HA-LAPID 3 ====================================== H'ASSIDIM O flagelo da Guerra Europeia trouxe até Portugal alguns judeus H'assidim; julgamos ser nosso dever ensinar aos por- tugueses o que êste nome significa. H'assid, plural H'assidim (piedosos) é o nome duma seita judaica fundada em 1740 na Polónia meridional por Israel Ben-Elie- zer, cognominado Baal Shem Tob (o senhor do Nome divino) ou como abreviadamente me chamavam, Besht. Houve desde épocas remotas duas cor- rentes no judaismo; uns partidários do formalismo ritual, e outros duma tendência mística; dai a oposição entre os Fariseus e os Essénios, na época do segundo templo, entre Talmudistas e Cabalistas na Idade- Média, entre H'assidim e Ortodoxos na segunda metade do século XVIII. Os excessos do ritualismo e do legalis- mo, nos quais tinham caido nesta época as comunidades judaicas, deviam fatalmente produzir uma forte reacção mística. Os H'assidim consagram ao sentimento reli- gioso uma importância infinitivamente maior do que ao conhecimento e prática da Lei oral; êles insistem sôbre a omni- presença de Deus, e praticam, por meio da oração e dum treino especial, o êxtase que permite ao homem entrar em comunicação directa com a divindade; eles tiram da Kabalah a crença segundo a qual cada acção humana pode ter repercussões nas esferas elevadas do mundo divino, e o homem puro e justo (Çadík) é capaz de agir sôbre a vontade divina, e, dessa ma- neira, modificar o curso normal dos acon- tecimentos naturais; mas, contrariamente aos Cabalistas, que cairam progressiva- mente numa espécie de ascetismo, os H'assidim preconizam a alegria, que consi- deram como uma das formas mais eleva- das da adoração piedosa. O H'assidismo organizou-se pouco-a- -pouco durante a existência de Baal Shem Tob, que teve como principais discípulos Baer de Meseritz e Jacob Joseph Cohen. Daí a pouco houve verdadeiras dinas- tias de Çadikim, milagreiros místicos, aos quais os crentes recorriam em tôdas as circunstâncias da vida. A primeira metade do século XIX foi, para o H'assidismo, a época do mais com- pleto desenvolvimento; a metade da popula- ção judaica da Rússia, da Polónia, da Ga- lícia e da Romania seguiam as práticas desta seita e acreditavam no poder dos Çadikim. A oposição dos ortodoxos e dos lega- listas não tinha esperado este momento para se fazer sentir; desde 1772 ela tinha à sua testa Eliah Ben-Salomon, cognomi- nado o Gaon de Wilma, que via neste mo- vimento místico um grande perigo para o judaismo, e cujos discípulos tomaram o nome de Mitnaghedim (os opositores). No século XIX os partidários da cultura moderna (Maskilim) que procuravam intro- duzir entre os judeus o ensino das ciências, --------------------------------------------- máscara. A Espanha cristã, governada então pelo imperador Afonso Raimundes, e que tinha tomado um grande desenvolvi- mento, torna-se o asilo dos proscritos. Toledo, a sua capital, foi em breve um centro de onde a ciência judaica começou a irradiar com novo brilho. Êste feliz resultado era a obra de Judah Ben-Ezra, o filho de Joseph Ben-Ezra que, com os seus três irmãos, tinha lançado tanto brilho sôbre a literatura judeo-espa- nhola. Judah Ben-Ezra, ainda muito novo, era o favorito do imperador, o sábio, o bene- volente Afonso, que, em seguida à con- quista do castelo de Calatrava, situado na fronteira, entre Toledo e Córdova, tinha-o nomeado governador desta cidade. ao mesmo tempo que lhe concedia o titulo de principe (Nassy) dos israelitas. Judah aproveitou-se da sua influência e da sua alta posição para aliviar tanto quanto possivel a desventura de seus irmãos fugidos aos almóadas, e empregou a sua fortuna em resgatar os que tinham caido na escravidão. Em breve Toledo teve uma numerosa colónia de emigrados judeus; Rabi-Meir Ben-Migash al¡ fundou uma Academia Tal- múdica, que contou, pouco depois, nume- rosos discípulos. Judah, cuja influência aumentava sem- pre, foi elevado à dignidade de almoxorife da casa imperial de D. Afonso VII, o primo de D. Afonso Henriques. (Continua).
N.º 101, Tishri-Heshvan 5701 (Set-Out 1940)
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