HA-LAPID 3 =========================================== No meio dos aplausos o conferente subiu os degraus, escoltado pelos notáveis da cidade. Eliezer reconheceu-o sem hesitação. Êle parecia bastante jovem. De alta estatura, cabeleira castanha, tez mate, ele fixava a sala com seus grandes olhos, que uma estranha flama iluminava. O seu rosto era ímberbe. Eliezer notou para si próprio: porque e que êle tinha tirado a barba e os bigodes? Contudo, está escrito: "Tu não mutilarás o rosto que o Eterno te fêz". Estes bigodes rapados eram uma sombra no quadro. Um pouco do prestígio do missionário estava perdido aos olhos de Eliezer. O orador falou... -Escuta com atenção. recomendou o velho ao seu neto, afim de que em casa tu possas repetir-me tudo que ele vai dizer. E o jovem Soussou estendeu as suas orelhas, abriu muito os seus olhos para nada perder da palavra do colosso louro. Êle falou com arrebatamento, com deli- rio. As suas frases marteladas alargadas por gestos amplos, comoveram tôda a sala. E o velho Eliezer aspirava com as suas grossas narinas peludas estas frases miste- riosas cuja violência o embriagava. O conferente combateu, reduziu a nada as objecções dos inimigos da causa judaica. Alternativamente, ele empregou a ironia mordaz, o rigor matemático. Para con- vencer os cepticos e agitar os indolentes, ele fêz apêlo ao passado grandioso do povo de Israel, tirando dali um ensina- mento, tirando dali uma fé. Sôbre as cabeças moles dos ouvintes êle fêz soprar um vento de entusiasmo que os agitou. Os aplausos saüdaram a sua magnifica palestra. E o velho Eliezer misturou a sua alegria comovida à dos outros; porque bem que não tivesse nada. oh! mas nada apanhado das palavras do conferente, pelo menos tinha-se deleitado-éle, o subtil talmudista-no choque das ideias, na con- trovérsia pressentida, nas vibrações das frases sonoras. Êle tinha esquecido éste detalhe dos bigodes rapados e não via já o orador senão atraves duma aura que o fumo do tabaco contribuia a formar. Era um profeta ressuscitado dos seculos anti- gos, um Isaias... No caminho, o Soussousinho repetia o melhor possível as palavras do missionário. E Eliezer pensava que seria doce para ele ir morrer na Terra Santa afim de que os seus velhos ossos aí durmam o seu último sono de se ir embora não só, como tinha julgado até agora, mas em companhia do seu neto que iria criar o seu futuro na sua pátria, reencontrada. E ele já se alegrava pensando que tôdas as sextas-feiras ao escurecer, sôbre o seu túmulo o seu neto viria piedosamente dizer uma hashkabah (oração pelos mortos) ... RYVEL. ---------------------------------------- Judeus em Hadhramaut (O tipo meridional da Península Árabe) Um grupo de 233 emigrantes Yemenitas chegaram à Palestina no dia 20 de Março, entre os quais vinha uma família de sete Judeus de Hadhramaut, onde vivem 400 famílias judaicas. E' tirada do DAVAR do dia 26 de Março a seguinte descrição dos visitantes de Hadhramaut: São homens altos, usam mantos e turbantes brancos, os cabelos compridos. Têm o aspecto dos Judeus da antiguidade. Contaram, em puro Hebreu Bíblico, a história dos seus sofrimentos em Hadhramaut e as dificuldades que encon- traram no caminho para a Palestina. O seu amor a Pátria ancestral e a perseguição incessante a que está sujeita a tribo de Habani. "Durante seis anos, disse o chefe, -Yahya Awad Habani-a nossa terra foi desvastada por uma horrorosa fome, pro- vocada por uma constante seca. Os Judeus sofreram o máximo". "As autoridades locais, disse Yahya Awah, oprimem os Judeus. Cada dia que passa põe em perigo tôdas as vidas dos Judeus, e já foram ameaçados de expulsão! Os Judeus de Haban têm a crença tra- dicional de que estarão entre os primeiros que serão exilados depois da queda do Segundo Templo. Segundo uma estima- tiva moderada, existem entre 700 a 800 Judeus em Haban. A maioria estão em-
N.º 127, Shevat-Adar 5705 (Abr-Jun 1945)
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