4 HA-LAPID ============================================ Nós, porém, judeus temos uma outra indicação do vício essencial da doutrina de Treitschke, que é talvez mais convincente do que a incompatibilidade da sua filosofia com a nossa. Tivemos já de sentir os efeitos terríveis das suas más qualidades, porque antes de ter preparado a guerra actual, tinha rompido em guerra contra nós. Treitschke não foi só o apóstolo do estado militar e da guerra necessária, foi também em avultada medida um dos maiores agentes provocadores do actual anti-semitismo. Com ele esta qualidade não era excentricidade ou anomalia; era a conseqüência lógica da sua doutrina, visto que era essencial para a sua concepção do Estado que este fosse homo- géneo debaixo do ponto de vista de raças. O seu sistema não comportava no seu Estado Teutónico ideal um elemento que, além de não teutónico, pretendia colocar a força da idéia moral acima do poder material; que considerava a vida civil como normal, que odeava e a guerra e sonhava e pregava a paz universal dominada por leis internacio- nais. Foi por estas razões que na realidade veio a fundar-se o moderno movimento anti- -semitico. Treitschke e os seus discípulos ganharam efectivamente os seus primeiros triunfos na perseguição e carnificina dos prodromos anti-judaicos russos perpetrados entre 1880 e 1890. Nesta parte da sua dou- trina o exito foi na realidade completo, por- que todo o rústico em quem ardia o bárbaro instinto da intolerância religiosa ou do ódio ao judeu exultava com a justificação pseudo- -cientifica que lhe vinha dos filósofos de Berlim e operava em virtude dela. Cremos que a teoria de Treitschke não pode fornecer prova mais convincente do seu carácter essencialmente anti-social. Os autores do anti-semitismo são os mesmos da guerra actual. Ambos estes factos são as resultantes lógicas da mesma ordem de idéias bárbaras; são os gémeos hediondos, progenitura de um ensinamento hediondo que busca introduzir os instintos mais baixos da natureza humana no Templo da moderna "Kultur". Julgo ter dito o suficiente para mostrar que nós judeus da Grã-Bretanha temos um interesse especial em combater a guerra actual com toda a nossa energia e em ver que ela não termine sem o esmagamento absoluto do militarismo alemão. Para o mundo inteiro o militarísmo alemão repre- senta uma ansiedade constante e os encargos tremendos que acarretam os grandes exérci- tos e as enormes esquadras navais; para o judeu, porém, é a ameaça perpétua aos seus direitos civis e políticos e o seu triunfo repre- sentaria disfarçadamente o regresso ao gueto, Parece-me também que na guerra em que estamos empenhados lutamos não só por nós mas ainda por aquela parte da nação germâ- nica que não esqueceu as tradições gloriosas dos seus mais famosos poetas e filósofos e com as quais a causa dos nossos irmãos judeus-alemãis está intimamente entrelaçada, Na emancipação destes, havemos talvez de encontrar o caminho mais seguro para uma paz permanente e também para a feli- cidade duradoura do próprio povo alemão, (Discurso pronunciado em Londres, em 7 de Dezembro de 1914, pelo extinto Sr. Lucien Wolf Vice-Presidente da Sociedade de Estudos Históricos judaicos da Inglaterra. Publicado no Boletim do Comité Israelita de Lisboa a 16 de Abril de 1916. -------------------------------------------- Deveres para com Deus P.-Como podemos dividir os deveres que temos a cumprir para com Deus? R.-Em deveres íntimos e deveres pú- blicos. P.-O que é o dever íntimo? R.-E' o de elevar os nossos pensa- mentos para Deus, procurar compreende-lo, respeita-lo, amá-lo com todas as forças do nosso coração e da nossa alma. P.-Porque devemos amar a Deus? R.-Devemos amar a Deus porque Deus é bom, e porque devemos amar tudo que é bom e belo, a verdade, a justiça, a miseri- córdia, a indulgencia, numa palavra, a per- feição para a qual devemos dirigir todas as forças da nossa alma. P.-Como devemos amar a Deus? R.-Devemos amar a Deus como nos dedicamos a um amigo a quem se pode dizer e confiar tudo porque Deus é o nosso melhor amigo e está sempre pronto para nos escutar. P.-Podemos facilmente chegar a conhe- cer Deus? R.-Sim, podemos facilmente conhecer Deus, se bem que seja invisível, Deus está em toda a parte, A sua presença revela-se
N.º 111, Sivan-Tamuz 5702 (Mai-Jun 1942)
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