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N.º 111, Sivan-Tamuz 5702 (Mai-Jun 1942)







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deviam ser respeitados em tôdas as circuns-
tancias, e a outra era que, em virtude do
poder rival da Grã-Bretanha, esta nação
devia ser considerada como a pior inimiga
da Alemanha.

É esta, em poucas palavras, a orientação 
político-filosófica em que a actual geração
foi educada. Não teria sido de grandes
resultados se, como outras especulações filo-
sóficas, tivesse ficado restringida aos filósofos
e aos auditórios das suas classes mas nas
mãos de Treítschke converteu-se em credo
político. Os seus discípulos fizeram vibrar
com elas os bancos das Universidades; ser-
viram de bandeira da Nova Alemanha, de
contra-senha do patriotismo alemão e de base
psicológica do sistema geral da politica
alemã. O seu extraordinário resultado prá-
tico encontrou a sua expressão literária em
em dois livros recentemente publicados, pre-
fácios da guerra actual, que não tratam di-
rectamente de especulações filosóficas mas
do trabalho prático do Estado Alemão. Um
dos livros é a Germania Imperial, do Prin-
cipe Von Bulow e outro A Alemanha e a
próxima guerra, do General Von Bernhardi.
Nenhum desses livros poderia ter sido escrito
se não tivesse existido um Treitschke para
expor e vulgarizar as conseqüências práticas
das doutrinas de Hegel na atmosfera incen-
diada de nacionalismo do Império Germânico
adolescente.

Estas são as origens remotas da guerra
actual. Quando Jules Fabre em 1870 pre-
guntava ao Principe de Bismarck contra quem
dirigia ele a guerra, o chanceler respondia-
-lhe secamente: "contra Luís XIV"; assim
podemos nós dizer hoje que é contra Hegel
que fazemos a guerra - felizmente apenas
contra uma parte de Hegel.

Se essa teoria é a negação absoluta de
tudo quanto os modernos filósofos britânicos,
e muito especialmente Beutham e Stuart
Mill, ensinam, não o está menos diametral-
mente oposta ao pensamento, instintos e
ideais judaicos. Renan dizia que Israel
nunca tinha conhecido "uma forte organiza-
tão do Estado", mas quer essa observação
seja verdadeira ou não, o que é certo é que
os judeus com o seu apego inquebrantável
às coisas do espírito e com o seu profundo
individualismo e universalismo, não teriam
fàcilmente abraçado a concepção moderna
germânica do Estado militar e sua finalidade.

Para os judeus o Estado foi criado para



o indivíduo e não o individuo para o Estado,
e isso esclarece muitos pontos da nossa
história. Não é possível conceber o judeu
aceitando de boa mente a doutrina da neces-
sidade e eternidade da guerra, como principio
estabelecido por Deus, e a idéia do cidadão
soldado antes de tudo e acima de tudo.
Estas coisas são combatídas radicalmente
por todo o ensinamento judaico.

É possível que existam pontos de con-
tacto entre as numerosas notas da escala da
civilização germânica e outras civilizações
aricas, mas o que certamente não existe é
qualquer concordância ou contacto entre a
idéia essencialmente pagã de um Deus-
-guerra e os seus adoradores com o pacifismo
irredutível de todos os pensadores judaicos.
O super-homem judeu não foi David "o pro-
motor de grandes guerras" cujas mãos man-
chadas de sangue não foram julgadas dignas
de construir o Templo, mas sim Salomão, o
sábio, o homem da tranqüilidade e da paz.
A resposta do judeu a Treítschke-e per-
doe-se-me a aproximação - está contida na
vibrante mensagem a Zerubabel.

"Não será nem pela força nem pelo
poderio, mas sim pelo meu espirito, disse o
Senhor das Hostes!".

Entre os judeus o ideal contido nessas
palavras não ficou restringido a uma simples
esperança ou anhelo; soldou-se aos seus
instintos ao calor dessa fornalha incendiada
que é a história de Israel.

É por isso que sempre encontramos os
judeus da Alemanha mílitando no campo
oposto à politica sanguinolento de Treitschke
e dos seus. Tôda a política judaica alemã
dirige-se contra o militarismo e contra a
Reacção, e enfileira-se ao lado do Príncipe
Alberto e Stockmar e com os idealistas
liberais da chamada escola de Gotha, que
queriam a unidade da Alemanha pela força
das idéias liberais e repeliam os métodos de
fogo e sangue de Bismarck. Boerne, Heine e
Riesser foram os pioneiros dessa escola libe-
ral e ainda após o triunfo do sangue e fogo
de 1870 toda a influencia judaica germânica
com Larker e Bemberger e os não políticos
como Berthold Auerbach à sua frente, lutou
por arrancar o novo Império das mãos dos
reaccionários e da justificação pseudo-cien-
tífica de Treitschke a respeito do seu barbaris-
mo. Se essa foi a atitude do israelita alemão,
qual não deverá ser a do judeu da França
e da Inglaterra liberais. no momento actual?


 
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