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Ha-Lapid הלפיד


N.º 053, Shebat 5693 (Fev 1933)







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         HA-LAPÍD               3
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-Que era pois necessário fazer?

-Exterminar do mundo dos vivos to-
dos os adoradores dêsse Deus, ou im-
por-lhe o cristianismo a ferro e fogo.

-E' para esse fim que foi organisada a
inquisição, monstro horrível como lhe
chama o Judeu Samuel Usque.

Nomeado Bispo do Porto D. Bartolo-
meu Limpo, é esplendidamente recebido
nesta cidade não faltando a camara no
cortejo de recepção. Em 1541 funda-se no
Porto a Inquisição.

Grande numero de expiões é encarre-
gado de descobrir os judeus pelas seguin-
tes principais indicações:

-"Não trabalhar ao Sábado.

Fazer comida na sexta-feira guardan-
do-a a fim de em Shabath não acender
fogo. Matar animais por degolação e co-
brir o sangue deles corn terra. Não comer
carne de porco, camelo, lebre, águia, abu-
tre, milhano, coruja, etc, etc.

Jejuar o maior jejum que caí em Se-
tembro-(Kipur) orando nêsse dia descal-
ços e pedindo perdão uns aos outros das
faltas cometidas.

Solenizar a Pascoa comendo pão azi-
mo e resando saimos sem gloria patria.
Atar ao braço umas correias segundo êles
(Atafalis-Tefilim) Deitar fora as aguas dum
morto considerando-as impuras. Dar a
benção aos filhos passando-lhes a mão
pela face".

Era por estes sinais que reconhecariam
os judeus, os quais teriam de denunciava
á Inquisição,

Aos que se quisessem arrepender eram
dados 30 dias para se confessarem e de-
pois teriam de denunciar outros judeus,
quer fossem pais, mães, ou irmãos.

Todos seriam condenados com pênas
saúdaveis para a sua alma, diziam êles.

Pretendera Frei Baltasar Limpo trans-
formar a sinagoga de então numa igreja,
sinagaga que era nem mais nem menos
que a actual igreja de S. Bento da Vitó-
ria.

Todos os judeus teriam de concorrer
para essa transformação, porem, êles pro-
cederam como Nuno Gançalves-longe
de auxiliar, faziam quanto podiam para o
impedir. Dai o furor de D. Bartolomeu
Limpo.

Os cárceras da Inquisição eram os
mais horrendos que se pode imaginar.

 

No lugar de que necessitaria uma pessoa
metiam meia duzia: De tal maneira humi-
das que, a misera enxerga em que os po-
bres enjaulados dormiam, apodreciam ao
fim de oito dias.

No lugar onde hoje se encontra a Rua
Escura estava instalado o cárcere da In-
quisição e foi ai que muitos dos nossos
sofreram os horrores da prisão.

Os julgamentos eram desta maneira,
salvo excepções:

"O réu vinha â casa do tormento pe-
rante os ministros e era encarregado de
descarregar a sua consciência.

Se êle recusava eram chamados os
executores, médico e cirurgião, os quais
receberiam ordem de fazerem bem o seu
oficio e levar o réu ao lugar do tormento
para ser executado. Sendo o réu princi-
piado a atar dir-lhe-há o notário, que,
em nome dos inquisidores e dos demais
ministros, que o foram no despacho do
seu processo, se o réu no tormento mor-
rer, quebrar algum membro, ou perder
algum sentido a culpa será sua, pois, vo-
luntariamente se expõe aquele perigo, que
poderia evitar confessando as suas culpas;
e não será dos ministros do Santo oficio,
que fizeram justiça segundo o mereci-
mento da sua causa Se o réu quer então
confessar as suas culpas, é ouvido, mas,
se elas não satisfazem os ministros o tor-
mento continuará.

Quantos no auge dos sofrimentos de-
claravam, afim de obter um bocadinho de
alivio, crimes que não haviam praticado!

Nove pessoas eram sempre testemu-
nhas contra os Judeus.

-Quem era tão deshumano inquisi-
tor?

-Frei Biltasar Limpo, homem de ca-
racter impetuoso fanático e violento. O
promoltor era João de Avelar. Havia tam-
bem um chaveiro, Antonio Pires, e era
deste ultimo que, nas sombrias masmor-
ras, as mais lindas donzelas de Israel ou-
viram palavras torpes de amor sensual,
sacrificadas á força, aos seus desejos libi-
denosos, o que não era ignorado pelo
bispo, que o tolerava.

Toda a vida inquisitoríal era contada
pelo bispo a El-Rei.
Numa carta a este lé-se entre outras
coisas:


 
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