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N.º 099, Sivan-Tamuz 5700 (Mai-Jun 1940)







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               HA-LAPID                3
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de soldados muçulmanos e cristãos e partiu
para a África (531 da Hegira e 1137 ou
principios de 1138 da era vulgar).

A Espanha muçulmana, privada das suas
melhores tropas, ficara, pode dizer-se, des-
guarnecida. Os governadores dos castelos
e das cidades, sempre predispostos à rebe-
lião passavam a proceder como senhores
independentes.

Os árabes davam o nome de Andaluz à
península Hispânica, e à sua parte ocidental
o de Algarve, que significa Ocidente. Os
autores judeus designavam pelo nome
sepharad a parte da Península ocupada
pelos mouros; e pelo de Edom a parte
ocupada pelos cristãos.

O Algarve dividia-se em três provincias:
a de Balata com as cidades de Santarém.
Sintra e de Lisboa: a de Alcácer com as
cidades de Alcácer, Évora, Badajoz, Xerez,
Mérida, Alcântara e Cória; e a de Alcunu
com as cidades de Faro, Mértola e Silves.
Este nome de Alcunu é o antigo nome de
Cuneus dado pelos geógrafos gregos e
latinos à região habitada pelos cunetes ou
cynetes. e adoptada pelos mouros.

A ambição dos emires, as dissenções
interiores e a guerra civil tinham acabado
por fraccionar o grande império hispano-
-muçulmano numa quantidade de pequenos
estados, após o fim dos últimos Omeyadas.
Os historiadores árabes chamam a estes
tempos a época dos rasgamentos.

O quadro, que do estado das cousas
públicas naquele tempo nos deixaram os
escritores árabes, ou contemporâneos ou
mais próximos, é, na verdade, lastimoso.
A ruina do país, aos olhos das pessoas
prudentes, parecia inevitável; porque a
decadência moral era extrema. Os homens
de probidade e ciência viviam desprezados
e esquecidos, e os que se apoderavam das
magistraturas públicas ajuntavam à cobiça
e ao orgulho completa incapacidade. No
meio de guerras civis, feitas sem entusiasmo,
sem glória e só por causas abjectas, ao
Passo que a agricultura se definhava e as
artes esmoreciam, o povo deixava aos ambi-
ciosos tratarem das armas, e os homens de
guerra habituavam-se a combater mais com
os enrêdos, do que com o ferro. A paz
desaparecera completamente, e ninguém
Podia contar com a própria segurança.
Corria-se evidentemente para a dissolução
da sociedade através das discórdias intesti-



nas, e por assim dizer, no país de Andaluz
eram já tantos os potentados, quantas as
povoações que havia nêles.

A guerra civil de fundamento religioso
era quási, pode dizer-se, o regime normal
das populações muçulmanas.

Emquanto no Norte de África almóadas
e almorávidas se batiam com furor, desde
que Texufin, em 1137, correra a socorrer
seu pai o Emir Aly, senhor da Mauritânia e
Andaluzia, que se achava em situação deses-
perada, em Espanha houve uma série inin-
terrupta de rebeliões provinciais, em que os
rebeldes aproveitavam as circunstâncias para
se proclamarem independentes.

Afirmam os historiadores árabes, que o
primeiro a sublevar-se no Andaluz foi Ibn-
-Caci, o mais famoso de todos os rebeldes.

Hamed ibn Husein ibn-Caci, também
chamado Abul Kassím Rumi, era um moçá-
rabe, natural de Silves, que havia abando-
nado a religião de seus pais, convertendo-se
ao islam e adoptando a doutrina de Algazali.
a mesma que inspirara o mahdi dos almóadas.

Um escritor árabe, ibn-Al-Catibe, diz-nos
que ibn-Caci, na mocidade, ainda em vida
de seus pais, vivera com prodigalidade,
"até que a luz da verdade o iluminou, e
então deu em esmolas os seus bens e foi
pelo Andaluz em peregrinação santa. Foi
êle que edificou um mosteiro numa alcaria
importante, no têrmo de Silves; nêle se
reüniam os seus partidários, que foram para
o país uma fonte de desgraças".

"Êle quis ter o império e chamou-se
Madi. As suas mentiras foram muitas:
assim, que êle tinha feito a peregrinação a
Meca durante uma noite; que transmitia
mentalmente o pensamento que queria; que
gastava dinheiro do tesouro de Deus.
Quando andava em peregrinação, a gente
corria para êle, e uma multidão de eremitas
e de gente de guerra tomou o seu partido."

Ibn-Caci apresentando-se como Mahdi
(chefe messiânico, dirigido por Deus, que,
segundo a crença muçulmana, havia de
trazer a felicidade aos homens e fazer
triunfar a verdade e justiça) fizera-se chefe
da seita dos muridas (aquéles que conhe-
cem a vontade de Deus).

Perseguido pelos almorávidas oculta-se
e continua com a sua acção expansiva,
aproveitando-se das agitações que convul-
cionavam o país.

                          (Continua).


 
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