4 HA-LAPID ==================================================== var-se evidentemente a falsidade das suas interpreta- ções, e que com um pouco de aplicação se separaria a verdade da mentira, serviram-se, a-fim-de melhor deslumhrar os cristãos, duma falsa explicação para afirmar que o Profeta fala do Messias. Em lugar de dizer nossas faces, versiculo 3.° dizem sua face no singular, e sua ferida em lugar de nossas feridas versículo 8.°: estranho efeito de cegueira e de perti- nácia! faz se mais, separa-se o capitulo quinquagés- simo segundo do capitulo quinquagéssimo terceiro, como se não tivessem qualquer conexão, porque sem isso não poderiam aplica-lo ao Messias. E' evi- dente que este ultimo capitulo é a sequência do an- tecedente. Para nos convencermos basta apenas ler os dois; as coisas surpreendentes que são inunciadas no 1.°, referem-se perfeitamente à miséria do povo de Israel tão bém pintada no outro; é por este estado horroroso que a grandeza que lhe é prometida deve arrebatar de admiração lôdas as nações. Tóda a gen- te verá o que não tinha sido contado, e ouvirá o que não tinha ouvido. Haveria imperfeição no discurso, que o fim deste capitulo não estivesse ligado com o começo do outro. Os cristãos não podem moldar-se a esta ligação: os seus autores esforçam-se por todos os modos em separar estes dois capitulos: não que- rem que sejam as nações que falam no 1.°, pretendem que seja o povo judeu; e com efeito sem isto a sua doutrina ficaria destruída e não mais teriam Messias. E' necessário para que a sua religião subsista que interpretem o texto sagrado a seu modo sem terem o trabalho de dar-lhe o verdadeiro sentido de que é susceptível e sem prever que para os convencer do seu érro basta mostrar-lhes que não compreendem o Hebreu ou que não querem compreende-lo. Quando se chega a tais extremos, a verdade triunfa facilmen- te da mentira. Mas o Cristianismos arranjou para isso um remedio maravilhoso. Sómenee é primitido aos Teólogos ler a escritura, a lingua santa não se apren- de e é apnas pelo órgão dum Doutor cristão que ela é explicada. Alguns enterpretes traduziram com um artificio maravilhoso a palavra Hebreu Jasé, preten- dem que ela significa ele orvalhará em lugar de dizer ele fara' falar; e sôbre uma explicação tão falsa e tao mítira estabelece-se a vinda do Messias. E' ver- dade que Jasé significa orvalhar, mas não pode inter- pretar-se assim neste ponto a não ser que se diga ao mesmo tampo que o Profeta disparata. Vejamos neste ponto a significação alegórica. Tendo sido o espanto de muitos que vos teem VÍSIO na desgraça, assim a vossa vista sera' desprezado dos homens; êle orva- lhará muitas nações, etc. Aqui não há conexão, nem sentido nestas palavras, ao passo que quando se explicam no sentido do Profeta, êle fará falar as na- ções. nela fica intelegível, é uma antitese de que se serve este santo anunciador da palavra de Deus. Os povos admirarão e falarão com espanto desta prodigiosu mudança de povo escolhido, os Reis con- servar-se-ão em silêncio, o que o capftulo 53.° ex- plica muito claramente. E' mesmo impossível com- preender éstes dois capitulos sem que a palavra Jasé signifique falar e que se diga que as nações surprezas do que virem o testemunhem pelas suas palavras. Se o Profeta tivesse falado de Israel, ter-se-ia exprimido diferentemente, o que prova à evidência que são as nações que falam e não Israel, e que é necessário li- gar-se ao espírito e não a explicação literal do termo hebraico jacé. Estas espécies de expressões metafóri- cas encontram-se tão comumente no texto sagrado que ha sómente esta grande obstinação necessária pa- ra apoiar uma falsa doutrina que obriga os cristãos a sustentar o sentido e adaptaram neste ponto porque é talvez o único donde podem inferir que o capitulo quinquagéssimo terceiro de Isaias fala do seu preten- so Messias. Pagueninus no seu Dicionário Hebreu explica a palavra jasé por estas, orvalhará ou fara' falar. Esta segunda explicação é totalmente oposta á dos Douto- res cristãos e destruindo completamente a sua opinião se fica surprézo por ter sido permitido a este autor tor- ná-la pública. E' um efeito da verdade que se desco- bre sempre, muitas vezes mesmo contra a intenção daquele que a produz; e nada é mais evidente que são as nações admirados da redenção de israel que dirão quem é que acreditou o que temos ouvida? Vimos o que foi predito aos verdadeiros israelitas; esta redenção prometida por todos os Profetas che- gou. a sua glória é grande; entraram na graça do Senhor que os reuniu de todos os pontos onde esta- vam dispersos e os colocou na posse da terra santa seu antigo património. O mesmo Profeta lhes afirma isto ainda nesta passagem: "que todos os povos se reunem: qual de vós outros anunciou isso. Fui eu que anunciei as coisas futuras. Fui eu que vos salvei a-fim-de que saibais, de que compreendais e de que vejais que fui eu; que não houve Deus formado antes de mim e que o não haverá depois de mim". Diz que escolheu seu servo para vir anuncíar-nos os seus divinos orá- culos, mas que não vir á ele mesmo. "Fóra de mim, diz êle, não ha salvador. porque é a mim só que pretendo que seja devida a redenção de Israel. O meu Mesias virá cumprir esta promessa tantas vezes reite- rada pelos Profetas: será o precursor desta miraculo- sa redençáo que lôdas as nações da terra hão-de ver com espanto e assombra". O número de pessoas reu- nidas nesta parte da Judea e que deram fé á redenção de Jesus Cristo como os seus discípulos teem pregado foi tão pequena que com dificuldade se pode contar um por mil. Ela mesmo foi envolta no esquecimento duram mais dum século depois da morte do preten- dido redentor. O que o Senhor promete aos Israelitas pela boca dos Profetas é bem diferente Toda a terra terá uma fé completa e toda a terra o admirará sem qualquer intorrução de tempo. Estas palavras de Isaias no capítulo quinquagés- simo segundo; a quem se fez ver o braço do Senhor? tem dois sentidos ambos literais. Um negativo pela interrogação: a quem o braço do Senhor, a sua força e o seu poder infinito podem ter sido descobertos? Quem poderia jamais conceber, quem poderia acredi- tar o que nós vemos manifestamente? A elevação e a glória de israel, vergando sob o péso duma dura es- cravidão, o opróbrio de tõdas as nações, errantee perseguido, é aquele que dormira, é aquele de ante de quem os Reis e os povos se humilham: ninguém poderia crér uma metamorfose tão surprendente. O sentido positivo é bem mais claro e mais inte- ligivel. E' apenas a éste povo que o Senhor fará ver o seu santo braço; é a ele somente que comunicará os efeitos do seu amôr e da sua omnipoténcia. As na- ções veem claramente que estas promessas são unica- mente feitas aos Israelitas, a não ser que regeitem absolutamente o tento sagrado. "Rejubilai, desertos de Jerusalém; louvai todos em conjunto o Senhor, porque ele consolou o seu povo e resgatou Jerusalém. 0 Senhor descobriu a santidade do seu braço aos olhos de todas as nações. Tôdas elas verão a salva- ção do nosso Deus"; e visto que devem ver este mi- lagre, porque querem elas duvidar disso? Porque preguntam o sinal da graça do Senhor? E mais um
N.º 050, Tishri-Heshvan 5693 (Out-Nov 1932)
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