2 HA-LAPID ======================================= COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS Don Yahia Ben-Yahia (Um dos colaboradores de D. Afonso Henriques) Por A. C. de BARROS BASTO (Continuação do numero 100) Vejamos agora qual foi a influência do movimento almóada na vida judaica penín- sular: Como narramos, Abd-Almumen, chefe dos almóadas. Emir Almumenin (Principe dos crentes) caminhando de vitória em vitória. destruiu o império dos almorávidas e o seu dominio estendeu-se de-pressa sôbre toda a África do Norte. No seu fanatismo ardente, este chefe venturoso não tolerava crença alguma dife- rente da sua. Quando se apoderou de Fez, fêz convocar a Comunidade Judaica, muito numerosa, daquela cidade, e disse-lhe: -Vós negais a missão do Profeta e esperais um Messias. Já passou muito tempo e o vosso Messias não apareceu. Não podemos, por mais tempo, tolerar a vossa incredulidade. Escolhei: o Islam ou a morte! Os judeus ficaram desesperados. Re- considerando, Abd-Almumen permitiu que emigrassem os judeus que não queriam abjurar. Muitos, que deixaram a África, foram estabelecer-se em Espanha. O maior número converteu-se aparentemente ao Islamismo, esperando tempos melhores. Êste procedimento impiedoso era apli- cado a todos os judeus das regiões que caiam em poder dos almóadas. Os cris- tios sofreram a mesma sorte, mas como havia na Espanha reinos cristãos, na sua maior parte preferiram retirar-se para junto dos seus correligionários. Sinagogas e igrejas foram destruídas em todo o impé- rio almóada. Os judeus tinham-se facilmente resi- gnado a praticar exteriormente o islamismo, porque esse culto se limitava a fórmulas de reconhecimento da missão do Profeta e a algumas cerimónias monoteístas, isentas de toda a idolatria. Estas considerações tranqüilizavam a consciência de vários rabinos muito piedo- sos. De-resto, os almóadas contentavam-se com a aparência e não exerciam a menor vigilância sobre os falsos convertidos. Estes não somente praticavam em segredo a religião judaica, mas continuavam a entregar-se activamente aos estudos talmú- dicos e reuniam nas suas escolas a juven- tude estudiosa, que ia, em seguida, por obrigação, ouvir explicações do Koran. Contudo houve homens enérgicos a quem repugnava esta hipocrisia; estes confessa- ram publicamente o judaismo e morreram mártires da sua fé. Entre estas vitimas, cita-se em primeiro lugar uma autoridade talmúdíca: Judah Ha-Kohen Ben-Sussan. de Fez. Na Peninsula, em todos os territórios que caiam na mão dos almóadas sucedia o mesmo. As sinagogas sumptuosas de Anda- luzia foram pilhadas e destruídas. O velho Rabi de Córdova, Joseph Ben-Sadik, teve a dor de assistir à ruína da sua comunidade, a mais antiga e a mais considerável do pais e morreu pouco depois (1148-1149)- As grandes academias judaicas de Sevilha e de Lucena foram fechadas. Rabi Meir filho e sucessor do chefe da Escola, de Joseph Ibn-Migash, emigrou para Toledo e foi seguido por todos que puderam sub- trair-se ao jugo dos conquistadores. Os seus bens foram confiscados e as suas familias reduzidas à escravidão- Quanto aos outros, converteram-se osten- sivamente ao islamismo, mas praticavam em segrêdo a sua verdadeira fé, esperando um momento favorável para arrancarem a
N.º 101, Tishri-Heshvan 5701 (Set-Out 1940)
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