2 HA-LAPID =========================================== RECORDAR É TORNAR A VIVER Os ideais judaicos e a guerra "Regra geral as sociedades da natureza da nossa não devem ocupar-se de assuntos da política contemporânea, mas a guerra não é a política no seu aspecto de controvérsia de partidos nem é propriamente um assunto -é mais: é um facto, e um facto terrível que envolve não só a nossa segurança mas ainda a nossa própria existencia nacional e que portanto exige todos os esforços conju- gados da nação. É por isso um dever impre- terível das associações britânicas, quaisquer que sejam os seus intuitos, consagrar todas as suas energias e todos os seus esforços contra a perseguição tenaz da guerra. Toda a nossa influencia sôbre os nossos associados e através destes sôbre todas as comunidades judaicas do Império deve ser empregada com aquele fim. Há contudo uma razão especial para que as associações de carácter científico, como esta, tomem uma parte activa na organiza- ção da defesa da nação. Esta guerra tem um aspecto à parte que necessita ser tratado pelo homem de estudo. Tivemos no passado, guerras de índole bastante diferente: guerras dinásticas, guerras de religião, outras com o fim de aumento de território e ainda guerras de comércio-mas pela primeira vez nos encontramos a defrontar com uma guerra que tem um carácter moral. É o que encon- tramos ao aprofundar a questão. Na reali- dade e na sua essencia não se trata dos direitos da Sérvia ou da neutralidade da Bélgica, da hegemonia nos Balcans ou mesmo da Soberania dos mares. São essas apenas manifestações superficiais de um conflito de raízes profundas e de ensina- mento moral e político. O povo alemão ou pelo menos uma grande parte dele deixou-se invadir por uma filosofia que pretende justi- ficar os seus instintos dominadores e ambi- ções e que conseguiu amoldar e dirigir a própria política nacional. Essa orientação não só é absolutamente irreconciliável com as tendencias predomi- nantes na filosofia política da Inglaterra e da França mas é também um perigo para os interesses vitais de todas as nações assim como para a paz mundial. É necessário reconhecer a existencia desse perigo pavo- roso e é necessário faze-lo compreender pelo público afim de que o esforço da nação esteja em relação com a magnitude do assunto. O meu fim, nas breves observações que me proponho apresentar, é, não só denunciar o perigo geral da escola prevalecente no pensamento político germanico mas também a incompatibilidade dessa escola com os ideais e ensinamentos judaicos e especial. mente o perigo corn que ela ameaça as liber- dades conquistadas com tanto sacrifício pelas comunidades judaicas. Essa escola filosófica é devida em parte à actividade demagógica de Treitschke e Nietsche mas as suas raízes profundas encon- tram-se sobretudo nas "Lições sôbre filosofia da história" de Hegel. Foi Hegel que empreendeu a tarefa de proclamar o Estado coisa absoluta e última na ordem política. Como a segurança do Estado é essencial, ele arguia que o seu atributo principal era a força e como a sua soberania deve ser incompa- tível com qualquer outra soberania existente a sua função principal era a guerra. Esta opinião foi ampliada e vulgarizada por Treitschke com uma energia e entusiasmo extraordinários na atmosfera profundamente electrisada do Império Alemão criado em 1870. Para este filósofo o Império Alemão era um Estado superior que não podia admitir rivalidades. Era pois necessariamente um Estado Militar, visto que era uma força organizada, e o primeiro pensamento e dever de todo o cidadão era preparar-se para a guerra. A guerra não era só necessária para conservar a primasia do Estado alemão, era tambem como uma medicina enviada por Deus que curava todos os males humanos, físicos ou morais. Desta teoria resultavam muitas conseqüências; duas devem ter sido notadas pela sua importância capital. A primeira era que visto os Tratados com outras nações poderem limitar a soberania alemã, eles não
N.º 111, Sivan-Tamuz 5702 (Mai-Jun 1942)
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