8 HA-LAPID =========================================== Seitas dos Rabbanitas e Karaitas, que rija- mente se impunhavam, os judeus mais sen- satos tinham uma mediana entre elas, por- que nem acolhiam indistintamente tôda a casta de tradições, nem os rejeitavam abso- lutamente. Eles antepunham pelo comum a interpretação Literal da Lei Escrita às inteligências tradicionais dos Doutores; mas quando o texto admitia duas interpre- tações diversas, queriam, que se preferisse aquela, que se achava apoiado na Tradição Unânime de uns maiores, e nesta parte repreendiam os Karaitas por repudiarem semelhante Tradição, com o pretexto de ser contrária ao sentido Gramatical das Escrituras (veja-se Schichard no Bechinat há Peruschim, pág. 143, Leusden Philal Hebraeomix. Dinert. XVI pág. 111 e Ricardo Simão na Histor. critir. do V Test. liv. III, cap. V, pág. 373). Esta era a doutrina de Toledano Aben Esra um dos judeus de maior sabedoria, que teve a Sinagoga de Espanha no Sé- culo XII. Não obstante ter sido discípulo de Japhert Levita Karco, reconhecia no Comentário ao Pentateuco, que se havia seguir a Tradição Unânime dos Doutores em matéria controversa, ou nos luga- res da Escritura, que admitissem duas interpretações diversas; ao mesmo tempo. que fora dêste caso, queria que sem- pre se antefazesse a interpretação Lite- ral da Le¡ Escrita às tradições e doutri- nas dos maiores e se preferisse o estudo dos Livros Sagrados aos Livros Gemáricos. (Veja-se a sua obra intitulada jesod Mora ou Fundamento do Temor). CAPÍTULO IV Da Escola Nacional dos Judeus Portugueses Da Escola dos Rabbanim foram dis- cipulos em particular os nossos Judeus Portugueses nos primeiros tempos da Mo- narquia; nela iam aprender a Ciência Biblica, Talmúdica e Rabbinica, em que fizeram maravilhosos progressos, propa- gando muito êstes estudos pelas suas Juda- rias, e Sinagogas, que já desde tempos antigos haviam levantado por diversas partes dêste Reino. Academia de Lisboa-Foi muito no- meada a Academia, que êles tinham em Lisboa, que parece haver estado a princípio no Bairro da Pedreira entre a Igreia do Carmo e a da Trindade e mudar-se depois para o Bairro da Conceição. A ela con- corria um grande número de Judeus Na- cionais e Estrangeiros; e dela sairam os maiores Mestres dos Judeus, que tivemos em tempos passados, e as mais eruditas e elegantes obras, que então se escreveram de Literatura Sagrada. Tolerância dos nossos Príncipes.- A tolerância, que os Judeus acharam em nossos Príncipes e o particular favor e acolhimento, que lhes fizeram os Senhores Reis D. Afonso II. D. Sancho II. D. Diniz, D: Pedro I. D. João I. D. Afonso V, e ainda o Senhor Rei D. João II nos primei- ros anos de seu govêrno, folgado tempo lhes deu para poderem trabalhar com repouso de espirito no estabelecimento de suas Escolas, e na cultura dos estudos de sua Lei. Aumento da Academia de Lisboa com a vinda dos Judeus de Castela-A Aca- demia de Lisboa recebeu grande aumento com a vinda de inumeráveis Judeus de Espanha a êstes Reinos em diversos tem- pos, maiormente nos dois Reinados dos Senhores Reis D. Joãn I e D. João II, por ocasião das perseguições, que tiveram em Aragão e Castela, e pela expulsão e des- têrro de 1942, que depois fulminaram con- tra êles os Reis Fernando e Isabel. Pode-se dizer, que desde esta última época até o ano de 1497, se achava refugiada e domi- ciliária entre nós a Literatura Talmúdica e Rabbinica de quási tôda a Espanha, isto é, a maior parte, não só dos Mestres mais sábios da Nação, mas também dos Códigos públicos assim Mss., como impressos da Sinagoga e de muitos outros particulares do uso doméstico dos Judeus de tôda a Espanha. (Continua). ----------------------------------------- VIDA COMUNAL Celebraram-se na Comunidade do Porto as festi- vidades de Páscoa e Pentecostes (Shebnoth) na Sina- goga Kadoorie Mekor Haím, à Rua Guerra Junqueiro. O pão âzimo (Matsot) distribuído, era de fabri- cação americana.
N.º 127, Shevat-Adar 5705 (Abr-Jun 1945)
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