HA-LAPID 3 ====================================== NESHIKAH (O BEIJO RITUAL) No período antigo da sociedade o gesto e a acção eram mais expressivos do que a linguagem humana como meios de comunicação entre os homens, porque as palavras eram então pouco numerosas e a complexa maquinaria do falar estava ainda no seu estado rudimentar, incapaz pois de traduzir ou testemunhar sentimentos. Esta dificuldade, característica em tôdas as na- ções nas épocas primitivas, predispunha o homem para uma geral taciturnidade com uma ocasional erupção de ardente, abrupta ou copiosa eloqüéncia de gestos (actos que falam mais que palavras). Nesta lingua- gem de acção, um beijo era naturalmente a expressão e o simbolo de afeição, de es- tima, de respeito e de reverência. Este costume aparece-nos de longa dita. A Bíblia dá-nos o testemunho dêste vé- lho uso. No Velho Testamento: -Jacob beija seu pai Isaac (Gênesis, cap. 27, vers. 26 e 27). -Jacob beija sua prima Raquel (Géne- sis, cap. 29, vers. 11). -Laban abraça e beija seu sobrinho Jacob (Gênesis. cap. 29. vers. 13). -Esav abraça e beija seu irmão -Jacob (Genesis. cap. 33. vers. 4). - Aarão beija seu irmão Moisés (Êxodo, cap. 4, vers. 27). -Moisés beija seu sôgro Jetro (Êxodo, cap. 18. vers. 7). -Noémia beija as suas noras Ruth e Orpha (Ruth, cap. 1. vers. 9). -Orpha beija sua sogra Noémia ao despedir-se dela (Ruth, cap. 1. vers. 14). -Samuel. o profeta, sagra Saúl Ben- -Kis, rei dos israelitas e beija-o ao findar ésse acto solene (1 Samuel, cap. 10, vers. 1). - David e seu cunhado Jonatan beijam- -se mutuamente (1 Samuel, cap. 20, vers. 41). -Absalam, filho do rei David, a todo o partidário que se lhe apresentava, aper- tava-lhe a mão e beijava-o (II Samuel. cap. 15, vers. 5). -O chefe militar Joab beija o chefe militar Amasa (II Samuel, cap. 20. vers. 9). No livro apócrifo de Tobias (de autor judaico): -Raquel beija seu primo Tobias (To- bias, cap. 7. vers. 6). -Os pais beijam a noiva de Tobias (Tobias. cap. 10. vers. 12). No Novo Testamento também há teste- munho dêste vélho uso entre judeus, pois que os primeiros nazarenos eram Judeus: -Judas saüda o seu mestre Jesus com um beijo na face (Mateus, cap. 26, vers. 48). -Jesus censura Simão por o não bei- jar, quando entrou na sua casa (Lucas, cap. 7, vers. 45). -O filho pródigo beija seu pai ao mostrar o seu arrependimento (Lucas, cap. 15. vers. 20). - Os fiéis nazarenos beijam o apóstolo Paulo (Actos dos apóstolos, cap. 20, vers. 37). -O apóstolo Paulo recomenda aos fiéis que mutuamente se saüdem com um beijo santo (Epístola aos romanos, cap. 16, vers. 16; I Coríntios, cap. 16. vers. 20; II Coríntios, cap. 13: I Tessalónicos, cap. 5, vers. 26). -O apóstolo Pedro (o 1.° papa) reco- menda aos seus fiéis: Saüdai-vos uns aos outros com um beijo de caridade (I Epis- tola de Pedro, cap. 5. vers. 14). Na Idade-Média os Rabis reduziram os beijos solenes a três espécies: de reve- rência, de recepção e de demissão ou despedida (Bereshith Rabbah sôbre o Gé- nesis XXIX, 11). No Oriente, entre os povos semitas, é muito usado o beijo solene nas condições que os nossos Rabis indicam. Em França se pratica tal acto no momento solene de condecorações. Em Portugal, especialmente no Norte, as senhoras cristãs mais conser- vadoras, usam vários costumes judaicos: não vão à igreja sem cobrirem a cabeça e saüdam-se entre si com o beijo ritual. Também os homens o praticam em actos de solene emoção. Igualmente êsse uso é praticado entre os judeus sefardim (do rito português ou espanhol) do Mediterrâneo. Na Yeshibah Rosh Pinah (instituto Teológico do Pôrto) nos casos prescritos pelos Rabis medievais pratica-se ésse acto solene.
N.º 095, Tishri-Heshvan 5700 (Set-Out 1939)
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