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N.º 043, Tishri 5692 (Set-Out 1931)







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                 HA-LAPID               8
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cia lhes tenha ensinado e que eu lhes fique
reconhecido por isso, mas que a sua pre-
sunção não exerça qualquer influência sô-
bre a tranquilidade da minha alma!...

"Possa eu ser moderado em tudo ex-
cepto no conhecimento da Arte... Que
para sempre a ideia de tudo saber e tudo
conhecer se afaste. Dá-me as forças, o des-
canço, o desejo e a ocasião de rectificar os
conhecimentos adquiridos, e de ampliar-lhes
o domínio, porque se a Arte é imensa, o
espirito do homem pode igualmente esten-
der-se indefinidamente e enriquecer-se dia
a dia de novos conhecimentos."

Assim se exprimia, vai para oito sécu-
los, um dos mais puros luminares da medi-
cina na idade média, e isto dispensa comen-
târios. A grandeza d'alma, o amor da Arte
e a fina observação aliam-se á cortezia, á
dignidade e à modestia para nos esboçar
esta formosa figura de médico, empregnada
de ciência, de serenidade e de nobreza de
caracter como sonhava e realisou Maimoni-
das, e á qual cada um de nós teria orgulho
em assemelhar-se.

                     Doutor Maurício Uzan.

            o o o

Elementos para a História dos
Judeus Portugueses de Hamburgo

                        por ALFONSO CASSUTO

        (Continuação)

A comunidade portuguesa de Hamburgo empre-
gou todos os esforços possiveis para impedir o exo-
do de alguns dos seus membros, porque se julgava
que em Altona seria mais renhida a luta entre france-
ses e russos, e devido a esses esforços contraiu divi-
das que a reduziram a uma situação muito precária;
em 1833 viu-se forçada a vender a sua antiga esnoga
onde, durante mais de 200 anos, havia exercido o seu
culto e isto porque não tinha os meios pecuniárias
suficientes para satisfazer os seus encargos.

Mais tarde construiu-se uma pequena esnoga,
que foi inaugurada em 1834, mas que apenas serviu
durante 8 anos.

No dia 5 de Maio de 1842 rebentou em Hambur-
go um incendio, que durou vários dias e que des-
truiu uma grande parte da cidade incluindo a esnoga
portuguesa.

Todo o arquivo da comunidade desapareceu e
apenas os Sefarim foram salvos por Jehuda Cassuto,
ao que lhe valeu o titulo de membro honorário dco-



munidade. Quási todos os membros da Comunidade
tiveram de abandonar Hamburo, por escassez de
residências e estabelecer na visinha cidade de Altona.
Em 1855 inaugurou-se uma esnoga, que ainda hoje
reune no serviço divino os poucos judeus portugue-
ses que, da antiga comunidade, ainda habitam esta ci-
dade.

Por razões de saúde pública foram proibidos em
1871 os enterramontos no antigo cemitério de Altona,
que se encontrava no meio dessa cidade. A comunida-
de portuguesa de Altona, que até então enterrava ali
os seus mortos, comp.ou um terreno perto da cidade,
que foi utilizado até 1888, época em que esta comuni-
dade desapareceu completamente. A comunidade por-
tuguesa de Hamburgo tinha alcançado, aproximada-
mente em 1700 um terreno que o Senado puzera á sua
disposição e que desde 1871 foi utilizado para enter-
ramentos.

Como este terreno tambem se encontrasse no-
meio da cidade, em 1884 o Senado proibiu ali os en-
terramentos e deu á comunidade portuguesa, junta-
mente com a comunidade alemã, um enorme terreno,
que se encontra hoje a uma hora de distância, em
carro eléctrico, do centro da cidade, para que ali se
realisassem os enterros judaicos. Este terreno, que
foi dividido em duas partes, respectivamente para
portugueses e alemães, é ainda hoje utilizado separa-
damente por estas duas congregações.

Até metade do século XIX os judeus portugueses
de Hamburgo fizeram uso do idioma português e de
então pare cá tem este desaparecido rapidamente até
ao ponto de que hoje está completamente esquecido,
excepto em alguns dos serviços sinagogais em que o
uso da antiga lingua ainda persiste, como por exem-
plo: quando algum membro da comunidade é convi-
dado a desempenhar qualquer Misvàh; nas ofertas que
se fazem para cumprimentar outros membros da co-
munidade; quando se anuncia o novo mês; nas elei-
ções dos Parnassim; quando se anunciam o começo e
fim de jejum e outras comemorações religiosas e até
nos próprios recibos relativos a ofertas feitas na esno-
ga e ainda em várias outras oportunidades.

As inscrições nas pedras sepulcrais são geralmen-
te feitas no venerado idioma da antiga pátria.

O livro dos protocolos ou actas das reuniões da
comunidade foi redigido em português até 1823; o
registo de nascimentos está redigido igualmente em
português até 1840 e até 1880 tôda a correspondência
entre várias comunidades era escrito neste mesmo
idioma.

O numero de membros da comunidade não va-
riou muito nos ultimos 250 anos e antes pelo contra-
rio talvez tenha aumentado, ainda que ligeiramente; a
comunidade conta hoje cerca de 100 membros do se-
xo masculino. Pequena percentagem se compararmos
com o avultado numero dos israelitas que compo-
nhem a comunidade dos judeus alemães de Hambur-
go-cerca de 20.000.

E, contudo, apesar de decorridas quasi cerca de
quatro séculos desde que os primeiros judeus foragi-
dos de Portugal aportaram a cidade de Hamburgo e
apesar das variadas vicissitudes por que teem passa-
do, no decorrer desse lapso de tempo, a pequena co-
munidade nunca esqueceu as tradições que lhe foram
legadas por aqueles antepassados que, na antiga pa-
tria, atingiram altas posições sociais e, devido aos
seus continuados esforços, ainda ocupa na cidade
uma situação moral e intelectualmente elevada.


 
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