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N.º 149, Shevat-Elul 5711 (Jan-Ago 1951)







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             HA-LAPID                 7
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  UMA GRANDE DAMA JUDIA DA RENASCENÇA

        GRACIA MENDESlA-NASSI

      POR ALICE FERNAND-ALPHEN

       (CONTINUAÇÃO DO N.° 148)

O excesso destes sofrimentos produziu
em Israel, no principio do século XVI, uma
corrente messiânica ardente, primando
todos os outros sentimentos: os proscritos
estavam animados do mesmo ideal, aspira-
vam para um fim único: a vinda do Re-
dentor, ou Messias Salvador, que estabele-
ceria enfim, para estes eternos perseguidos,
a paz e a justiça sobre a terra. Esta espe-
rança enfeitiçava todos os espiritos, insuflava
no coração dos mártires a força de resis-
téncia necessária na aflição e na energia
sobre-humana, própria a ultrapasar as
piores dificuldades.

Convém saudar aqui a grandeza moral
desta pequena minoridade de homens, que
mantiveram intangível o dominio de pen-
samento durante toda a Idade Média e que
nunca capitulou, apesar do archote dos 
inquisidores.

Esta perseverança permitiu ver, no prin-
cipio no século XVI, a claridade dum espi-
rito novo se levantar sobre o Mundo: a
Renascença intelectual, a Reforma religiosa,
onde passa o grande sopro dos Livros
judeus, são as duas faces da revolução
profunda que se opera nas inteligências.

Se Israel tinha capitulado perante a
omnipotência da Igreja e das suas milicias
religiosas, nos tempos em que, nem o
Sismado Oriente nem a Reforma protes-
tante não existiam, é permitido supor que
a evolução do pensamento moderno teria
sido grandemente retardado.

Coincidência curiosa: este mesmo ano
de 1492, data do exilio hispânico, via
cumprir-se um acontecimento capital: a
descoberta da América, que ia tornar-se
a terra de asilo para todos os oprimidos
do mundo.

Foram os Maranos de Espanha, Luiz
Santangel e Gabriel Sanchez que financia-
ram a expedição de Cristóvão Colombo,
oferecendo vinte milhões de maravedis,
cerca de cinco milhões de francos.



A bordo das três caravelas encontra-
vam-se dezóito judeus, cujos nomes nos
foram conservados.

O primeiro que viu a terra foi Rodrigo
de Triana; o primeiro que pôs o pé sobre
o solo da América foi Luiz de Torres, que
Cristóvão Colombo tomou como intérprete
junto do grande Khan da Índia.

Jehuda Cresques deu ao compasso os
aperfeiçoamentos que permitiram aos na-
vegadores de se dirigirem sobre o mar;
Abraham Zacuto apresentou as cartas astro-
nómicas graças às quais foi possivel deter-
minar o lugar da estrela polar. Assim são
os filhos de Israel que foram aos lados de
Colombo durante estes meses de provas
que precederam a descoberta do Novo
Mundo, este Novo Mundo que ia tornar-se,
quatro séculos mais tarde, o refúgio e o
lar de seus irmãos fugindo diante dos
massacres da Rússia.

O profundo sentimento de amor pela
pátria espanhola, sobre o solo da qual eles
tinham vivido quinze séculos, foi mais
forte no coração dos proscritos que o res-
sentimento causado pelo tratamento bár-
baro que lhes era infligido. Assim, qual
não é o espanto do viajante que percorre
hoje as margens mediterraneas. ouvindo
os descendetes dos exilados de 1492 expri-
mir-se ainda no mais puro castelhano do
século XV; semelhante fidelidade não se
encontra senão entre os Canadianos fran-
ceses ou em certas aldeias da Prússia, entre
os Huguenotes, colocados por Luis XIV
em face do mesmo dilema de consciência
com os leais súbditos de Fernando, o Ca- 
tólico.
                            (Continua).

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         31 de Março 1821

É extinta a Inquisição em Por-
tugal.


 
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