4 HA-LAPID ========================================= lhares de seres humanos, que foram chaci- nados pelos alemães, teriam escapado ao morticínio! Em virtude da resistência armada desses grupos e do emprego do que se conhece pela denominação de "métodos terrorisias" continua a haver desordens na Palestina. Entretanto, a opinião pública de toda a parte, especialmente a dos Estados Unidos, tem-se manifestado a favor de uma Pales- tina judaica, o que levou agora a Inglaterra a dirigir-se à O. N. U. As principais partes no processo perante a ONU: a Inglaterra e o Povo Judeu Tempos houve em que se atribuiu o arraial de forças militares na Palestina à necessidade de manter a paz entre judeus e árabes; hoje, porém, fala-se claramente. Churchill explica, na Câmara dos Co- muns, que, para defender o Canal de Suez, a Ilha de Chipre é tão vantajosa como a Palestina, e pede, por conseguinte, que os 100.000 soldados ingleses fixados na Pales- tina sejam transferidos para a Ilha de Chi- pre. Mas, em vez da transferência dos soldados, são os refugiados judeus que tentam entrar na Palestina os transferidos para os campos daquela ilha. Bevin é ainda mais explícito. Numa conversação que teve com um dos diri- gentes da Agência Hebraica, Sr. Nahum Goldmann, o Ministro dos Estrangeiros britânico declarou: "O que nos pedis é a entrega da chave da porta mais importante do Próximo Oriente, o que muito hesito em fazer." A Palestina é por conseguinte, como se vê, considerada um importante ponto estra- tégico para o império britânico. Por outro lado, os judeus, para os quais a Palestina é hoje, mais do que nunca, uma questão vital, pedem que seja satisfeito o compromisso que os povos do mundo con- trairam para com eles. Se o aspecto moral não bastasse, havia agora o fundamento legal, inequivoco, em que os judeus se apoiam. A O. N. U. terá, portanto, que decidir entre uma questão de direito e de justiça e o desejo de posse emanado de um grande império, por motivos de ordem estraté- gica. O problema árabe é um problema artificial O problema árabe na Palestina foi criado_ artificialmente, e contra os próprios inte- resses do mesmo povo. No seu prefácio ao livro "A Palestina, outro Munique" (1), o Dr. António Sérgio distingue, lucidamente, "que uma coisa é o interesse do povo árabe, e outra o dos magnates dos Estados árabes, senhores feudais de que o povo é vitima". São estes senhores, fascistas confessos e colaboradores activos dos nazis durante a guerra, que se arvoraram em "dirigen- tes" que não foram, directa nem indirec- tamente, eleitos pelo povo, "dirigentes" que ninguém escolheu, que se impuse- ram, como verdadeiros déspotas, nos paises árabes. No decurso de uma das audiências con- vocadas pela Comissão de Inquérito Anglo- -Americano, um dos seus componentes, Mr. Crossman, perguntou a um desses "dirígentes" donde lhe provinha o direito de falar em nome dos árabes, e quem o escolheu ou elegera para tanto... O inter- pelado respondeu, com frieza e sem titu- bear, que não fora escolhido por ninguém, mas que insistia em falar em nome dos árabes. Para estes "dirigentes" o despo- tismo é coisa natural. São estes mesmos senhores que forma- ram "Comissões Árabes" e criaram a "Liga Árabe". "A principal, se não a única força coersiva da "Liga Árabe e uma xenofobia entranhada e tradicional, dirigida, conforme as circunstâncias, contra franceses, ingleses ou judeus" (2). Como é que a O. N. U., que se negou a receber no seu gremio como membros, paises acusados de terem dirigentes fascistas teria aceite esses Efêndis e Pachás se eles não fossem protegidos por paises interes- sados no petróleo de que tais senhores são detentores? Em doloroso contraste com os senhores feudais árabes, vemos o povo árabe vege- tar, submetido a uma vida desumana, explo- rado como em parte nenhuma do mundo, por esses "dirigentes". (1) V.° "A Palestina, outro Munique?". (2) V.° "A Palestina, outro Munique?", pág. 15.
N.º 138, Tamuz-Elul 5707 (Jun-Ago 1947)
> P04