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N.º 117, Sivan-Tamuz 5703 (Mai-Jun 1943)







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 4             HA-LAPÍD
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menino que estava envolto em tais panos
(e certamente o menino era tal) que muito
ali diziam mal.

A cabra aqui representa a ama da
criança, cujas roupagens deviam ter letras
ou emblemas judeus e certamente, como êle
diz, o menino era tal dos que ali muito
diziam mal, isto vem favorecer a minha
hipótese. Sancho devia ser uma das pessoas
que por ordem de El-Rei D. João II se apo-
derou do filho de Judah Abrabanel e tomou
conta dêle em sua casa.

Na Ecloga diz Sancho que o levou à sua
Teresa, certamente sua esposa, o que nos
indica que se êste é Sancho Tavares só casou
com Inês Zagalo após a morte da sua Te-
resa. Descreve Sancho todo o periodo da
meninice de Bernardim até à idade de poder
ajudar à missa ao clérigo. Mas sendo San-
cho Tavares, proprietário em Extremoz vi-
veria bastante tempo no Torrão para que o
filho adoptivo (hijo en el amor) podesse
ser considerado como natural dessa terra?
Ou passaria a viver com outra familia do
Torrão? Não sabemos.

Não me repugna acreditar que D. Joana,
filha de Sancho Tavares fosse a primeira
namorada de Bernardim, visto que êle pró-
prio confessa dever-lhe muitos favores, e
também facilmente se compreende que a
familia de Joana a quisesse casar com outra
pessoa diferente de Bernardim, cuja origem
conhecia.

Delfim Guimarães, nos seus livros "Ber-
nardim Ribeiro-o poeta Crisfal" e "Teó-
filo Braga e a lenda Crisfal", diz:

-"Bernardim Ribeiro é um dos astros
fulgurantes da rútila constelação que brilha,
intensa e perduràvelmente, no céu de Portu-
gal, e ainda hoje nos deslumbra o seu
fulgor..."

"O Cancioneiro Geral, publicado em
1516, começou a imprimir-se em Almeirim
e foi concluido em Lisboa, trabalho que
levou dois anos a ser executado. É natural
supor que Garcia Resende, na organização
dos materiais para o seu volumoso in-folio,
não consumiu menos que dois a três anos,
e assim pode deduzir-se que à data de 
1511-12 já Bernardim Ribeiro era poeta
conhecido e apreciado."

"Os amores infelizes do poeta por Joana
ou Aonía são o tema exclusivo das suas
éclogas e da sua novela, e de grande nú-
mero das cantigas com que Bernardim Ri-



beiro enriqueceu o lirismo português. A
paixão do poeta serviu também de assunto
a algumas das melhores composições que
nos legou o seu amigo, confidente e colega
Francisco de Sá de Miranda."

Da Universidade devem ter datado as
relações da funda amizade que uniram por
longos anos os poetas Sá de Miranda e
Bernardim Ribeiro.

"Entre os 31 capitulos que constituem
a primeira parte, ou o chamado Primeiro
livro das Saudades de Bernardim Ribeiro, e
os 58 capítulos da parte segunda, a dife-
rença do estilo é tão manifesta, salta aos
olhos por forma tal, que o mais rudimentar
critério de estudantinho do liceu, sem grande
estudo, conclui pela diversidade do autor.

Na segunda parte, dois escribas anóni-
mos procuraram imitar a prosa correntia e
adorável de Bernardim Ribeiro; mas falhos
de talento e falhos de cultura, não conse-
guiram outra coisa  mais do que encher
algumas dezenas de páginas com um amon-
toado de baboseiras sem nexo, despidas de
todo o interêsse, e em que os episódios
cheios de ingenuidade e frescura da primeira
parte são pastichados por uma forma ignóbil".

Delfim Guimarães, depois de ter demons-
trado que a Ecloga Crisfal é da autoria de
Bernardim. diz:

"Alcançada a convicção de que Crisfal
era um anagrama de Bernardim Ribeiro, e
norteados pelo conhecimento de que nas
suas produções o poeta mudava constante-
mente os seus nomes pastoris, com um pe-
queno trabalho de raciocinio não nos foi
dificil deduzir a constituição do criptograma
que era formado pelas primeiras sílabas das
palavras Crisma e Falso."

Aqui discordo, em parte, de Delfim Gui-
marães pois para mim o nome Crisfal é
formado pelas primeiras sílabas das pala-
vras Cristão Falso.

José Pereira de Sampaio (Bruno) afir-
mava que Delfim Guimarães estava com a
verdade que o trovador Cristóvão Falcão
era simples produto duma lenda, que o
criptónimo Crisfal pertencia a Bernardim
Ribeiro.

Em nenhum dêstes autores referidos
encontrei qualquer elemento seguro que de
qualquer forma viesse contrariar, em todo
ou em parte, a minha hipótese, antes porém
de fazer a exegese da Menina e Moça e das
e das éclogas de Bernardim e do seu amigo


 
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