HA-LAPID 7 ====================================== PESSAH POR ISAAC LOPES MARTINS No leve frémito que o crente encontra no retorno de cada uma das marcas do harmonioso decorrer do ciclo litúrgico. está o sentimento mais forte da fuga no tempo. um alimento para a ânsia de variedade. luxo e fraqueza do espirito humano. Sukkot provoca contraste--depois do solene recolhimento de Rosh Hachaná e da sublime exaltação da alma desejando libertar-se do pecado. em Yom Kippur,- pois exprime duplamente a alegria da Míçvah obtida, da vida que decorre, das boas colheitas e da Torah mil vezes relida... Purim. com a sua exuberante alegria, é como que um arauto anunciando a emo- cionante Páscoa, sustentáculo de Israel, celebra com um sentimento de maravi- lhosa alacridade a terna Promessa, os místicos amores do Pastor e da Pastora do Cântico dos Cânticos, do Senhor e de Israel. A nossa Juventude comemorando Pessah, relembra a salda do Egipto. É o principio da nossa História tão comovente e cuja duração bem dolorosa é um verda- deiro milagre. Foi o primeiro e magnifico arranco de um Povo, trocando a escravidão pela liberdade, mas também o abrigo e o pão, pelas incertezas do dia de amanhã em pleno deserto... O inverno prolonga-se, mas no entanto os belos dias não tardam, é a primavera, juventude do ano, a que Pessah dá as boas vindas... É a promessa de boas espigas, cujas ten- ras hastes começam a emergir do solo... Mas mais ainda do que pelas recor- dações evocadas, é pelo pensamento no Futuro, pela esperança ardente no amanhã, que Pessah rejuvenesce Israel. Um laço místico une as duas extremi- dades da nossa História, e na Páscoa todos sem excepção começamos a arquitectar o belo sonho de um mundo de boa vontade e amor... E muito embora nossos corações se encontrem tristes pela perda de entes que- ridos ou pelos diversos desgostos diários, cantemos os milagres passados e os que hão-de vir um dia... Deixemos entrar em nossas almas um pouco de esperança para amanhã... A Páscoa é uma data do nosso ano litúrgico, rica em recordações comovedo- ras e esperanças reconfortantes. Nela se unem as vozes da natureza e da tradição para despertarem as forças fisicas e as energias espirituais, cujo poder harmo- nioso por si só assegura a plenitude duma vida pura e digna. Abramos o pequeno livro da Haggadah, que se lê na mesa do Seder, no comêço da Páscoa. Como começa a narrativa que desde longos séculos os maiores psalmodiavam e comentavam? Por estas fraternais pa- lavras: "Eis aqui o pão de miséria que os nossos antepassados comeram... Aquele que tiver fome que venha e coma!" Antes de se festejar a libertação, o gesto benfazejo! Primeiro Caridade! Nenhuma verda- deira festa judaica se realiza sem que seia providenciada a subsistência ao indigente e ao faminto. Mas não existe sómente o pão do corpo! Existe a alimentação da alma, o susten- táculo moral, não menos necessário que o primeiro! Todos necessitamos dele, mas sobre- tudo os seres desamparados, desiludidos, aqueles cuja alma se amarfanha, aqueles que vêem a sua situação vacilar e se entre- gam ao cepticismo. e à negação! Quantos, no seu descalabro moral re- voltando-se diante da iniquidade e da vio- lência desde tanto tempo triunfantes, se interrogam fazendo esta perturbadora per- gunta: Onde está Deus? A Bíblia conhece estes estados de es- pírito! Nenhum livro os traduziu tão fielmente. O psalmista, intérprete de todas as dores e desgraças, também por vezes gritou: "Até quando Senhor?"... "Mostra-te Senhor, Ergue-te Juiz de toda a terra e castiga os causadores da iniquidade " ... Mas disse também: "Na desgraça. in-
N.º 132, Nissan-Yiar 5706 (Mar-Abr 1946)
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