HA-LAPID 3 ===================================== se não fizesse aclamar antes do meio dia porque os astros apresentavam mau agouro. Sobre este caso escutemos o que nos diz Rui de Pina, na sua Crónica de El-Rei D. Duarte: "Ao outro dia depois do falecimento de El-Rei, que eram 15 dias de Agosto o Infante D. Duarte depois de haver com os Infantes seus irmãos conselho e deliberação sobre a maneira que ao diante havia de ter como principe mui católico e prudente falou ante manhã com seu confessor aque- las culpas de que sentiu sua consciência gravada, e tomou o Santo Sacramento, para com a limpeza da alma que devia, tomar o ceptro real que o já esperava; e estando-se para isso vestindo de ricos panos e reais, como para tal dignidade e ao auto seguinte convinha, chegou a ele Mestre Guedelha, judeu, seu fisico e grande astró- logo, e lhe disse: -"Parece-me senhor, que vos apare- lhais para logo entrardes na real sucessão que vos por direito pertence, peço-vos por mercê, que este auto dilateis até passar o meio dia, e nisso prazendo a Deus fareis vosso proveito, e será bom de vosso reino. porque estas horas em que fazeis funda- mento ser novamente obedecido mostram ser mui perigosas, e de mui triste conste- lação, cá Júpiter está retrógrado, e o Sol em decaimento com outros sinais que no Ceu parecem assaz infelizes." O Infante lhe respondeu: "Bem sei, Mestre Guedelha, que do grande amor que me tendes vos nasceu esses cuidados de meu Estado e serviço, e eu não duvido que a astronomia seja boa, e uma das ciências, entre as outras permi- tidas e aprovadas, e que os corpos infe- riores são sujeitos aos sobrecelentes; porém o que principalmente creio, é ser Deus sobre todo, e com sua mão e ordenança são todas as coisas; e portanto este cargo que eu com sua graça espero tomar, seu é, e em seu nome, e com esperança de sua ajuda o tomo, a Ele só me encomenda, e à Bem-aventurada Virgem Maria Sua Madre Nossa Senhora, cujo dia hoje é, e com muita devoção e devida humildade peço a Deus que me ensine, favoreça e ajude a governar este seu povo, que me quer ora encomendar, como sentir que seja mais seu serviços." E Mestre Guedelha tornou dizendo: - "Senhor, a Ele praza que assim seja; como quer que não era grande inconve- niente sobreserdes nisso um pouco para se tudo fazer prôsperamente, e como devia." E o Infante lhe respondeu: "Não farei pois, não devo, ao menos por não parecer que mingua em mim a esperança de firmeza, que em Deus, e sua fé devo ter." E logo Mestre Guedelha afirmou que reinaria poucos anos, e esses seriam de grandes fadigas e trabalhos, como foram, segundo ao diante se dirá." Na Crónica dos Berné- Yah'ia, referente ao mesmo caso, está inscrito: "E como disse assim foi porque poucos e maus foram os dias do seu reinado. Reinou somente cinco anos e vinte e sete dias; todo o seu tempo houve peste, epi- demias e guerras com os árabes em África, onde capturaram seu irmão D. Fernando, o qual amarraram com correntes de ferro e morreu no cativeiro." IV El-Rei D. Duarte faleceu em Tomar a 9 de Setembro de 1438, e foi aclamado herdeiro da coroa portuguesa seu filho D. Afonso V ainda de menor idade. No acto de acla- mação dirigido pelo seu tio o Infante D. Pedro aparece D. Ghedaliah que desta vez também foi ouvido sobre o que predi- ziam os sinais astrológicos, e cuja presença foi considerada indispensável depois do Horoscopo sobre D. Duarte, que tivera tão triste realização. Ouçamos Rui de Pina, na sua crónica d'ElRei D. Afonso V. narrar o alevanta- mento d'El-Rei. -"Era 5.a-feira logo seguinte, 10 dias do dito mês, o infante D. Pedro, como príncipe a que das cerimónias reais e das outras coisas em que caber descrição e virtude nada se escondeu, fez fazer entre o Convento e os Paços do Castelo da dita vila um assentamento assim real e rica- mente guarnecido, como para o auto cum- pria-e à véspera do dia, o infante com todos os fidalgos e nobre gente da córte
N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)
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