N.° 95 PORTO - Luas de Setembro e Outubro - 5700 (1939 e.v.) ANO XIV ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos, para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O 10 de Novembro da Germania Nazi Na véspera do dia 1O de Novembro de 1939, pelas 21 horas se celebrou na nossa monumental Sinagoga Kadooríe do Pôrto. Catedral Judaica do Norte de Portugal. uma cerimónia religiosa em sufrágio das vítimas do massacre de israelitas na Ger- mania Nazi, realizado, há um ano, sob o pretexto de que um jovem tresloucado judeu polaco tinha morto em París um funcionário da embaixada alemã, a quem atribuia a desventura da sua familia. Nessa acção tumultuosa foram queima- das sinagogas e livros sagrados, bem como outros objectos de piedade e de saudosa memória. Em comemoração dêste dia fu- nesto a Comunidade Israelita do Pôrto (Kahal Kadosh Mekor Haím) a-fim-de dar um confôrto moral a imigrados judeus alemãis realizou este acto de culto tendente a levantar os corações e a confortar as almas dos que violentamente foram obrigados a abandonar a terra em que nasceram. Perante uma numerosa assistência, não só de judeus estrangeiros como de portu- gueses, começou a cerimónia litúrgica, sendo oficiante, por especial obséquio, o nosso amigo Menasseh Ben-Dob, sendo acolitado pelos morim Samuel Rodrigues e David Moreno. No final da oração de Alem, subiu ao púlpito, como DARSAN (orador) o rev. Da- vid Moreno, que pronunciou o seguinte Darush (sermão): MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES: Foi na véspera do passado Tisheah-Beab que nós ouvimos neste lugar explicar o que das nossas tradições mais directamente se liga aquêle dia a destruição do templo, as casas em ruinas, etc. Durante êsse dis- curso lembrei-me que nós, na época actual fomos testemunhas dum novo Tisheah-Beab. Foi no dia 10 de Novembro do ano passado que nós, à noite ouvimos, pelo rádio, falar dos "progromos" na Alemanha. Poucas horas depois líamos nos jornais as respectivas e tristes confirmações. Nós, em Portugal, estávamos então em segurança; somente ouvíamos e líamos: mas hoje há muitos entre nós que nessa altura viveram para ver, sofrer e sentir os acontecimentos pessoalmente. São êles que têm visto as Sinagogas queimadas; são eles que têm visto estupi- damente destruídos os seus bens. Qual o seu crime? Foram maus cidadãos? Não. O seu único e grande crime é serem judeus, é existirem, impotentes e silenciosos tive- ram de sofrer, pois que uma palavra de oposição, um gesto apenas, podia ter novas conseqüências, novas opressões, podia até custar a saude ou a vida. Muitos deles, que actualmente se encon- tram entre nós, foram conduzidos nessa altura à cadeia, tal-qual como há 1900 anos os nossos antepassados o foram à escra- vidão. Os telegramas que, há um ano, chega- ram aos filhos residentes aqui, os pedidos urgentes para a reclamação dos pais e dos irmãos e para os libertarem das cadeias e dos campos de concentração representavam cada um uma tragédia, uma última e de- sesperada tentativa para salvar uma vida e conservar uma família.
N.º 095, Tishri-Heshvan 5700 (Set-Out 1939)
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