HA-LAPID 3 ========================================== deviam ser respeitados em tôdas as circuns- tancias, e a outra era que, em virtude do poder rival da Grã-Bretanha, esta nação devia ser considerada como a pior inimiga da Alemanha. É esta, em poucas palavras, a orientação político-filosófica em que a actual geração foi educada. Não teria sido de grandes resultados se, como outras especulações filo- sóficas, tivesse ficado restringida aos filósofos e aos auditórios das suas classes mas nas mãos de Treítschke converteu-se em credo político. Os seus discípulos fizeram vibrar com elas os bancos das Universidades; ser- viram de bandeira da Nova Alemanha, de contra-senha do patriotismo alemão e de base psicológica do sistema geral da politica alemã. O seu extraordinário resultado prá- tico encontrou a sua expressão literária em em dois livros recentemente publicados, pre- fácios da guerra actual, que não tratam di- rectamente de especulações filosóficas mas do trabalho prático do Estado Alemão. Um dos livros é a Germania Imperial, do Prin- cipe Von Bulow e outro A Alemanha e a próxima guerra, do General Von Bernhardi. Nenhum desses livros poderia ter sido escrito se não tivesse existido um Treitschke para expor e vulgarizar as conseqüências práticas das doutrinas de Hegel na atmosfera incen- diada de nacionalismo do Império Germânico adolescente. Estas são as origens remotas da guerra actual. Quando Jules Fabre em 1870 pre- guntava ao Principe de Bismarck contra quem dirigia ele a guerra, o chanceler respondia- -lhe secamente: "contra Luís XIV"; assim podemos nós dizer hoje que é contra Hegel que fazemos a guerra - felizmente apenas contra uma parte de Hegel. Se essa teoria é a negação absoluta de tudo quanto os modernos filósofos britânicos, e muito especialmente Beutham e Stuart Mill, ensinam, não o está menos diametral- mente oposta ao pensamento, instintos e ideais judaicos. Renan dizia que Israel nunca tinha conhecido "uma forte organiza- tão do Estado", mas quer essa observação seja verdadeira ou não, o que é certo é que os judeus com o seu apego inquebrantável às coisas do espírito e com o seu profundo individualismo e universalismo, não teriam fàcilmente abraçado a concepção moderna germânica do Estado militar e sua finalidade. Para os judeus o Estado foi criado para o indivíduo e não o individuo para o Estado, e isso esclarece muitos pontos da nossa história. Não é possível conceber o judeu aceitando de boa mente a doutrina da neces- sidade e eternidade da guerra, como principio estabelecido por Deus, e a idéia do cidadão soldado antes de tudo e acima de tudo. Estas coisas são combatídas radicalmente por todo o ensinamento judaico. É possível que existam pontos de con- tacto entre as numerosas notas da escala da civilização germânica e outras civilizações aricas, mas o que certamente não existe é qualquer concordância ou contacto entre a idéia essencialmente pagã de um Deus- -guerra e os seus adoradores com o pacifismo irredutível de todos os pensadores judaicos. O super-homem judeu não foi David "o pro- motor de grandes guerras" cujas mãos man- chadas de sangue não foram julgadas dignas de construir o Templo, mas sim Salomão, o sábio, o homem da tranqüilidade e da paz. A resposta do judeu a Treítschke-e per- doe-se-me a aproximação - está contida na vibrante mensagem a Zerubabel. "Não será nem pela força nem pelo poderio, mas sim pelo meu espirito, disse o Senhor das Hostes!". Entre os judeus o ideal contido nessas palavras não ficou restringido a uma simples esperança ou anhelo; soldou-se aos seus instintos ao calor dessa fornalha incendiada que é a história de Israel. É por isso que sempre encontramos os judeus da Alemanha mílitando no campo oposto à politica sanguinolento de Treitschke e dos seus. Tôda a política judaica alemã dirige-se contra o militarismo e contra a Reacção, e enfileira-se ao lado do Príncipe Alberto e Stockmar e com os idealistas liberais da chamada escola de Gotha, que queriam a unidade da Alemanha pela força das idéias liberais e repeliam os métodos de fogo e sangue de Bismarck. Boerne, Heine e Riesser foram os pioneiros dessa escola libe- ral e ainda após o triunfo do sangue e fogo de 1870 toda a influencia judaica germânica com Larker e Bemberger e os não políticos como Berthold Auerbach à sua frente, lutou por arrancar o novo Império das mãos dos reaccionários e da justificação pseudo-cien- tífica de Treitschke a respeito do seu barbaris- mo. Se essa foi a atitude do israelita alemão, qual não deverá ser a do judeu da França e da Inglaterra liberais. no momento actual?
N.º 111, Sivan-Tamuz 5702 (Mai-Jun 1942)
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