8 HA-LAPID ========================================= JUDAH HALEVI POR ISAAC JACOB LOPES MARTINS De entre a vasta pléíade de judeus hispâ- nicos cuja contribuição literária mais notá- vel repercussão teve em sua época e sendo ainda hoje admirável na sua grandeza, Ju- dah Halevi (Abu al-Hasan al-Lawi) nascido em Toledo nos fins do século 10.°, no ano de 1085/6 é sem dúvida uma das suas mais brilhantes figuras. Durante a conquista de Toledo pelo rei Afonso VI, foi Judah Halevi para Lu- cena a fim de ser educado pelo Rabi Isaac Alfazi. Tempos após, o seu mestre morria e Halevi com o coração entristecido por tal perda, compôs a Elegia "Diwan es Abul Hasan jehuda a-Levy", que podemos con- siderar as suas primícias literárias. Depois da morte do Rabi Alfazi. Judah Halevi foi aluno do Rabí Joseph ibn Migas- -Baruch Albalia e tornou-se o seu discípulo mais dilecto. Entretanto prosseguindo os seus estu- dos em Toledo, forma-se em medicina, indo mais tarde exercer clinica em Cór- dova. Considerado um dos mais inspirados poetas hebreus. Halevi dá-nos em páginas de suprema beleza, os seus Cantos de Sion, nos quais atinge o ponto culminante do êxtase divino, e faz renascer o lirismo ju- daico, descrevendo-nos com acrisolado amor, a glória e o explendor passados, a tristeza dum presente duro e cruel e a fé inabalável no ressurgimento e nas alegrias futuras de Israel. A sua obra poética ainda continua e Halevi dá-nos Zion Ha-lo Tisl'ali e Tal Orot, etc.. Judah Halevi não foi só um poeta admi- rável, mas também um filósofo de grande valia, deixando-nos entre outras obras o Cuzari ou Hauzari, contra o qual mais tarde se despenhou todo o ódio e fôrça do Santo Oficio... ...No Cuzari Judah Halevi, faz a apolo- gia filosófica do judaismo contra as pre- tenções e deturpações das crenças adver- sas... Historia-nos a conversão ao judaismo de Bugan, Chagan dos chazares, reino formado por tártaros cuja capital Atel era próxima da actual Astrakam, nas margens do Volga; compondo-se o seu território de quási tõda a Rússia do Sul. Pelo periodo de 250 anos foi êste reino judaico dos "Chazares" temido e acatado, mas no ano de 969 (e. v.) o duque de Kiev "Sviakoslaw" tomou a capital e obrigou-os a dispersarem-se formando diversas comu~ nidades no Sudoeste europeu. Haleví dá-nos neste trabalho em pági- nas de rara beleza a insofismável afirma- ção da superioridade do judaismo, exal- tando as nossas concepções monoteistas e as suas benéficas influências para a hu- manídade. Halevi que como bom judeu mantinha dentro de si bem viva a imagem da Terra Prometída, dirigiu-se após a morte de sua mulher, ainda com o coração estiolado pela dor, para a Cidade Santa, cantada pelo nosso rei David e exaltado por tantos ou- tros, pela sua beleza e grandiosidade onde morreu pouco depois de 1140. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Nós, jovens síonistas, devemos. como Judah Halevi fixar os nossos olhos em Sion. e dar aos nossos actos e pensamentos uma única finalidade: o ressurgimento da Nação Judaica. Longos e penosos séculos de tribula- ções e rudes provas se apresentaram diante de nós, não apenas os grandes trabalhos passados mas muitas mais desgraças, defi- ciências, enganos e decepções nos hão-de por certo ainda assoberbar. De escudo servir-nos-á a nossa fé e von- tade, de companheiras a constância e previ- dência que nos caracterizam. No nosso caminho mil obstáculos se le- vantam, porém, que importa? Mantendo-nos unidos e inflexiveis, Deus nos ajudará a vence-los. Então a Jerusalém poderosa de outrora despertará do seu torpor se séculos conce- dendo-nos dentro das suas muralhas o repouso e abrigo por tanto tempo ambi- cionados.
N.º 125, Kislev-Tevet 5705 (Nov-Dez 1944)
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