HA-LAPID 7 ======================================== UMA GRANDE DAMA JUDIA DA RENASCENÇA GRACIA MENDESlA-NASSI POR ALICE FERNAND-ALPHEN (CONTINUAÇÃO DO N.° 148) O excesso destes sofrimentos produziu em Israel, no principio do século XVI, uma corrente messiânica ardente, primando todos os outros sentimentos: os proscritos estavam animados do mesmo ideal, aspira- vam para um fim único: a vinda do Re- dentor, ou Messias Salvador, que estabele- ceria enfim, para estes eternos perseguidos, a paz e a justiça sobre a terra. Esta espe- rança enfeitiçava todos os espiritos, insuflava no coração dos mártires a força de resis- téncia necessária na aflição e na energia sobre-humana, própria a ultrapasar as piores dificuldades. Convém saudar aqui a grandeza moral desta pequena minoridade de homens, que mantiveram intangível o dominio de pen- samento durante toda a Idade Média e que nunca capitulou, apesar do archote dos inquisidores. Esta perseverança permitiu ver, no prin- cipio no século XVI, a claridade dum espi- rito novo se levantar sobre o Mundo: a Renascença intelectual, a Reforma religiosa, onde passa o grande sopro dos Livros judeus, são as duas faces da revolução profunda que se opera nas inteligências. Se Israel tinha capitulado perante a omnipotência da Igreja e das suas milicias religiosas, nos tempos em que, nem o Sismado Oriente nem a Reforma protes- tante não existiam, é permitido supor que a evolução do pensamento moderno teria sido grandemente retardado. Coincidência curiosa: este mesmo ano de 1492, data do exilio hispânico, via cumprir-se um acontecimento capital: a descoberta da América, que ia tornar-se a terra de asilo para todos os oprimidos do mundo. Foram os Maranos de Espanha, Luiz Santangel e Gabriel Sanchez que financia- ram a expedição de Cristóvão Colombo, oferecendo vinte milhões de maravedis, cerca de cinco milhões de francos. A bordo das três caravelas encontra- vam-se dezóito judeus, cujos nomes nos foram conservados. O primeiro que viu a terra foi Rodrigo de Triana; o primeiro que pôs o pé sobre o solo da América foi Luiz de Torres, que Cristóvão Colombo tomou como intérprete junto do grande Khan da Índia. Jehuda Cresques deu ao compasso os aperfeiçoamentos que permitiram aos na- vegadores de se dirigirem sobre o mar; Abraham Zacuto apresentou as cartas astro- nómicas graças às quais foi possivel deter- minar o lugar da estrela polar. Assim são os filhos de Israel que foram aos lados de Colombo durante estes meses de provas que precederam a descoberta do Novo Mundo, este Novo Mundo que ia tornar-se, quatro séculos mais tarde, o refúgio e o lar de seus irmãos fugindo diante dos massacres da Rússia. O profundo sentimento de amor pela pátria espanhola, sobre o solo da qual eles tinham vivido quinze séculos, foi mais forte no coração dos proscritos que o res- sentimento causado pelo tratamento bár- baro que lhes era infligido. Assim, qual não é o espanto do viajante que percorre hoje as margens mediterraneas. ouvindo os descendetes dos exilados de 1492 expri- mir-se ainda no mais puro castelhano do século XV; semelhante fidelidade não se encontra senão entre os Canadianos fran- ceses ou em certas aldeias da Prússia, entre os Huguenotes, colocados por Luis XIV em face do mesmo dilema de consciência com os leais súbditos de Fernando, o Ca- tólico. (Continua). -------------------------------------- 31 de Março 1821 É extinta a Inquisição em Por- tugal.
N.º 149, Shevat-Elul 5711 (Jan-Ago 1951)
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