2 HA-LAPID ======================================== são vitimas em Portugal, não é evidente que deviam estar ao facto de quem é o seu zeloso advogado? Há cincoenta anos a esta parte, a minha obra não precisaria doutro incentivo, por assim dizer, que o fornecido pelos israelitas, no meio dos quais abundavam homens tão ilustres co- mo generosas. Outros tempos, outros cos- tumes! Mas voltando ao assunto: da mes- ma maneira que sou português e cava- leiro de Cristo, podia igualmente ser di- namarquês, polaco, francês, espanhol, na- politano, ou alemão, e, revestido da or- dem do Elefante, da Aguia, da Pomba, do Nó, do Dragão, do Cão ou do Javali, entrar tambem na Sinagoga de Haia com um destes sinais distintivos. O rabino, que é de seu natural polido, ter-me-ia acolhi- do igualmente bem. Se para prestar ho- menagem á sua bôa educação e ao seu trato afável, tivesse publicado que me re- cebera daquela guisa em consideração para com a minha insígna, podia concluir- se que o meu desígnio fôra fazer acredi- tar que o rabino respeitara na minha or- dem um elefante, uma águia, um dragão, ou um porco-espinho? Ou muito me en- gano, ou o que eu queria inculcar é que êste homem estava a-par das regras da etiqueta e era pessoa de boa civilidade. Os hebreus, salvo êrro, tiveram a sua or- dem Equestre. Ocorre-me que Flávio José fala da sua fundação e conta que a ca- deia e o anel de oiro eram as insignias com que os príncipes honravam súbditos, amigos e partidários. A Escritura Sagrada cita-nos o caso do ilustre José que, me- diante seu espirito profético, interpretou e explicou os sonhos de Faraó. Modo de premiar a sua sciência, vestiu-o o monar- ca de púrpura e em cerimónia publica lhe conferiu a ordem Equestre enfiando-lhe êle mesmo no dedo o anel simbólico e deítando-lhe ao pescoço o colar respec- tivo. Os mesmos exemplos constam do tem- po de Moisés e Josué, que concederam a mesma dignidade a hebreus, notáveis pe- lo valor e a coragem. Daniel, ainda, foi glorificado por Baltasar, depois que deci- frou os caracteres misteriosos que tinham aparecido na parede. 0 rei ordenou que lhe vestissem túnica escarlate, lhe puses- sem um colar de oiro ao pescoço e fôsse proclamado que era o terceiro do reino. Este colar, ou insignia de honra só con- cedida aos homens de mérito, é denomi- nado torques ou torquis por Cícero, tor- quis aureus por Vegécio; e Plinio chama torquatus àquele que tinha a honra de com ele ser agraciado. Ora, se José do Egito pudesse voltar com todo o prestí- gío que lhe atribui a História Sagrada e entrasse numa igreja cristã não creio quo houvesse sacerdote ou sacristão tal mal educado ou soez que lhe negasse consi- deração só porque ostentava o distintivo duma ordem, hebraica ou faraónica que fôsse. As ordens são, com efeito, uma re- comendação a todos aqueles que as esta- deiam; pessoas de bem não lhes faltam com a sua vénia. Assim procedeu o rabi- no para comigo, como procederia, de cer- to, pertencendo eu á ordem do Porco, animal a que os judeus votam a sua me- lhor antipatia. Alega o critico que o meu livro foi escrito para uso dos ignorantes. Talvez não fôsse essa a minha intenção quando o publiquei, mas, pois que caiu entre as suas mãos, o endereço que lhe sobrescrita não está de todo errados". o o o conferência comemorativa do Auto de Fé de 1543 Realizou-se no dia 11 de Fevereiro na Comunidade Israelita desta cidade, uma conferência em comemoração do pri- meiro e ultimo Auto de Fé que teve lo- gar no Porto. Foi conferente o Ex.mo Snr. Capitão Barros Basto que nos deu o praser de o ouvir durante largo tempo. As suas palavras encontraram eco nos nossos corações, nos quais, naquele mo- mento, parecia existir o fogo que devo- rou outrora os corpos dos nossos ante- passados. Eram nossos irmãos... -Eram maus? -Não... pelo contrário eram de bom carácter. porem de ideias firmes. O cristianismo tinha de aumentar!... A religião do "Deus Uno-Invisivel" ti- nha de desaparecer!...
N.º 053, Shebat 5693 (Fev 1933)
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