4 HA-LAPID ======================================== A noção de alma entre os Israelitas por NORBERTO A. MORÊNO O problema da alma é tão delicado, tào subtil, tão transcendente e tão filosó- fico que apresentá-lo representa apresen- tar tema para discussões capazes de se prolongar indefenidamente sem nunca se chegar a um perfeito acôrdo, visto que obriga a embrenhar em labirintos donde dificilmente se sai, donde a nossa imper- feição e a nossa mesquinhez se revela e donde, por isso, nunca se faz uma luz su- ficientemente íntensa para iluminar clara- mente a nossa razão ou o nosso intelecto. Se hoje cometo a ousadia de o apre- sentar é porque a afirmação de um escri- tor de incontestável valor, tanto no campo das letras como no das ciências, a isso obriga. Trata-se de A. Maury que, no seu livro "La Terre et l'Homme", pag. 595, afirma: "Os hebreus não acreditavam na alma pessoal nem na sua imortalidade". Gabriel Delanne aproveita a afirmação acrescentando em "A Alma é Immortal": "Era necessário que êsse povo fôsse para o cativeiro de Babilônia, para que, entre os seus vencedores, se compenetrasse da idea da imortalidade, assim como da ver- dadeira composição do homem." Ora, estas palavras pronunciadas por dois intelectuais, levam quem as ler e não conheça bem a mentalidade do povo Is- raelita nem se resolva a estuda-la cons- cienciosemente, a concluir que se trata dum povo essencialmente materialista e, por isso, incapaz de compreender os ele- vados problemas do espírito. Lamentável engano e infeliz idea! Representa precisamente o contrário da realidade. A vida e e religião- deste povo são, por si só, provas claras e evi- dentes de que a afirmação feita é absolu- tamente falsa e de que, pelo contrário, é um povo altamente idealista, tão idealista que os povos dêle contemporâneos jámais o compreenderam, jámais poderam con- ceber os elevados planos em que a sua mentalidade pairava, bem como os seus sonhos de paz, amor e fraternidade uni~ versais. Para não me alongar em comentários a essa afirmação que parece incrivel tenha sido feita por intelectuais, direi que os representantes desse povo provam clara- mente, ainda hoje, que se preocuparam sempre muito mais com os problemas do espirito do que com os da matéria. E, assim temos de confessar que é um povo caracteristicamente intelectual e que foi o primeiro a adquirir uma civilização digna de ser admirada. O seu triunfo e a sua existência que remonta à cerca de 60 sé- culos, deve-a não ao seu número nem à. fôrça do seu braço, mas sim ao seu espi- rito. O seu escudo foi sempre a Biblia Sagrada, produto vivo da sua mentalidade, livro simplesmente formidável onde foram beber todas as modernas civilizações. Posto isto, que julgo ser o suficiente para mostrar o grave êrro de Maury e Delenne, vou embrenhar-me no complicado labirinto a que comecei por me referir, tentando explicar com a maior nitidez e simplicidade possiveis, a noção que êsse povo tinha do leolam habah (mundo fu- turo) ou post-mortem bem como da divisão da personalidade humana. Verdade é que êsse povo não é dos que apresenta os problemas com o estú- pido severo aspecto do "crês ou morres" e que, pelo contrário, respeita as opiniões de todos as creaturas autorizadas, regis- ta-as e concede aos seus representantes plena liberdade de, entre elas, escolher as que mais em conformidade estiverem com a sua maneira de pensar. Por essa razão, é natural que entre elas se encon- tre quem discordo da minha opinião, mas, estou bem certo, será apenas no respei- tante a detalhes, que o esbôço será exacto. Creado o homem, Deus insufla-lhe uma alma que representa nada mais nada menos que uma centelha do Seu Puro, Imaterial e sumameute Perfeito Sêr. Essa centelha possue todos os atributos da sua origem, embora muitissimo mais limitados. E' susceptível de se deixar influenciar, pela matéria e por ele ser manchada ou. maculada, bem como, depois de chegar a êste ponto, de se purificar novamente, até que, após um ciclo completo de evo-
N.º 079, Yiar 5697 (Abr 1937)
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