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Ha-Lapid הלפיד


N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)







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 6           HA-LAPID
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Não tomo o vosso tempo lembrando a
escola filosófica dos sephardim.

Não citei a introdução da imprensa no
Pals, feita por judeus tão cedo que Por-
tugal se pode orgulhar de ter livros impres-
sos logo a seguir à Alemanha e à Itália,
antes de qualquer outro. país. Não referi
a influência que tal iniciativa teve no pro-
gresso do País.

Quis apenas salientar a perfeita dedi-
cação dos portugueses da religião hebraica.
a comunhão devida com os demais habitan-
tes do Pais, os serviços, que irmanados.
prestaram.

Para esse efeito não precisei de socor-
rer-me da construção de António Vieira na
História do Futura que, citando Santo
Agostinho, pretende que todos os portu-
gueses são descendentes de judeus imigra-
dos antes da morte de Cristo. Não entrei
na discussão de problemas como a do
judaismo de Diogo Cão ou de Bernardim
Ribeiro. Bastou-me citar um exemplo de
judeus confessos, exemplos que nem a
inquisição queimando bibliotecas conse-
guiu ofuscar para sempre.

Se lembrando-os arranquei algum nome
do esquecimento injusto, terei cumprido a
minha missão. Se recordando episódios
pouco discutidos, vos trouxe alguma novi-
dade, sentir-me-ei lisonjeado. Mas a
minha ambição é maior: eu queria inte-
ressar algum ou alguns de entre os mais
novos dos meus ouvintes no estudo tão
vasto a fazer da história dos judeus em
Portugal. Eu queria que estas minhas pala-
vras fossem apenas uma pequena introdução
para um trabalho maior: o estudo minu-
cioso de cada uma das épocas, de cada uma
das actividades que referi e daquelas que
eu próprio devo ter esquecido. A obra
grandiosa de reconstituição das crónicas
que durante dois séculos foram cuidadosa-
mente queimadas.

Não afirmam que tenham sido perfeitos
e não mereçam crítica os judeus do meu
pais. Conheço o drama dos judeus portu-
gueses que em 1640 viviam na Holanda e
que tiveram de escolher entre a dedicação
à pátria que espoliava e assassinava suas
famílias e o pais que os acolhera. Conheço
as reacções várias entre os judeus no Brasil
no tempo da restauração. É porém muito
mais humana a atitude desses judeus do
que a de um Conde de Andeiro ou de um 
Miguel de Vasconcelos e é muito mais de
admirar a atitude daqueles que acima dos
seus interesses imediatos, escolheram o bem
da pátria que os maltratara.

Para a reabilitação dos judeus em Por-
tugal basta o estudo objectivo da nossa
história. Quem o havia de fazer se nós
desse estudo nos desinteressassemos?

São inúmeros os judeus que com a
maior dedicação ajudaram a formar e a
consolidar o pais em que nascemos e onde
vivemos.

São exemplo de estudo, sacrifício, luta
e elevação que devemos ter presentes e
que nos dão alento e força para sem falso
alarde nem preteneiosa vaidade, pode.
mos ter o orgulho de ser judeus em Por-
tugal.

São exemplos que devemos ter presen-
tes nos momentos em que sentimos em
nossa volta, a ingratidão ou a inveja.

São exemplos que devemos ter pre-
sentes, porque nos impõe uma vida digna
cheia de responsabilidades. Somos actual-
mentes os únicos detentores de um titulo
que não podemos manchar.

Como irmãos de armas judeus e cris-
tãos, percorreram o Pais, do Minho ao
Algarve para conquistar. lrmanados pelo
entusiasmo e estudo, irmanados no perigo
dominaram o oceano vasto que banha
Portugal. Irmanados no mesmo entu-
siasmo acorreram na época da restaura-
ção. Como irmãos dedicados, conscien-
tes de direitos e obrigações. caminhemos
juntos, hoje e no futuro, para uma comu-
nhão maior.

                  *
                *   *

Nota da redacção- Esta conferencia foi feita
em Lisboa, na Associação da juventude judaica Heha-
ber. O distinto economista Dr. Moses Bensabat
Amzalac, presidente honorário do Hehaber e pre-
sidente da Comunidade Israelita fez a apresentação
do orador com palavras cheias de amabilidade e
no final fez um erudito comentário elogioso do
trabalho do Dr. Max Azancot. O presidente do
Hehaber, Dr. Semtob Dreiblat Sequerra também
elogiando a conferência dirigiu amáveis e justas
palavras ao orador, que é um distinto advogado da
capital portuguesa.

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Visado pela Comissão de Censura


 
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