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N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)







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              HA-LAPID                5
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    OS JUDEUS EM PORTUGAL 
        (CONFERÊNCIA)

              POR DR. MAX AZANCOT

       (Continuação do n.° 131)

O Padre António Vieira é preso.
D. João IV é excomungado, e D. Luís da
Cunha, o célebre diplomata do tempo de
D. João V, arcedíago da Sé de Évora, que
representou Portugal em Londres, Madrid
e Paris, pôde escrever no seu Testamento
Politico, desmentindo a lenda do mercan-
tílismo judaico:

Da mesma sorte dissera que V. A.
acharia certas povoações quase desertas,
como por exemplo na Beira Alta, os
grandes lugares da Covilhã, Fundão e
cidades da Guarda e de Lamego; em
Trás-os-Montes, a cidade de Bragança;
e destruídas as suas manufacturas. E se
V. A. perguntar as causas desta dissolu-
ção. não sei se alguma pessoa se atre-
veria a dizer-lho com a liberdade que
eu terei a honra de fazê-lo; e vem a ser
que a inquisição prendendo a uns por
crime de judaísmo e fazendo fugir os
outros para fora do reino com os seus
cabedais, por temerem que lhos confis-
quem, se fossem presos, foi preciso que
as tais manufacturas caíssem, porque
os chamados cristãos novos as susten-
tavam e os seus obreiros que nela traba-
lhavam eram em grande número, foi
necessário que se espalhassem e fossem
viver em outras partes.

Tal como D. Luís da Cunha, António
Ribeiro Sanches, afirmava que fôra des-
truída a indústria de seda em Trás-os-Mon-
tes e a das lãs na Beira e no Alentejo.

Vencidos, expulsos e perseguidos pelos
seus compatriotas desapareceram da vida
pública do Pais os judeus que tinham
ajudado a formar a nação, que salvaram o
Brasil, que para ali levaram a cultura do
açúcar, que ainda na época da restauração
tanto contribuiram para o reconhecimento
da independência de Portugal.



Desapareceram para só ressurgir mais
de um século depois. No século XIX
encontramo-los ao lado dos cristãos a cul-
tivar o cacau em S. Tomé, a colónia de
que se orgulhava o nosso País por ser
nessa época o maior produtor de cacau no
mundo. O cacau que durante anos de
crise económica foi um dos principais
recursos da nossa exportação. Encontra-
mo-los na Companhia Nacional de Nave-
gação, a única que assegurava carreiras
regulares para as nossas colónias; encon-
tramo-los nos Açores a introduzir a cultura
do ananás e do tabaco; encontramo-los
em meados do século passado na junta das
obras que realizou o porto de Ponta Del-
gada e dele fez um importante porto de
escala. Encontramo-los a colaborar irmã-
mente com os demais portugueses na cria-
ção de escolas superiores. Bensaúde foi o
primeiro director do Instituto Superior
Técnico e a pessoa que o impôs, Amzalak
nas Ciências Económicas, e tantos outros,
na geração actual.

Se nos referirmos às obras sociais hoje
tão em moda, veremos as primeiras Caixas
de Previdência para operários, no Pais,
numa fábrica de judeus; a fábrica de tabaco
dos Açores. Temos o enxoval do recém-
-nascido criado pela Sr.a D. Hannah Se-
querra, algumas dezenas de anos antes da
Obra das Mães.

Servir e ser útil tem sido o lema dos
judeus em Portugal. Criar e colaborar a
sua divisa.

                 *

Vai longa já esta exposição e quanto
me ficou por sumariar! Não referi sequer
os médicos judeus que tão grande fama
atingiram.

Não tomei o vosso tempo com referên-
cias à cultura dos judeus em Portugal.


 
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