HA-LAPÍD 7 ========================================= brado o Ano Novo judaico pelos cripto-ju- deus desta cidade. O Dia de Kípur tambem foi solenisado. Ha entusiasmo em organisar aqui uma Comunidade israelita afim de aberta e legal- mente ser praticada a religião, mãi das reli- giões. o o o Regras deontolágicas do século XII De sempre, o exercício médico foi colo- cado na ordem dum verdadeiro sacerdócio pela aplicação das regras de proceder as mais severas, as mais elevadas, ás quais todos os médicos se sujeitavam tradicional- menta. O juramento de Hipócrates, tão co- nhecids, é um dos primeiros monumentos deontológicos e conservou, até nossos dias, um valor moral que os tempos não tem apoucado. Representa contudo apenas o embrião de deontoiogia e muitos principios novos vieram juntar-se aos que êle nos ditava. Pois bem! Desde o XII século, as regras que em nossos dias regulam as relações recíprocas dos médicos e entre estes e os doentes, já estavam encontradas quasi in- teiramente formuladas. Pelo ano de 1160, a Escola de Medicina de Marrocos abriu um concurso que atraiu um grande número de médicos. Um médico muito novo, de 21 anos apenas, vindo de Córdova, apresentou nesse concurso uma oração que, por unanimidade, obteve o pri- meiro premio. Este jovem médico era judeu e chamava-se Abn Amran Musha ben Mai- meen ben Obão Allah el Kortobi el Israel. Não era mais que o famoso Maimónidas cujos trabalhos filosóficos e médicos mere- ceram, durante séculos, a veneração dos norte-africanos. Não nos demoraremos nem sôbre a sua obra nem sôbre a sua vida vamos repro- duzir apenas esta parte da sua "prece" que continha, admiravelmente ditas, as mais precisas e mais elevadas regras deontológi- cas, e que merecem ser meditadas muitas vezes no decorrer da nossa carreira médica: "Que o amor da minha arte e das tuas criaturas me anime sempre, e que nem a avidez ou avareza, nem a sede de gloria ou de alta reputação se apoderem da minha alma; porque inimigos da verdade e da fi- lantropia, poderiam facilmente enganar-me e afastar-me da alta distinção de fazer o bem aos teus filhos! "Sustenta as forças do meu coração e da minha alma, a fim de que estejam sem- pre igualmente dispostos a servir o rico e o pobre, o bom e o mau, o amigo e o ini- migo, e a não ser na doente mais que o meu semelhante que sofre! "... Conserva a minha inteligencia sã e natural, e torna-a capaz de compreender o presente e de calcular com exactidão o futuro ainda oculto, preserva igualmente o meu espirito duma cegueira pertinaz, que recuse reconhecer o que é evidente, e duma fátua presunção que lhe faria ver o que nao deve ver!... "... Que o meu espirito seja sempre senhor de si junto da cabeceira do doente; nenhum pensamento extranho deve distrai-lo; que tudo o que a experiência e a reflexão lhe tenham ingerido se mostre deante dêle, sem que nada o possa perturbar na sua meditação! ... "... inspira aos meus doentes confiança em mim e na minha arte e obediência ás minhas prescriçoes. Atasta dêles todo o pseudo médico o que destruiria e que, com a tua infinita bondade, eu faça de bem; da mesma forma afasta o enxame de pessoas consultadoras e as mulheres que se dizem prudentes, por ser uma gente cruel que, por vaidade, contraria e neutraliza os me- lhores resultados da nossa arte sublime e santa, e prepara a morte precoce ás tuas criaturas. "Se médicos mais instruidos do que eu, querem guiar-me e aconselhar-me, inspira- me confiança, obediência e reconhecimento para com êles! Porque o estudo da arte é imenso, e não é dada a um só ver tudo o que os outros veem. Mas se ignorantes me censurarem e se rirem de mim, que o amor pela minha arte sirva de escudo ao meu espírito e o torne invulnerável, a-fim-de que, sem olhar â reputação, á idade e á alta posição dos seus adversários, persista no que reconheceu como verdade, porque a condescendência seria neste caso um crime e provocaria a morte das tuas criaturas. "Concede-me a brandura e a paciência necessárias aos doentes caprichosos e em frente dos confrades mais idosos que, en- vaidecidos da sua antiguidade, pretendam repelir-me ou criticar-me. Permite que eu aproveite do bem que uma longa experiên-
N.º 043, Tishri 5692 (Set-Out 1931)
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