2 HA-LAPID =========================================== A CONFERÊNCIA SIONISTA (CONTO JUDAICO) No Suk (mercado) de Tunes, a notícia espalhou-se como um rastilho de pólvora: um missionário da Rússia longinqua, esta noite falará da reconstituição da Palestina judaica. A conferência será feita em hebreu? Informações tomadas, o missionário, conhe cendo admiràvelmente várias línguas. ex- prímir-se-á em francês. para ser compreen- dido da maioria do auditório. -E' uma impiedade! protestou o velho Eliezer. E que miséria de ter chegado a isso! A única mensagem que possam de- centemente receber os judeus concernente à ressurreição da sua pátria deve ser em hebreu, senão não faria nenhum sentido. Nós profanamos os nossos pensamentos traduzindo-os num idioma estrangeiro. Oh Elohim! para que possa merecer a ale- gria que tu lhe anuncias, é preciso que o teu povo retome a sua língua sagrada. E os seus colegas do Suk, de pé diante das suas estreitas lojecas. abanaram com a cabeça em sinal de acôrdo. -Os tempos estão muito mudados, Eliezer, respondeu um dêles. Nós não tinhamos, adolescentes, outra distracção que os comentários do nosso Livro Sagrado. outros cantos senão os Téhellim (Salmos). Presentemente, os nossos filhos deleitam-se na leitura de livros profanos. E os seus lábios desaprenderam as nossas orações. -Como pode a Palestina renascer? exclamou Eliezer, que uma sagrada cólera animava. O que nos permitiu triunfar do ódio dos Goim (os não judeus), não foi a fé que vós nos infundistes, que vós man- tinheís em nós, oh profetas de palavra ardente! -Eu não irei à reünião, decidiu um outro. Que poderia eu lá compreender? Mas que prazer teria sido se o orador devesse falar em hebreu! Eliezer, silencioso, penteando com seus dedos pálidos a sua longa barba, pensava. êle íria à conferência com o seu neto Sous- sou, o qual, com onze anos de idade, aca- bava de obter o seu diploma de instrução primária. O seu neto, do qual era tão vaidoso porque êle sabia de cor tôdas as orações dos dias de semana e de festa e tomava parte nas controvérsias piedosas do sábado na velha Sinagoga do bairro. E à noite, para lá se dirigiram de mãos dadas. Como era preciso pagar dois francos pelo bilhete. Eliezer, não pediu senão um. A' porta da vasta sala do cinema, empres- tada benevolamente pelo proprietário israe- lita, a porteira deteve-o. -Vós sois dois e só me entregais um bilhete? Eliezer sorriu sob a sua barba ama- relada. -Eu só tomei um bilhete porque só conto ocupar um lugar. -Mas o pequeno? -Eu o farei assentar sôbre os meus joelhos. -É preciso pagar por êle, apesar disso. -E porque é isso? E os olhos do velho brilharam com uma alegria maliciosa: o seu espírito pronto acabava de encontrar o argumento sem réplica. -Quando se compra um terreno, não se é livre dali construir uma morada dum ou dois, ou mesmo três andares? E deixando a porteira espantada, sob os risos divertidos da multidão. êle entrou seguido de Soussou um pouco inquieto. Uma pesada nuvem de tabaco o aco- lheu ao mesmo tempo que um sussurro. Êle teria estimado que se entrasse neste lugar também como num templo. A sala estava já cheia. indicaram-lhe o seu lugar: uma poltrona. Nela se sentou à vontade. o seu neto de pé entre os seus joelhos. -Quando estiveres fatigado meo dirás Soussou, eu te farei assentar. Em frente déle, ao fundo da sala oblonga que a perspectiva estreitava. um largo es- trado sustentava uma mesa bordada com uma fileira de cadeiras.
N.º 127, Shevat-Adar 5705 (Abr-Jun 1945)
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