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N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)







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se não fizesse aclamar antes do meio
dia porque os astros apresentavam mau
agouro.

Sobre este caso escutemos o que nos
diz Rui de Pina, na sua Crónica de El-Rei
D. Duarte:

"Ao outro dia depois do falecimento
de El-Rei, que eram 15 dias de Agosto o
Infante D. Duarte depois de haver com os
Infantes seus irmãos conselho e deliberação
sobre a maneira que ao diante havia de
ter como principe mui católico e prudente
falou ante manhã com seu confessor aque-
las culpas de que sentiu sua consciência
gravada, e tomou o Santo Sacramento,
para com a limpeza da alma que devia,
tomar o ceptro real que o já esperava; e
estando-se para isso vestindo de ricos panos
e reais, como para tal dignidade e ao auto
seguinte convinha, chegou a ele Mestre
Guedelha, judeu, seu fisico e grande astró-
logo, e lhe disse:

-"Parece-me senhor, que vos apare-
lhais para logo entrardes na real sucessão
que vos por direito pertence, peço-vos por
mercê, que este auto dilateis até passar o
meio dia, e nisso prazendo a Deus fareis
vosso proveito, e será bom de vosso reino.
porque estas horas em que fazeis funda-
mento ser novamente obedecido mostram
ser mui perigosas, e de mui triste conste-
lação, cá Júpiter está retrógrado, e o Sol
em decaimento com outros sinais que no
Ceu parecem assaz infelizes."

O Infante lhe respondeu:

"Bem sei, Mestre Guedelha, que do
grande amor que me tendes vos nasceu
esses cuidados de meu Estado e serviço, e
eu não duvido que a astronomia seja boa,
e uma das ciências, entre as outras permi-
tidas e aprovadas, e que os corpos infe-
riores são sujeitos aos sobrecelentes; porém
o que principalmente creio, é ser Deus
sobre todo, e com sua mão e ordenança
são todas as coisas; e portanto este cargo
que eu com sua graça espero tomar, seu é,
e em seu nome, e com esperança de sua
ajuda o tomo, a Ele só me encomenda, e à
Bem-aventurada Virgem Maria Sua Madre
Nossa Senhora, cujo dia hoje é, e com
muita devoção e devida humildade peço a
Deus que me ensine, favoreça e ajude a
governar este seu povo, que me quer ora



encomendar, como sentir que seja mais
seu serviços."

E Mestre Guedelha tornou dizendo:

- "Senhor, a Ele praza que assim seja;
como quer que não era grande inconve-
niente sobreserdes nisso um pouco para se
tudo fazer prôsperamente, e como devia."

E o Infante lhe respondeu:

"Não farei pois, não devo, ao menos
por não parecer que mingua em mim a
esperança de firmeza, que em Deus, e sua
fé devo ter."

E logo Mestre Guedelha afirmou que
reinaria poucos anos, e esses seriam de
grandes fadigas e trabalhos, como foram,
segundo ao diante se dirá."

Na Crónica dos Berné- Yah'ia, referente
ao mesmo caso, está inscrito:

"E como disse assim foi porque poucos
e maus foram os dias do seu reinado.
Reinou somente cinco anos e vinte e sete
dias; todo o seu tempo houve peste, epi-
demias e guerras com os árabes em África,
onde capturaram seu irmão D. Fernando,
o qual amarraram com correntes de ferro
e morreu no cativeiro."

                   IV

El-Rei D. Duarte faleceu em Tomar a 9 de
Setembro de 1438, e foi aclamado herdeiro
da coroa portuguesa seu filho D. Afonso V
ainda de menor idade. No acto de acla-
mação dirigido pelo seu tio o Infante
D. Pedro aparece D. Ghedaliah que desta
vez também foi ouvido sobre o que predi-
ziam os sinais astrológicos, e cuja presença
foi considerada indispensável depois do
Horoscopo sobre D. Duarte, que tivera
tão triste realização.

Ouçamos Rui de Pina, na sua crónica
d'ElRei D. Afonso V. narrar o alevanta-
mento d'El-Rei.

-"Era 5.a-feira logo seguinte, 10 dias
do dito mês, o infante D. Pedro, como
príncipe a que das cerimónias reais e das
outras coisas em que caber descrição e
virtude nada se escondeu, fez fazer entre
o Convento e os Paços do Castelo da dita
vila um assentamento assim real e rica-
mente guarnecido, como para o auto cum-
pria-e à véspera do dia, o infante com
todos os fidalgos e nobre gente da córte


 
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