HA-LAPID 3 ========================================== tónio Zagalo e de sua irmã D. Inês, a qual os levou para a vila de Sintra e os trouxe recolhidos em segrêdo por algum tempo na quinta denominada dos Lobos..." Este documento de 1642 refere-se ao Dr. Bernardim Ribeiro, que mais tarde foi em 1524 nomeado escrivão da Câmara de D, João III, e nêle nenhuma referência se faz ao nosso poeta cristão-novo. Êste Dr. Ribeiro morreu em 1552, nada tem que ver com o autor da Menina e Moça. O referido documento diz mais que D. Inês Zagalo foi escolhida por D. Manuel para ama de D. Beatriz, devendo pois ser a Enis da novela. Teófilo Braga informa que "com os Ribeiros, do Torrão se achavam ligados por casamentos os Mascarenhas..." e "Os Zagalos, a cuja estirpe pertencia a D. Joana Dias Zagalo, também nos apare- cem aparentados em épocas remotas com os Mascarenhas". Diz mais que D. Inês Álvares Zagalo, que vivera com o irmão na Quinta dos Lobos, casou em Extremoz com um rico proprietário Sancho Tavares, e para lá mudou a sua residência. Diz ainda que Sancho Tavares é o pastor Sancho referido na Ecloga Aleixo, de Sá de Miranda, e supõe que Sancho Tavares em 1504 viera para a côrte, quando sua mulher D. Inês Zagalo foi chamada para ser ama da nfanta D. Beatriz. Diz mais que D. Inês Alvares Zagalo do casamento com o rico proprietário de Extremoz tinha cinco filhos, entre os quais D. Joana Tavares (A Aonia encantadora da Novela; a Joana que é idealizada nas Eclogas) e D. Francisca Tavares, colaça da Infanta D. Beatriz. Segundo a genealogia da familia Zagalo por D. Flaminio de Jesus Maria, D. Joana Tavares "segundo consta de várias memó- rias" era assás formosa, o que não deixou de concorrer para sua desventura, porque há notícias dela se ter apaixonado por um seu parente, e ter sido, por interesse da fa- mília obrigada a casar com Pero Gato, filho de Nuno Gato e de sua mulher D. Inês Correia da Silva. Pero Gato dizem que falecera pouco tempo depois do seu casa- mento, e que essa morte fora violenta. D. Joana, depois de viúva, foi passa por algum tempo em casa de seu tio Alvaro Pires Zagalo, que residia em Alcácer-do-Sal, até que foi recolhida a um Convento e lá se finou professa". Teófilo Braga supõe que o parente por quem D. Joana se apaixonara era o nosso poeta. Diz Teófilo Braga: "É certo que em 1520 foi D. Joana Tavares Zagalo se achava na clausura do Convento de Santa Clara de Extremoz, por isso que em carta de 15 de Agosto de 1522 sua mãe fala dela como freira. Vamos analizar êstes elementos, no- tando se são úteis ou não à minha hipótese. No documento jurídico de 1642 diz-nos que Damião Ribeiro, natural do Torrão e casado com D. Joana Zagalo, de Extremoz, criado e homem de confiança do Duque de Viseu, depois da morte de seu amo teve de se refugiar em Castela, onde encontra pro- tecção por parte dos reis católicos, e lá morreu pouco depois com suspeitas de morte violenta. Sua mulher e um filho e uma filha se socorreram do amparo do seu parente o desembargador António Zagalo e de sua irmã D. Inês. Não nos diz o documento se sua mulher esteve com êle em Castela, e se foi depois da morte de Damião que regressou ao reino e foi pedir socorro aos parentes ou se fêz isto quando êle se ausentou. Se foi, como tantas outras famílias de refugiados. reunir-se a seu marido era natu- ral que ali se encontrasse com outros refu- giados e entre êles os Abrabaneis. Se assim fôr posso crer que D. Joana Zagalo, após a morte de seu marido qui- sesse regressar à sua terra, e fosse a tal ama, a quem Judah Abrabanel confiou o seu filho de um ano de idade. D. Joana era uma alentejana e os Abrabaneis viveram (talvez mesmo ali tivessem propriedades) pelo menos certo tempo. No Alentejo pois vemos na sentença de morte de D. Isaque Abrabanel são citadas Moura, Vidigueira e Arraiolos, e é desta data última que D. Isa- que foge ao mensageiro de D. João II, que o tinha ido buscar a Vidigueira, com ordem de o trazer em segurança até à presença de El-Rei. Diz Teófilo Braga que o pastor Sancho da Ecloga Aleixo, de Sá de Miranda é San- cho Tavares, grande proprietário de Extre- moz, Sancho conta na Ecloga como tomou como filho adoptivo o poeta Bernardim. Vamos ver como êle nos conta ésse caso: -Numa segunda-feira, em que chuvis- cava apesar de já não ser Inverno, Sancho perseguia uma cabra que fugia e viu um
N.º 117, Sivan-Tamuz 5703 (Mai-Jun 1943)
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