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N.º 095, Tishri-Heshvan 5700 (Set-Out 1939)







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NESHIKAH

(O BEIJO RITUAL)

No período antigo da sociedade o gesto
e a acção eram mais expressivos do que
a linguagem humana como meios de
comunicação entre os homens, porque as
palavras eram então pouco numerosas e a
complexa maquinaria do falar estava ainda
no seu estado rudimentar, incapaz pois de
traduzir ou testemunhar sentimentos. Esta
dificuldade, característica em tôdas as na-
ções nas épocas primitivas, predispunha o
homem para uma geral taciturnidade com
uma ocasional erupção de ardente, abrupta
ou copiosa eloqüéncia de gestos (actos que
falam mais que palavras). Nesta lingua-
gem de acção, um beijo era naturalmente
a expressão e o simbolo de afeição, de es-
tima, de respeito e de reverência. Este
costume aparece-nos de longa dita.

A Bíblia dá-nos o testemunho dêste vé-
lho uso.

No Velho Testamento:

-Jacob beija seu pai Isaac (Gênesis,
cap. 27, vers. 26 e 27).

-Jacob beija sua prima Raquel (Géne-
sis, cap. 29, vers. 11).

-Laban abraça e beija seu sobrinho
Jacob (Gênesis. cap. 29. vers. 13).

-Esav abraça e beija seu irmão -Jacob
(Genesis. cap. 33. vers. 4).

- Aarão beija seu irmão Moisés (Êxodo,
cap. 4, vers. 27).

-Moisés beija seu sôgro Jetro (Êxodo,
cap. 18. vers. 7).

-Noémia beija as suas noras Ruth e
Orpha (Ruth, cap. 1. vers. 9).

-Orpha beija sua sogra Noémia ao
despedir-se dela (Ruth, cap. 1. vers. 14).

-Samuel. o profeta, sagra Saúl Ben-
-Kis, rei dos israelitas e beija-o ao findar
ésse acto solene (1 Samuel, cap. 10, vers. 1).

- David e seu cunhado Jonatan beijam-
-se mutuamente (1 Samuel, cap. 20, vers. 41).

-Absalam, filho do rei David, a todo
o partidário que se lhe apresentava, aper-
tava-lhe a mão e beijava-o (II Samuel.
cap. 15, vers. 5).

-O chefe militar Joab beija o chefe
militar Amasa (II Samuel, cap. 20. vers. 9).

No livro apócrifo de Tobias (de autor
judaico):



-Raquel beija seu primo Tobias (To-
bias, cap. 7. vers. 6).

-Os pais beijam a noiva de Tobias
(Tobias. cap. 10. vers. 12).

No Novo Testamento também há teste-
munho dêste vélho uso entre judeus, pois
que os primeiros nazarenos eram Judeus:

-Judas saüda o seu mestre Jesus com
um beijo na face (Mateus, cap. 26, vers. 48).

-Jesus censura Simão por o não bei-
jar, quando entrou na sua casa (Lucas,
cap. 7, vers. 45).

-O filho pródigo beija seu pai ao
mostrar o seu arrependimento (Lucas,
cap. 15. vers. 20).

- Os fiéis nazarenos beijam o apóstolo
Paulo (Actos dos apóstolos, cap. 20,
vers. 37).

-O apóstolo Paulo recomenda aos
fiéis que mutuamente se saüdem com um
beijo santo (Epístola aos romanos, cap. 16,
vers. 16; I Coríntios, cap. 16. vers. 20;
II Coríntios, cap. 13: I Tessalónicos, cap. 5,
vers. 26).

-O apóstolo Pedro (o 1.° papa) reco-
menda aos seus fiéis: Saüdai-vos uns aos
outros com um beijo de caridade (I Epis-
tola de Pedro, cap. 5. vers. 14).

Na Idade-Média os Rabis reduziram
os beijos solenes a três espécies: de reve-
rência, de recepção e de demissão ou
despedida (Bereshith Rabbah sôbre o Gé-
nesis XXIX, 11).

No Oriente, entre os povos semitas, é
muito usado o beijo solene nas condições
que os nossos Rabis indicam. Em França
se pratica tal acto no momento solene de
condecorações. Em Portugal, especialmente
no Norte, as senhoras cristãs mais conser-
vadoras, usam vários costumes judaicos:
não vão à igreja sem cobrirem a cabeça e
saüdam-se entre si com o beijo ritual.
Também os homens o praticam em actos
de solene emoção.

Igualmente êsse uso é praticado entre
os judeus sefardim (do rito português ou
espanhol) do Mediterrâneo. Na Yeshibah
Rosh Pinah (instituto Teológico do Pôrto)
nos casos prescritos pelos Rabis medievais
pratica-se ésse acto solene.


 
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