2 HA-LAPID conservavam-se na fé e nos costumes dos seus maiores e viveram, condenados aos misteres inferiores pela proibição da posse de terreno; sóbrios, económicos, previdentes, entre povos nascentes, imprevidentes e estouvados; amaldiçoados como heréticos, desprezados como estrangeiros, invejados em virtude das suas aptidões comerciais, detes- tados por causa de alguns usurários de entre eles, que faziam o comércio do dinheiro, assim continuaram, vitimas dos massacres nos dias de desgraças nacionais. Durante dezanove séculos a sua vida foi um longo martírio por toda a terra. Êles contudo esperavam a hora das reparações; esperavam o Méssias que lhes havia de tra- zer a pátria perdida e implantar a Justiça e a Paz por todo o Universo. A França da Revolução não lhes entregou a pátria perdida, mas deu-lhes os Direitos do Homem, que a Inglaterra já lhes tinha concedido, e que a livre América, a Alema- nha e os países da Europa Ocidental lhes concederam em seguida. Se em toda a parte os judeus tivessem sido tratados como o são na França, na Inglaterra, na América e na Alemanha, a questão judaica, como questão nacional, já estaria resolvida. Para os judeus franceses a questão está solucio- nada. Não são eles hoje judeus, mas simples- mente franceses judeus, franceses de lingua- gem, de cultura e de coração: a França não conta nos seus exércitos defensores mais corajosos. Neste grande Oriente nacional frances, onde já se tinham fundido numa liga tão harmônica celtas, latinos e germanos, vie- ram eles integrar-se tão profundamente, o seu sangue está tão ligado ao sangue frances em todos os campos de batalha, que consti- tuem hoje parte integrante e inseparável da pátria francesa. Mas se o problema judaico está resolvido para os judeus da França, da Inglaterra, da Alemanha e da América, está muito longe de ter encontrado a sua solução na Rússia, na Romania e na Polónia. Obter-se-á, quando se tratar da paz, sôbre o papel, a solene promessa desses países de que os seus ju- deus cessarão de serem tratados como párias, mas na realidade continuará durante dezenas de anos a suportar sofrimentos morais e ma- teriais atrozes. A perseguição despertou e alimentou em alguns milhões deles a consciencia nacional, que já não se aplaca apenas com algumas vagas promessas. Por muito tempo considerei como qui- mera esse sonho dos judeus "sionista" que reclamam a entrega da pátria dos seus ante- passados. Em vários pontos da Palestina estabeleceram-se colônias modelos em que os judeus provaram que, após dois mil anos de vida urbana, não perderam nenhuma das qualidades dos antigos camponeses da Ga- lileia e da Judeia. Como esperar, porém, que a Palestina viesse a recuperar a sua autonomia, enquanto estivesse sob o domínio turco? Mas eis que a Turquia se suicida; a Europa está prestes a apoderar-se do terri- tório em que os conquistadores turcos, du- rante seis séculos de domínio, não conse- guiram fundar uma nação fundindo-se com os indígenas e a Palestina vai cair em lote à França republicana. A França da Revolução deu aos judeus a dignidade humana: mas é necessário que a França vitoriosa vá mais longe; é necessário que ressuscite a Nação Judaica; é necessário que à sua voz, todos os judeus da Rússia, da Romania, da Polónia e da Ásia Menor, que todos os judeus que conservaram uma alma nacional, vão ocupar depois da paz, a terra dos seus avós. É necessário que a guerra de libertação das nações termine pela ressurreição da mais antiga das nações que a Força brutal dis- persou e que a Força brutal não conseguiu dominar. GUSTAVE HERVÉ. Do Jornal de Paris La Guerra Saciale. (Transcrito do Boletim do Comité Israelita de Lisboa. de 28 de Março de 1915). ------------------------------------------- Notícias da América-Central O venerando Rab Fajbusz Szulem Dembinski, guia espiritual da Congregação de Judeus H'assidim, que durante a sua estadia no Pôrto, deixou a melhor impressão, não só pela sua bondade, como pelo Seu alto sentimento religioso, escreveu ao 1.° Secretário da nossa Comunidade, não só referindo-se às aten- ções aqui recebidas, mas também comunicando que se encontra em Havana (Cuba), onde não só pelos judeus, mas também pela população local tem sido respeitosa e carinhosamente acolhido.
N.º 112, Ab-Elul 5702 (Jul-Ago 1942)
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