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N.º 149, Shevat-Elul 5711 (Jan-Ago 1951)







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               MEMÓRIAS

da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os
primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV

              MEMÓRIA I

     POR ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS

       (CONTINUAÇÃO DO N.° 148)

          CAPÍTULO VIII

   Das trasladações bíblicas em
    linguagem de que se usava
           em Portugal

Não só havia entre os Judeus muitos,
e mui apurados Ms. Biblicos dos textos
originais, mas também trasladações, que
deles se haviam feito em linguagem vulgar
de Espanha; porque depois que os seus
sábios haviam dado licença para que os
Livros Sagrados se escrevessem em Grego,
por ser a Lingua mais perfeita e usada,
que então havia, a mesma licença se julgou
depois aplicável à lingua Espanhola muito
cursada naqueles tempos; e era já costume,
ou antes obrigação terem os Judeus um
exemplar da Bíblia na Lingua vulgar do
país, em que habitavam (Assim o atesta
Maimonides no seu Minah Thoroh ou
Segunda Lei e no Moreh Nebocim ou
Director dos que duvidam).

Traduções que corriam entre os nos-
sos-Assim entre os Judeus Portugueses
e Espanhóis corriam algumas traduções
para uso das Sinagogas e instrução parti-
cular de cada um: entre as quais mui
nomeadas eram em tempos antigos as
trasladações Espanholas de R. Kimchi e
de R. Abraam Aben Hefra (Estas trasla-
dações, foram, quanto parece, as primeiras.
que houve dos Livros Sagrados em língua
vulgar de Espanha; os Cristãos trabalha-
ram depois algumas, como foram: a que
mandou fazer em Castelhano D. Afonso o
Sábio por 1260 que se acha emorforada



na sua História Geral, obra diversa da
História Universal do mesmo Rei, que é
peça inédita e existe Ms. na Real Biblioteca
do Escurial; a outra tradução em lingua
Valenciana feita em 1408 por Bonifácio
Ferreira irmão de S. Vicente Ferreira e
Geral dos Cartuchos, que foi impressa em
1478; a outra tradução em Espanhol, que
se acha Ms. na Real Biblioteca de Sua
Majestade, de letra, que parece ser do
Século XV a qual foi do Senhor Rei
D. Afonso V como nela se declara em
uma nota de letra antiga, que se acha na
folha, que cobre por dentro a pasta; e a
outra finalmente, que tinha no Século XVI
o nosso Poeta Francisco de Sá de Miranda,
cuja leitura lhe facultara o doutíssimo
Francisco Foreiro, como se lia na primeira
folha dela, que não sabemos contudo se
era tradução diversa da antecedente).

Acaso corriam elas também entre os
Cristãos, que isto daria ocasião à Consti-
tuição Progmática, porque D. Jaime Rei
de Aragão proibiu em 1233 as traduções
da Biblia em Espanhol, mandando-o assim
publicar no Concílio de Saragoça que se 
juntou no mesmo ano (A Constituição 
Progmática vem em Martene na Colecção
dos Antigos Escritores, pág. 123 e segs.).

Destas antigas traduções talvez se tirou
a trasladação do Pentateuco que se impri-
miu em Veneza em 1497 e em Constan-
tinopla em 1547 e 1552 a qual foi anterior
à edição da Bíblia Espanhola de Ferrara:
esta mesma Bíblia Ferraresca foi trabalhada
sobre aquelas antigas versões, como se dá
a entender na sua Prefação, de que falare- 
mos em seu lugar.
                            (Continua).


 
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