6 HA-LAPID ======================================== Não tomo o vosso tempo lembrando a escola filosófica dos sephardim. Não citei a introdução da imprensa no Pals, feita por judeus tão cedo que Por- tugal se pode orgulhar de ter livros impres- sos logo a seguir à Alemanha e à Itália, antes de qualquer outro. país. Não referi a influência que tal iniciativa teve no pro- gresso do País. Quis apenas salientar a perfeita dedi- cação dos portugueses da religião hebraica. a comunhão devida com os demais habitan- tes do Pais, os serviços, que irmanados. prestaram. Para esse efeito não precisei de socor- rer-me da construção de António Vieira na História do Futura que, citando Santo Agostinho, pretende que todos os portu- gueses são descendentes de judeus imigra- dos antes da morte de Cristo. Não entrei na discussão de problemas como a do judaismo de Diogo Cão ou de Bernardim Ribeiro. Bastou-me citar um exemplo de judeus confessos, exemplos que nem a inquisição queimando bibliotecas conse- guiu ofuscar para sempre. Se lembrando-os arranquei algum nome do esquecimento injusto, terei cumprido a minha missão. Se recordando episódios pouco discutidos, vos trouxe alguma novi- dade, sentir-me-ei lisonjeado. Mas a minha ambição é maior: eu queria inte- ressar algum ou alguns de entre os mais novos dos meus ouvintes no estudo tão vasto a fazer da história dos judeus em Portugal. Eu queria que estas minhas pala- vras fossem apenas uma pequena introdução para um trabalho maior: o estudo minu- cioso de cada uma das épocas, de cada uma das actividades que referi e daquelas que eu próprio devo ter esquecido. A obra grandiosa de reconstituição das crónicas que durante dois séculos foram cuidadosa- mente queimadas. Não afirmam que tenham sido perfeitos e não mereçam crítica os judeus do meu pais. Conheço o drama dos judeus portu- gueses que em 1640 viviam na Holanda e que tiveram de escolher entre a dedicação à pátria que espoliava e assassinava suas famílias e o pais que os acolhera. Conheço as reacções várias entre os judeus no Brasil no tempo da restauração. É porém muito mais humana a atitude desses judeus do que a de um Conde de Andeiro ou de um Miguel de Vasconcelos e é muito mais de admirar a atitude daqueles que acima dos seus interesses imediatos, escolheram o bem da pátria que os maltratara. Para a reabilitação dos judeus em Por- tugal basta o estudo objectivo da nossa história. Quem o havia de fazer se nós desse estudo nos desinteressassemos? São inúmeros os judeus que com a maior dedicação ajudaram a formar e a consolidar o pais em que nascemos e onde vivemos. São exemplo de estudo, sacrifício, luta e elevação que devemos ter presentes e que nos dão alento e força para sem falso alarde nem preteneiosa vaidade, pode. mos ter o orgulho de ser judeus em Por- tugal. São exemplos que devemos ter presen- tes nos momentos em que sentimos em nossa volta, a ingratidão ou a inveja. São exemplos que devemos ter pre- sentes, porque nos impõe uma vida digna cheia de responsabilidades. Somos actual- mentes os únicos detentores de um titulo que não podemos manchar. Como irmãos de armas judeus e cris- tãos, percorreram o Pais, do Minho ao Algarve para conquistar. lrmanados pelo entusiasmo e estudo, irmanados no perigo dominaram o oceano vasto que banha Portugal. Irmanados no mesmo entu- siasmo acorreram na época da restaura- ção. Como irmãos dedicados, conscien- tes de direitos e obrigações. caminhemos juntos, hoje e no futuro, para uma comu- nhão maior. * * * Nota da redacção- Esta conferencia foi feita em Lisboa, na Associação da juventude judaica Heha- ber. O distinto economista Dr. Moses Bensabat Amzalac, presidente honorário do Hehaber e pre- sidente da Comunidade Israelita fez a apresentação do orador com palavras cheias de amabilidade e no final fez um erudito comentário elogioso do trabalho do Dr. Max Azancot. O presidente do Hehaber, Dr. Semtob Dreiblat Sequerra também elogiando a conferência dirigiu amáveis e justas palavras ao orador, que é um distinto advogado da capital portuguesa. ------------------------------------------------- Visado pela Comissão de Censura
N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)
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