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N.º 152, Shevat-Yiar 5714 (Jan-Abr 1954)







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VIDA LITERÁRIA

           JOSÉ DE ESAGUY

         HISTORIADOR E POETA

Em todas as épocas tem havido, em
Portugal, grandes e ilustres escritores que
sempre souberam amar e honrar a sua
pátria, oferecendo-lhe generosamente tudo
quanto havia de melhor em si próprios: o
seu talento, o seu génio.

Folheando, ao acaso, a nossa História
da Literatura, nós sentimos orgulho e
consolação por nela encontrarmos tantos
portugueses que se tornaram célebres pelas
suas obras e que, com elas, engrandeceram
também o pequeno pais a que perten-
ciam.

Embora nem todos atingissem a cele-
bridade de Camões, Bocage, Bernardim,
António Vieira, Antero, Junqueiro, João
de Deus, e tantos outros; embora muitos
desses escritores não tivessem sido tão
geniais, a todos devemos estar gratos,
porque todos eles deram a Portugal aquilo
que souberam e puderam dar e todos o
fizeram com o mesmo carinho, com o
mesmo amor, com a mesma dedicação.

Por isso, os mais modestos, os mais
apagados, não devem ser esquecidos nem
devem deixar de merecer a nossa simpatia
e o nosso reconhecimento.

Entre todos estes escritores, encontra-
mos também alguns que eram judeus ou,
talvez mais justamente, portugueses de
religião hebraica, pois eram tão amigos da
sua pátria como os outros e se alguma
diferença havia entre eles, era moti-
vada, simplesmente, pela religião e nada
mais.

A verdade é que, católicos ou judeus,
protestantes ou ateus, todos são filhos do
mesmo Deus e da mesma Pátria, todos
estão unidos pelo mesmo amor à terra em
que nasceram e a todos vemos, através da
História, desde Alonso Henriques, lutando
lado a lado e morrendo, heróicamente, pela
independência e glória da Nação.

Não há, pois, nenhuma justificação pos-



sível para a diferença que certas pessoas
ainda pretendem fazer, entre portugueses
e portugueses judeus. E' absolutamente
absurda.

Estas palavras vêm a propósito de um
livrinho de versos, de José de Esaguy, que
acabei de ler agora.

José de Esaguy é um nome bastante
conhecido, entre nós, como bom e ilustre
português e como o maior historiador do
que foi o esforço lusitano em Mar-
rocos.

Os admiráveis livros: "A vida do In-
fante Santo", "Relato inédito sobre o desem-
barque de El-Rei D. Sebastião em Tânger",
"O minuto vitorioso de Alcácer Quibir",
"Alcácer Quibir, 1578", "O Livro Grande
de Sampayo", com centenas de documen-
tos inéditos e interessantissimos sobre
Ceuta, e "Marrocos", monumental, histó-
rico e artístico, obra magnífica em 12
tomos, e ainda outros livros sobre a nossa
História, em Marrocos, chegam bem para
que o seu nome seja sempre lembrado por
todos os portugueses.

Mas Jose de Esaguy-que foi também
chanceler do nosso consulado em Tânger
-não se limitou a escrever os seus pre-
ciosos livros. Levou o seu patriotismo
mais longe ainda: por sua Iniciativa, fize-
ram-se escavações nos campos tristes de
Alcácer Quibir-onde ficou sepultada a
nossa melhor mocidade dessa época e onde,
tão trágicamente, se perdeu o jovem Rei-
-Sonhador, perdendo-se com ele a nossa
própria independência- para encontrar as
ossadas desses heróis portugueses e trazê-
-las, carinhosamente, para a terra querida
que tanto amaram e tanto quiseram en-
grandecer.

Este piedoso gesto, talvez mais ainda
do que toda a sua admirável obra, revela
bem como era verdadeiramente português
o coração de José de Esaguy!


 
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