HA-LAPID 3 ======================================== A Inquisição julgada por um dos seus funcionários "Ocupei o logar de secretário da inqui- sição de Madrid durante os anos de 1789, 1790 e 1791; e conheci bem a fundo êste estabelecimento para o julgar vicioso nos seus principios, constituição e leis, apezar das apologias que lhe teem feito. Foi isto que me lançou a aproveitar-me das vanta- gens que me oferecia a minha posição, para juntar as peças, notar extratos e outros do- cumentos interessantes relativos à sua his- tória. ...pelas aquisições que fiz em 1809, 1810 e 1811, quando o Tribunal da Inquisi- ção de Espanha foi suprimido. Nessa época todos os seus arquivos foram postos à minha disposição, desde 1809 até 1812, aí rebus- quei tudo que me pareceu mais essencial nos registos do Conselho da Inquisição e dos tribunais das províncias. ......................................... ...sou o único em condições de satisfa- zer a curiosidade dos que desejarem conhe- cer a verdadeira História da Inquisição de Espanha, por que os materiais necessários para a compor, só existiram entre as minhas mãos; mas em tão grande número, para uti- lidade do meu empreendimento, que hão de suprir talvez ao talento que seria preciso ter para os empregar. .......................................... Durante a minha estada em Londres, ouvi dizer a alguns católicos que a inquísi- ção era útil em Espanha para a conservação da fé católica; o que iludia estas pessoas, era acreditar que bastava ser bom católico para nada ter que recear do Santo Ofício, enquanto que pelo contrário o segrêdo que envolve o proceder inquisitorial é causa de que nove décimas dos presos são reputados culpados, ainda que bons católicos, porque a ignorância ou maldade dos denunciantes os faz processar por motivos que não são susceptíveis dum sentido heretico senão no juizo dum monge ignorante, que passa por hábil na sociedade por haver estudado a teologia da escola. A Inquisição sustenta e encoraja a hipocrisia; só pune os que não sabem ou não querem por essa máscara, mas é ela incapaz de operar alguma conver- são; prova isto o exemplo dos judeus e dos mouriscos que se fizeram batisar sem esta- rem verdadeiramente convertidos, só para ter a liberdade de ficar em Espanha. Os primeiros morreram nas fogueiras da inqui- sição; os outros passaram à Africa com os mouros, tão maometanos como os seus an- tepassados antes de serem batisados. .......................................... Sou católico, e nenhum inquísidor deseja mais do que eu a pureza da fé. Desejo sin- ceramente ver a Espanha feliz; mas estas disposições não me poderiam impedir-me de acreditar que a minha pátria gosaria mais da felicidade de que é digna, se a vigilância da fé e dos costumes estivesse confiada aos bispos, como esteve durante vários séculos, pois que estaria então, parece-me, muito mais de acordo com o espírito do cristianis- mo e da Sagrada Escritura, onde lêmos que o Espírito Santo (e não S. Pedro nem os papas) encarregaram os bispos de governar a Egreja de Deus adquirida pelo precioso sangue de N. S. Jesus Cristo. ......................................... Reconhecer-se-á que a conduta do Santo Oficio foi uma das principais causas que enfraqueceram a população de Espanha. obrigando uma numerosa multidão de famí- lias a abandonar o reino; provando a expul- são dos judeus e mouros; imolando nas fo- gueiras, por espaço de 3 séculos, mais de 300 mil pessoas, e, parando, por um cego zelo de religião, os progressos das artes, da in- dústria e do comércio, que teriam feito a glória e a felicidade da nação, se se tivesse deixado livre a entrada no reino aos ingle- zes, francezes e holandezes, somente com al- gumas precauções convenientes para impe- dir a invasão das más doutrinas. .......................................... 0 inquísidor Geral e o Conselho do Santo Oficio recusam submeter-se às bulas do Papa, todas as vezes que as disposições lhes não conveem, sob o pretexto de que as leis do reino e as ordens do govêrno es- panhol não permitem que com elas se con- formem, ao mesmo tempo que iludem as ordenanças do rei, quando bem lhes parecem, alegando para isso pretendidas bulas do papa, que lhe proíbem de as acatar sob pena de excomunhão; e, enfim, sabem-se tornar independentes das duas potências, quando os assuntos ficam enterrados no se- gredo de que usam, ........................................... Nunca algum prisioneiro da Inquisição viu o seu processo, e ainda menos o dum outro
N.º 078, Shebat-Adar 5697 (Jan-Fev 1937)
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