HA-LAPID 5 ======================================= cidades, nem os suspendia a derramarem o sangue da sua própria nação; e viu-se o fogo desta cruel guerra civil incendiar com as suas chamas até o Templo de Deus: tão perigoso é querer-se violar as Leis e os costumes das Nações. A vaidade, que Judah e Sadoc conce- beram de estabelecerem uma quarta Seita, e de aliciarem a si todos os que gostavam de novidades, foi a origem dêste mal. Não perturbou então sómente tôda a Judeia; mas lançou as sementes de tantos males, com que depois foi afligida. Por isto julgo conveniente dizer alguma cousa sobre as máximas desta Seita. CAP. II Das quatro Seitas dos Judeus Aquêles que entre os Judeus afectavam professar sabedoria, estavam havia muitos séculos divididos em três Seitas: Essenia- nos, Saducianos e Faresianos, dos quais já falei no segundo Livro das Guerras dos Judeus, e agora direi mais alguma cousa. O modo de viver dos Fariseus não era efeminado, nem de regalos, mas simples: pertinazes nas suas opiniões; honradores dos velhos que nunca se atreviam a des- mentir. Atribuiam ao destino tudo o que sucedia, sem contudo tirarem ao homem o poder de acção; de sorte que movendo-se tudo por ordem de Deus, êles o faziam dependente da nossa vontade, para nos inclinar aos vícios, ou às virtudes. Criam na imortalidade da alma; que ela era jul- gada no outro mundo, e premiada ou pu- nida conforme seus merecimentos; que umas ficavam eternamente prisioneiras no outro mundo e que outras voltavam a este. Por esta crença adquiriram tão grande autoridade entre o povo, que éle segue os seus sentimentos em tudo o que respeita ao culto de Deus, e as preces solenes que se lhes faz: assim, cidades inteiras eram testemunhas fidedígnas da sua virtude, do seu modo de viver e dos seus discursos. A Seita dos Saducianos seguia que as almas morrem com os corpos: que a única obrigação que temos, é observar a Lei, por ser uma acção virtuosa; não contradizer a ciência daqueles que a ensinam. Os sectários déste partido são em pe- queno número, mas composto de pessoas de maior autoridade. Nada se faz sem seu conselho; e quando ocupam cargos honro- sos, são obrigados a conformar-se com o ditame dos Fariseus, porque de outra forma o povo os não sofreria. Os Essenianos, que fazem a terceira Seita, atribuem tudo sem excepção à pro- vidência de Deus. Créem na imortalidade da alma e julgam dever-se trabalhar com tôdas as forças para se praticar a justiça. Satisfazem-se de mandar as suas ofertas ao Templo, sem irem ali fazer sacrifícios, por- que êles em particular os fazem com ceri- mónias ainda maiores. Os seus costumes são irrepreensíveis e a sua ocupação é a cultura das terras. A sua virtude é tão admirável, que muito excede à dos Gregos e outras Nações, e nisso fazem continua- damente particular estudo. Os seus bens são em comum, tanto pobres, como ricos, e o seu número mais de quatro mil. Não têm mulheres, nem criados, por se persuadirem que as mulheres em nada contribuem ao sossego da vida; e que os criados era ofender a natureza, que a todos fêz iguais; assim serviam-se uns aos outros, escolhendo pessoas de bem da ordem dos Sacerdotes, para que recebam tudo o que recolhem da sua cultura e tenham cuidado de os sustentar a todos. Êste modo de viver é quási semelhante ao daqueles que se chamam Plistas entre os Dacios. Judah, de quem já falamos, foi o autor da quarta Seita. Ela era em tudo seme- lhante à dos Fariseus, excepto sustentarem seus sectários que não há mais que um só Deus, a quem se deve reconhecer por Se- nhor e Rei. Entusiastas da sua liberdade, sofrem antes os mais cruéis tormentos, do que sujeitarem-se a dar a qualquer homem o nome de Senhor e de Rei. Sóbre isto me não alargarei mais, por ser cousa sabida de todos, e eu não poderei exprimir até que ponto chega o valor incrível, a paciên- cia e o desprêzo com que eles sofrem os tormentos. Mas esta invencível constância de âni- mo se aumentou ainda mais pelo vergo- nhoso modo, com que Gussio Floro, Go- vernador da Judeia, tratou a nossa Nação, que a obrigou a sublevar-se contra os Romanos.
N.º 101, Tishri-Heshvan 5701 (Set-Out 1940)
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