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N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)







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              HA-LAPID              7
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             PESSAH

               POR ISAAC LOPES MARTINS

No leve frémito que o crente encontra
no retorno de cada uma das marcas do
harmonioso decorrer do ciclo litúrgico.
está o sentimento mais forte da fuga no
tempo. um alimento para a ânsia de
variedade. luxo e fraqueza do espirito
humano.

Sukkot provoca contraste--depois do
solene recolhimento de Rosh Hachaná e
da sublime exaltação da alma desejando
libertar-se do pecado. em Yom Kippur,-
pois exprime duplamente a alegria da
Míçvah obtida, da vida que decorre, das
boas colheitas e da Torah mil vezes
relida...

Purim. com a sua exuberante alegria, é
como que um arauto anunciando a emo-
cionante Páscoa, sustentáculo de Israel,
celebra com um sentimento de maravi-
lhosa alacridade a terna Promessa, os
místicos amores do Pastor e da Pastora
do Cântico dos Cânticos, do Senhor e de
Israel.

A nossa Juventude comemorando
Pessah, relembra a salda do Egipto. É o
principio da nossa História tão comovente
e cuja duração bem dolorosa é um verda-
deiro milagre. Foi o primeiro e magnifico
arranco de um Povo, trocando a escravidão
pela liberdade, mas também o abrigo e o
pão, pelas incertezas do dia de amanhã
em pleno deserto...

O inverno prolonga-se, mas no entanto
os belos dias não tardam, é a primavera,
juventude do ano, a que Pessah dá as
boas vindas...

É a promessa de boas espigas, cujas ten-
ras hastes começam a emergir do solo...

Mas mais ainda do que pelas recor-
dações evocadas, é pelo pensamento no
Futuro, pela esperança ardente no amanhã,
que Pessah rejuvenesce Israel.

Um laço místico une as duas extremi-
dades da nossa História, e na Páscoa todos
sem excepção começamos a arquitectar o
belo sonho de um mundo de boa vontade
e amor...

E muito embora nossos corações se
encontrem tristes pela perda de entes que-



ridos ou pelos diversos desgostos diários,
cantemos os milagres passados e os que
hão-de vir um dia...

Deixemos entrar em nossas almas um
pouco de esperança para amanhã...

A Páscoa é uma data do nosso ano
litúrgico, rica em recordações comovedo-
ras e esperanças reconfortantes. Nela se
unem as vozes da natureza e da tradição
para despertarem as forças fisicas e as
energias espirituais, cujo poder harmo-
nioso por si só assegura a plenitude duma
vida pura e digna.

Abramos o pequeno livro da Haggadah,
que se lê na mesa do Seder, no comêço
da Páscoa.

Como começa a narrativa que desde
longos séculos os maiores psalmodiavam
e comentavam? Por estas fraternais pa-
lavras:

"Eis aqui o pão de miséria que os
nossos antepassados comeram... Aquele
que tiver fome que venha e coma!"

Antes de se festejar a libertação, o
gesto benfazejo!

Primeiro Caridade! Nenhuma verda-
deira festa judaica se realiza sem que seia
providenciada a subsistência ao indigente
e ao faminto.

Mas não existe sómente o pão do
corpo!

Existe a alimentação da alma, o susten-
táculo moral, não menos necessário que o
primeiro!

Todos necessitamos dele, mas sobre-
tudo os seres desamparados, desiludidos,
aqueles cuja alma se amarfanha, aqueles
que vêem a sua situação vacilar e se entre-
gam ao cepticismo. e à negação!

Quantos, no seu descalabro moral re-
voltando-se diante da iniquidade e da vio-
lência desde tanto tempo triunfantes, se
interrogam fazendo esta perturbadora per-
gunta:

Onde está Deus?

A Bíblia conhece estes estados de es-
pírito!

Nenhum livro os traduziu tão fielmente.

O psalmista, intérprete de todas as dores
e desgraças, também por vezes gritou:

"Até quando Senhor?"...

"Mostra-te Senhor, Ergue-te Juiz de
toda a terra e castiga os causadores da
iniquidade " ...

Mas disse também: "Na desgraça. in-


 
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