e
foi à policia, acompanhado pelo rapaz, que
contou a sua história. Algumas semanas
depois o Sr. Samuel era avisado que devia
ir pessoalmente preguntar em todas as ouri-
vesarias para ver se podia encontrar qual-
quer indicio, e êle disse ao rapaz que fosse
com êle. Em frente duma casa o rapaz


 
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