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N.º 111, Sivan-Tamuz 5702 (Mai-Jun 1942)







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 2              HA-LAPID
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      RECORDAR É TORNAR A VIVER

    Os ideais judaicos e a guerra

"Regra geral as sociedades da natureza
da nossa não devem ocupar-se de assuntos
da política contemporânea, mas a guerra não
é a política no seu aspecto de controvérsia
de partidos nem é propriamente um assunto
-é mais: é um facto, e um facto terrível
que envolve não só a nossa segurança mas
ainda a nossa própria existencia nacional e
que portanto exige todos os esforços conju-
gados da nação. É por isso um dever impre-
terível das associações britânicas, quaisquer
que sejam os seus intuitos, consagrar todas
as suas energias e todos os seus esforços
contra a perseguição tenaz da guerra. Toda
a nossa influencia sôbre os nossos associados
e através destes sôbre todas as comunidades
judaicas do Império deve ser empregada
com aquele fim.

Há contudo uma razão especial para que
as associações de carácter científico, como
esta, tomem uma parte activa na organiza-
ção da defesa da nação. Esta guerra tem
um aspecto à parte que necessita ser tratado
pelo homem de estudo. Tivemos no passado,
guerras de índole bastante diferente: guerras
dinásticas, guerras de religião, outras com o
fim de aumento de território e ainda guerras
de comércio-mas pela primeira vez nos
encontramos a defrontar com uma guerra
que tem um carácter moral. É o que encon-
tramos ao aprofundar a questão. Na reali-
dade e na sua essencia não se trata dos
direitos da Sérvia ou da neutralidade da
Bélgica, da hegemonia nos Balcans ou
mesmo da Soberania dos mares. São essas
apenas manifestações superficiais de um
conflito de raízes profundas e de ensina-
mento moral e político. O povo alemão ou
pelo menos uma grande parte dele deixou-se
invadir por uma filosofia que pretende justi-
ficar os seus instintos dominadores e ambi-
ções e que conseguiu amoldar e dirigir a
própria política nacional.

Essa orientação não só é absolutamente
irreconciliável com as tendencias predomi-
nantes na filosofia política da Inglaterra e da
França mas é também um perigo para os



interesses vitais de todas as nações assim
como para a paz mundial. É necessário
reconhecer a existencia desse perigo pavo-
roso e é necessário faze-lo compreender pelo
público afim de que o esforço da nação
esteja em relação com a magnitude do
assunto.

O meu fim, nas breves observações que
me proponho apresentar, é, não só denunciar
o perigo geral da escola prevalecente no
pensamento político germanico mas também
a incompatibilidade dessa escola com os
ideais e ensinamentos judaicos e especial.
mente o perigo corn que ela ameaça as liber-
dades conquistadas com tanto sacrifício pelas
comunidades judaicas.

Essa escola filosófica é devida em parte
à actividade demagógica de Treitschke e
Nietsche mas as suas raízes profundas encon-
tram-se sobretudo nas "Lições sôbre filosofia
da história" de Hegel. Foi Hegel que
empreendeu a tarefa de proclamar o Estado
coisa absoluta e última na ordem política.
Como a segurança do Estado é essencial, ele
arguia que o seu atributo principal era a força
e como a sua soberania deve ser incompa-
tível com qualquer outra soberania existente a
sua função principal era a guerra. Esta opinião
foi ampliada e vulgarizada por Treitschke
com uma energia e entusiasmo extraordinários
na atmosfera profundamente electrisada do
Império Alemão criado em 1870. Para este
filósofo o Império Alemão era um Estado
superior que não podia admitir rivalidades.

Era pois necessariamente um Estado
Militar, visto que era uma força organizada,
e o primeiro pensamento e dever de todo o
cidadão era preparar-se para a guerra. A
guerra não era só necessária para conservar
a primasia do Estado alemão, era tambem
como uma medicina enviada por Deus que
curava todos os males humanos, físicos ou
morais. Desta teoria resultavam muitas
conseqüências; duas devem ter sido notadas
pela sua importância capital. A primeira
era que visto os Tratados com outras nações
poderem limitar a soberania alemã, eles não


 
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