HA-LAPÍD 3 ================================== -Que era pois necessário fazer? -Exterminar do mundo dos vivos to- dos os adoradores dêsse Deus, ou im- por-lhe o cristianismo a ferro e fogo. -E' para esse fim que foi organisada a inquisição, monstro horrível como lhe chama o Judeu Samuel Usque. Nomeado Bispo do Porto D. Bartolo- meu Limpo, é esplendidamente recebido nesta cidade não faltando a camara no cortejo de recepção. Em 1541 funda-se no Porto a Inquisição. Grande numero de expiões é encarre- gado de descobrir os judeus pelas seguin- tes principais indicações: -"Não trabalhar ao Sábado. Fazer comida na sexta-feira guardan- do-a a fim de em Shabath não acender fogo. Matar animais por degolação e co- brir o sangue deles corn terra. Não comer carne de porco, camelo, lebre, águia, abu- tre, milhano, coruja, etc, etc. Jejuar o maior jejum que caí em Se- tembro-(Kipur) orando nêsse dia descal- ços e pedindo perdão uns aos outros das faltas cometidas. Solenizar a Pascoa comendo pão azi- mo e resando saimos sem gloria patria. Atar ao braço umas correias segundo êles (Atafalis-Tefilim) Deitar fora as aguas dum morto considerando-as impuras. Dar a benção aos filhos passando-lhes a mão pela face". Era por estes sinais que reconhecariam os judeus, os quais teriam de denunciava á Inquisição, Aos que se quisessem arrepender eram dados 30 dias para se confessarem e de- pois teriam de denunciar outros judeus, quer fossem pais, mães, ou irmãos. Todos seriam condenados com pênas saúdaveis para a sua alma, diziam êles. Pretendera Frei Baltasar Limpo trans- formar a sinagoga de então numa igreja, sinagaga que era nem mais nem menos que a actual igreja de S. Bento da Vitó- ria. Todos os judeus teriam de concorrer para essa transformação, porem, êles pro- cederam como Nuno Gançalves-longe de auxiliar, faziam quanto podiam para o impedir. Dai o furor de D. Bartolomeu Limpo. Os cárceras da Inquisição eram os mais horrendos que se pode imaginar. No lugar de que necessitaria uma pessoa metiam meia duzia: De tal maneira humi- das que, a misera enxerga em que os po- bres enjaulados dormiam, apodreciam ao fim de oito dias. No lugar onde hoje se encontra a Rua Escura estava instalado o cárcere da In- quisição e foi ai que muitos dos nossos sofreram os horrores da prisão. Os julgamentos eram desta maneira, salvo excepções: "O réu vinha â casa do tormento pe- rante os ministros e era encarregado de descarregar a sua consciência. Se êle recusava eram chamados os executores, médico e cirurgião, os quais receberiam ordem de fazerem bem o seu oficio e levar o réu ao lugar do tormento para ser executado. Sendo o réu princi- piado a atar dir-lhe-há o notário, que, em nome dos inquisidores e dos demais ministros, que o foram no despacho do seu processo, se o réu no tormento mor- rer, quebrar algum membro, ou perder algum sentido a culpa será sua, pois, vo- luntariamente se expõe aquele perigo, que poderia evitar confessando as suas culpas; e não será dos ministros do Santo oficio, que fizeram justiça segundo o mereci- mento da sua causa Se o réu quer então confessar as suas culpas, é ouvido, mas, se elas não satisfazem os ministros o tor- mento continuará. Quantos no auge dos sofrimentos de- claravam, afim de obter um bocadinho de alivio, crimes que não haviam praticado! Nove pessoas eram sempre testemu- nhas contra os Judeus. -Quem era tão deshumano inquisi- tor? -Frei Biltasar Limpo, homem de ca- racter impetuoso fanático e violento. O promoltor era João de Avelar. Havia tam- bem um chaveiro, Antonio Pires, e era deste ultimo que, nas sombrias masmor- ras, as mais lindas donzelas de Israel ou- viram palavras torpes de amor sensual, sacrificadas á força, aos seus desejos libi- denosos, o que não era ignorado pelo bispo, que o tolerava. Toda a vida inquisitoríal era contada pelo bispo a El-Rei. Numa carta a este lé-se entre outras coisas:
N.º 053, Shebat 5693 (Fev 1933)
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