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N.º 101, Tishri-Heshvan 5701 (Set-Out 1940)







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             HA-LAPID                5
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cidades, nem os suspendia a derramarem
o sangue da sua própria nação; e viu-se o
fogo desta cruel guerra civil incendiar com
as suas chamas até o Templo de Deus:
tão perigoso é querer-se violar as Leis e
os costumes das Nações.

A vaidade, que Judah e Sadoc conce-
beram de estabelecerem uma quarta Seita,
e de aliciarem a si todos os que gostavam
de novidades, foi a origem dêste mal. Não
perturbou então sómente tôda a Judeia;
mas lançou as sementes de tantos males,
com que depois foi afligida.

Por isto julgo conveniente dizer alguma
cousa sobre as máximas desta Seita.

             CAP. II

Das quatro Seitas dos Judeus

Aquêles que entre os Judeus afectavam
professar sabedoria, estavam havia muitos
séculos divididos em três Seitas: Essenia-
nos, Saducianos e Faresianos, dos quais
já falei no segundo Livro das Guerras
dos Judeus, e agora direi mais alguma
cousa.

O modo de viver dos Fariseus não era
efeminado, nem de regalos, mas simples:
pertinazes nas suas opiniões; honradores
dos velhos que nunca se atreviam a des-
mentir. Atribuiam ao destino tudo o que
sucedia, sem contudo tirarem ao homem
o poder de acção; de sorte que movendo-se
tudo por ordem de Deus, êles o faziam
dependente da nossa vontade, para nos
inclinar aos vícios, ou às virtudes. Criam
na imortalidade da alma; que ela era jul-
gada no outro mundo, e premiada ou pu-
nida conforme seus merecimentos; que
umas ficavam eternamente prisioneiras no
outro mundo e que outras voltavam a este.
Por esta crença adquiriram tão grande
autoridade entre o povo, que éle segue os
seus sentimentos em tudo o que respeita
ao culto de Deus, e as preces solenes que
se lhes faz: assim, cidades inteiras eram
testemunhas fidedígnas da sua virtude, do
seu modo de viver e dos seus discursos.

A Seita dos Saducianos seguia que as
almas morrem com os corpos: que a única
obrigação que temos, é observar a Lei, por
ser uma acção virtuosa; não contradizer a
ciência daqueles que a ensinam.



Os sectários déste partido são em pe-
queno número, mas composto de pessoas
de maior autoridade. Nada se faz sem seu
conselho; e quando ocupam cargos honro-
sos, são obrigados a conformar-se com o
ditame dos Fariseus, porque de outra forma
o povo os não sofreria.

Os Essenianos, que fazem a terceira
Seita, atribuem tudo sem excepção à pro-
vidência de Deus. Créem na imortalidade
da alma e julgam dever-se trabalhar com
tôdas as forças para se praticar a justiça.
Satisfazem-se de mandar as suas ofertas ao
Templo, sem irem ali fazer sacrifícios, por-
que êles em particular os fazem com ceri-
mónias ainda maiores. Os seus costumes
são irrepreensíveis e a sua ocupação é a
cultura das terras. A sua virtude é tão
admirável, que muito excede à dos Gregos
e outras Nações, e nisso fazem continua-
damente particular estudo. Os seus bens
são em comum, tanto pobres, como ricos,
e o seu número mais de quatro mil.

Não têm mulheres, nem criados, por se
persuadirem que as mulheres em nada
contribuem ao sossego da vida; e que os
criados era ofender a natureza, que a todos
fêz iguais; assim serviam-se uns aos outros,
escolhendo pessoas de bem da ordem dos
Sacerdotes, para que recebam tudo o que
recolhem da sua cultura e tenham cuidado
de os sustentar a todos.

Êste modo de viver é quási semelhante
ao daqueles que se chamam Plistas entre
os Dacios.

Judah, de quem já falamos, foi o autor
da quarta Seita. Ela era em tudo seme-
lhante à dos Fariseus, excepto sustentarem
seus sectários que não há mais que um só
Deus, a quem se deve reconhecer por Se-
nhor e Rei. Entusiastas da sua liberdade,
sofrem antes os mais cruéis tormentos, do
que sujeitarem-se a dar a qualquer homem
o nome de Senhor e de Rei. Sóbre isto
me não alargarei mais, por ser cousa sabida
de todos, e eu não poderei exprimir até
que ponto chega o valor incrível, a paciên-
cia e o desprêzo com que eles sofrem os
tormentos.

Mas esta invencível constância de âni-
mo se aumentou ainda mais pelo vergo-
nhoso modo, com que Gussio Floro, Go-
vernador da Judeia, tratou a nossa Nação,
que a obrigou a sublevar-se contra os
Romanos.


 
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