2 HA-LAPID ========================================= A misteriosa personalidade de Bernardim Ribeiro (O TROVADOR D0 AMOR E DA SAUDADE) POR A. C. DE BARROS BASTO CAPÍTULO I Os primeiros passos duma investigação (CONTINUAÇÃO DO NÚMERO 116) Teófilo Braga. no seu livro Bernardim Ribeiro e o Bucolismo (Edição de 1872) considera só parte autêntica da Menina e Moça (31 capitulos) e diz que a parte apó- crifa da novela em nada interessa para a reconstrução da vida de Bernardim. D. José Pessanha. na sua edição da Me- nina e Maça, em 1891, escreve: -"Depois de Faria e Sousa, todos os biógrafos de Bernardim Ribeiro o têm dado como jurista. Efectivamente, segundo uns apontamentos que devo aos Srs. Gabriel Pereira e Dr. Augusto Mendes Simões de Castro, cursava a Universidade de Lisboa, pelos anos de 1507 a 1511 ou 1512, um estudante de nome Bernardim Ribeiro. Talvez que êsse estudante seja o individuo de igual nome, que em 1524 foi nomeado escrivão da Câmara de D. João III.-O nome de Bernardim Ribeiro aparece no Livro primeiro da Universidade de Lisboa, a fls. 28, 53, 79, 92, 107 v., 108v. e 111v.". -Se é Bernardim, o poeta, tinha em 1507, segundo a minha hipótese, 16 anos de idade, sendo admissível que se trate do nosso Bernardim. Nesta edição de 1891 a Menina e Moça compreende apenas 31 capitulos, e diz o editor: Nesta edição entram só capí- tulos autênticos. O Visconde Sanches de Baena, em 1895 publicou um opúsculo sobre Bernardim Ribeiro, onde traz um documento jurídico datado de 1642, e uma genealogia da fami- lia Zagalo por D. Flamínio de Jesus Maria. Não consegui ler éste opúsculo, mas Teófilo Braga no seu livro Bernardim Ribeiro e o Bucolismo (Edição de 1897), diz-nos: "Se- guiremos em tôda a exposição da vida de Bernardim Ribeiro as indicações genealó- gicas coordenadas e documentadas pelo Sr. Visconde Sanches de Baena, no seu pre- cioso opúsculo publicado em 1895", e por isso estudarei os elementos que Teófilo Braga me dá. Diz Teófilo Bragaz-"um dos criados do Duque de Viseu, recebedor das rendas da casa primeiramente e depois empregado seu particular, era Damião Ribeiro, natura] da vila de Torrão; ai vivia casado com D. Joana Dias Zagalo, tendo já dois filhos, Bernardim Ribeiro, nascido em 1482, e uma menina, que por ventura morreu de pouca idade. Diante da terrível catastrofe de 22 de Agôsto de 1484, Damião Dias conseguiu esconder-se, para passar a fronteira e refu- giar-se em Castela, aonde os reis católicos em hostilidade contra D. João II davam asilo aos foragidos de Portugal. Qual a importância que Damião Ribeiro tivesse na conjuração do Duque de Viseu, seu amo, depreende-se do rancor de D. João II, man- dando um sicário seu assassina-lo em Cas- tela. Entregue à incerteza da sorte, com seus dois filhinhos e diante duma sangrenta perseguição, D. Joana Dias Zagalo, duma familia rica de Extremoz, procurou um re- fúgio junto de seus sobrinhos o desem- bargador António Álvares Zagalo e irmã D. inês Alvares Zagalo, que viviam na Quinta dos Lobos, cabeça do morgado de Sintra..." Dos documentos do processo remetido à Junta da Casa de Bragança, informou o desembargador Rodrigo Rodri- gues de Lemos: "que Bernardim Ribeiro nasceu em 1482, e era filho de Damião Ri- beiro, criado dos duques de Viseu, que caido em desgraça por causa das desaven- ças de seu amo com El-Rei D. João II, teve de se refugiar em Castela e lá morreu pouco depois com suspeitas de morte vio- lenta. "Bernardim Ribeiro com sua mãe e Irmã se socorreram do amparo de seu parente o desembargador da Casa da Suplicação An-
N.º 117, Sivan-Tamuz 5703 (Mai-Jun 1943)
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