4 HA-LAPID ========================================== acusado. Nunca the foi permitido saber da sua própria causa mais do que êle podesse apreender pelos interrogatórios e acusações, às quais era obrigado a responder, e pelos extratos das declarações testemunhais que lhe comunicavam, ocultando-lhe, não só os nomes das testemunhas e as circunsmncias do logar, tempo e pessoa, que poderiam dai elementos para a descoberta dos seus denunciantes; mas também o que os depoi- mentos podiam conter de favorável à defeza; segundo o principio de que o acusado só devia ocupar-se em responder aos pontos de acusação, e de que só competia ao julgador comparar em sua sabedoria, as respostas dadas com que foi dito em seu descargo. ......................................... Será fácil de se convencer (examinando o quadro que apresento) que o judaismo não foi senão o pretexto para o estabeleci- mento da Inquisição por Fernando V, e que o verdadeiro motivo desta medida extraor- dinária foi para pôr em vigôr contra os ju- deus um sistema de confiscações que devia fazer passar todas as suas riquesas para as mãos do govêrno, enquanto que Sixto IV por seu lado só tinha o desígnio de realisar o projecto (tão querido à côrte de Roma) de ampliar o seu dominio; que Carlos V o pro- tegeu por política, persuadido de que era o único meio de impedir que a heresia de Lu- tero penetrasse na Espanha. ......................................... "E' mais honroso descender de judeus do que de pagãos, porque se encontrou nestes últimos quem tivesse iniciado aos ídolos vitimas humanas; e os espanhois só começaram a vangloriar-se de não descender de judeus quando a politica da Inquisição fez encarar como perigoso e humilhante ter-se esta origem. Entre os descendentes dos judeus em Espanha, em linha masculina, encontra-se os Arias Davila, condes de Puñarostro: e acrescento que quási todos os grandes do reino deles descendem por linha femenina; observação que seria possível fazer recuando mais longe na história de Espanha e Portu- gal." Da "Histoire Critique de l'inquisition d'Espagne". (Tirada das peças originais dos arquivos do Con- sell Supremo e dos Tribunais subalternos do Santo Oficio), por D. Juan António Llorente antigo secretario da Inquisição de Madrid-Impresso em Paris-1817. AOS MATERIALISTAS A existência de Deus por NORBERTO A. MORÊNO Já, mais que uma vez, nos referimos nas colunas de Ha-Lapid ao tema simultânea- mente delicado e complicado da existência de Deus. Retomamo-lo hoje porque tudo quanto se tem dito e mesmo de futuro se possa dizer será sempre insuficiente. Na religião israelita há apenas um dogma, princípio fundamental, que é precisamente a existência do Saberano Creador, daquêle que é, foi e será, como, num lato sentido, diz a Biblia. Não é desconhecida a tendência dos partidários do credo mosaico para fugir ao mistério, tentando desvendar à luz da razão todos os factos. Por isso temos visto a muitos escritores judeus focar sob múltiplos aspectos éste assunto. Desta vez é que nem é um escritor que dêle vem falar nem é sob um novo aspecto que vai encara-lo. E apenas um humilde "rabiscador", animado do desejo de, sem se embrenhir em profun- das filosofias, auxiliar, sobretudo aquêles que constituem as cinzas da inquisição, a- fugir a essa onda materialista que por ai fora vai cobrindo todos aqueles que não possuam uma crênça suficientemente pro- funda ou que recusem pôr tôda a sua inte- ligência ao serviço desta Causa Soberana. Além dêsses que nos escutem aquéles que baidaddamente têm passado parte da sua vida tentando compreender êsse puro espi- rito a que obedece tanto o material como o imaterial. Mas, desde o princípio, não se iludam: essa compreensão nunca será per- feita pela simples razão de que o imperfeito, nós, não poderá jamais abranger o perfeito "Êle". Apesar-dísso não desistimos de oferecer o nosso insignificante auxilio para a com- preensão da Sua existência, porque a com- preensão da existência duma coisa difere muito da compreensão nítida dessa coisa, Acrescentemos ainda que não vimos expôr ideas ou teorias nossas; aproveitare- mos apenas algumas que Flammarion traz no seu iivro "Deus na Natureza", por ser êste um escritor de respeitável autoridade cien- ' tifica. Para nós, Deus é uma força creadora e
N.º 078, Shebat-Adar 5697 (Jan-Fev 1937)
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