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Ha-Lapid הלפיד


N.º 127, Shevat-Adar 5705 (Abr-Jun 1945)







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 2            HA-LAPID
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       A CONFERÊNCIA SIONISTA

           (CONTO JUDAICO)

No Suk (mercado) de Tunes, a notícia
espalhou-se como um rastilho de pólvora:
um missionário da Rússia longinqua, esta
noite falará da reconstituição da Palestina
judaica.

A conferência será feita em hebreu?
Informações tomadas, o missionário, conhe
cendo admiràvelmente várias línguas. ex-
prímir-se-á em francês. para ser compreen-
dido da maioria do auditório.

-E' uma impiedade! protestou o velho
Eliezer. E que miséria de ter chegado a
isso! A única mensagem que possam de-
centemente receber os judeus concernente
à ressurreição da sua pátria deve ser em
hebreu, senão não faria nenhum sentido.
Nós profanamos os nossos pensamentos
traduzindo-os num idioma estrangeiro.
Oh Elohim! para que possa merecer a ale-
gria que tu lhe anuncias, é preciso que o
teu povo retome a sua língua sagrada.

E os seus colegas do Suk, de pé diante
das suas estreitas lojecas. abanaram com a
cabeça em sinal de acôrdo.

-Os tempos estão muito mudados,
Eliezer, respondeu um dêles. Nós não
tinhamos, adolescentes, outra distracção
que os comentários do nosso Livro Sagrado.
outros cantos senão os Téhellim (Salmos).
Presentemente, os nossos filhos deleitam-se
na leitura de livros profanos. E os seus
lábios desaprenderam as nossas orações.

-Como pode a Palestina renascer?
exclamou Eliezer, que uma sagrada cólera
animava. O que nos permitiu triunfar do
ódio dos Goim (os não judeus), não foi a
fé que vós nos infundistes, que vós man-
tinheís em nós, oh profetas de palavra
ardente!

-Eu não irei à reünião, decidiu um
outro. Que poderia eu lá compreender?
Mas que prazer teria sido se o orador
devesse falar em hebreu!

Eliezer, silencioso, penteando com seus
dedos pálidos a sua longa barba, pensava.
êle íria à conferência com o seu neto Sous-
sou, o qual, com onze anos de idade, aca-



bava de obter o seu diploma de instrução
primária. O seu neto, do qual era tão
vaidoso porque êle sabia de cor tôdas as
orações dos dias de semana e de festa e
tomava parte nas controvérsias piedosas do
sábado na velha Sinagoga do bairro.

E à noite, para lá se dirigiram de mãos
dadas.

Como era preciso pagar dois francos
pelo bilhete. Eliezer, não pediu senão um.
A' porta da vasta sala do cinema, empres-
tada benevolamente pelo proprietário israe-
lita, a porteira deteve-o.

-Vós sois dois e só me entregais um
bilhete?

Eliezer sorriu sob a sua barba ama-
relada.

-Eu só tomei um bilhete porque só
conto ocupar um lugar.

-Mas o pequeno?

-Eu o farei assentar sôbre os meus
joelhos.

-É preciso pagar por êle, apesar disso.

-E porque é isso?

E os olhos do velho brilharam com uma
alegria maliciosa: o seu espírito pronto
acabava de encontrar o argumento sem
réplica.

-Quando se compra um terreno, não
se é livre dali construir uma morada dum
ou dois, ou mesmo três andares?

E deixando a porteira espantada, sob os
risos divertidos da multidão. êle entrou
seguido de Soussou um pouco inquieto.

Uma pesada nuvem de tabaco o aco-
lheu ao mesmo tempo que um sussurro.
Êle teria estimado que se entrasse neste
lugar também como num templo. A sala
estava já cheia. indicaram-lhe o seu lugar:
uma poltrona. Nela se sentou à vontade.
o seu neto de pé entre os seus joelhos.

-Quando estiveres fatigado meo dirás
Soussou, eu te farei assentar.

Em frente déle, ao fundo da sala oblonga
que a perspectiva estreitava. um largo es-
trado sustentava uma mesa bordada com
uma fileira de cadeiras.


 
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