HA-LAPID 3 ========================================= Avalor Álvaro; Aonia, joana; e assim os outros. Intitulou-se Menina e Moça, e como o não compôs mais que para si, e foi parte de seus altivos e namorados pensamentos, como êle diz: que o livro o não fêz para nenhum ou para melhor dizer para um só, se não imprimiu em sua vida; por sua morte se achou entre os seus papéis". Êste autor nos indica que a Menina e Maça trata de amores do poeta no Paço e que são usados na obra anagramas e dis- farces para mascarar factos verdadeiros. Apresenta-se o editor como parente de Ber- nardim, ora sabendo-se que os Mascarenhas do Torrão eram pessoas de confiança de D. João II (Bernardim Ribeiro e o Buco- lismo por Teófilo Braga) vejo aqui um- indicio de que a familia que tomou o encargo da criação do filhito de Judah Abrabanel era parente dos Mascarenhas e vivia no Torrão. Almeida Garrett. numas notas do seu poema Camões, diz: "Bernardim Ribeiro, cujo romance da Menina e Moça é uma alegoria de seus altos amores do Paço. Corre por verda- deiro o que aqui se diz a éste respeito. A sua morada na Serra de Cintra, a sua ida de peregrino aos Alpes, isto é a Turim onde se achava a Infanta D. Beatriz, casada com o Duque de Sabóia, são factos: o resto quem pode afiançar". -Os derradeiros dias da vida romanesca e aventureira do apaixonado Bernardim Ribeiro são a parte menos decifrada e deci- frável do enigma da sua vida". Alexandre Herculano no Panorama, diz: Os amores de Bernardim Ribeiro e a In- fanta D. Beatriz. "Tradição antiga é o que o célebre autor da Menina e Maça, tivera largos amores com a Infanta D. Beatriz, filha de D. Ma- nuel, a qual por conveniências políticas casou com o Duque Carlos de Sabóia. "Todavia a história cala a êste respeito: o único homem que podia ter-nos dito aiguma coisa sôbre tão tristes amores- Garcia de Rezende - que descreveu miuda- mente a partida da Infanta, era mui destro para haver de tocar em um ponto que ofenderia os pios ouvidos dos cortesãos de D. Manuel e de D. João III. Com efeito, se se ainda hoje parece incrivel que um pobre cavaleiro trovador ousasse levantar os olhos Para a filha do maior rei do mundo, quão criminosos não pareceriam, então, amores tão desproporcionados? "Posto que a história seja muda em tal matéria, não o é quanto ao modo porque os portugueses olharam o casamento da Infanta. Damião de Góis nos conservou àcêrca disso uma memória curiosa: "no tempo (diz êle) em que se fêz êste casa- mento da Infanta D. Beatriz com D. Carlos, Duque de Sabóia, e ainda neste presente, há aí muitas pessoas, que dizem Duque nem em geração, nem em estado, tinha calidades, porque lhe houvesse El-Rei D. Emmanuel de dar a sua filha por mulher, posto que fôsse segunda. "Seria porém a causa apontada pelo cro- nista a única da desaprovação que mereceu tal casamento? Não nos parece provável à vista do que vamos dizer. "Entre os importantes manuscritos da bi- blioteca real existe um códice, que contém memórias avulsas de vários sucessos, nacio- nais e estranhos, da primeira metade do século XVI. É todo escrito pela mesma letra, a qual sem dúvida é daquele tempo. Entre outras coisas, aí se acha uma noticia da partida da Infanta, que completa a que nos deixou Garcia de Rezende, e nos dá a saber quão desgraçada foi a pobre D. Bea- triz no seu casamento com o Duque Carlos, e que a idéia que da insuficiência e pouca nobreza dêste se fazia em Portugal nasceu provavelmente da pintura, que voltando à Pátria, os fidalgos e mais pessoas da armada deviam traçar do acolhimento que em Sabóia tinham achado. Damos na inte- gra a notícia citada, sem nos cingirmos todavia à extravagante ortografia daquela época, não tendo ainda acertado a saber para que sirva conserva-la na publicação de artigos inéditos, se não é para dificultar a leitura dêstes." A ida da Infanta para Sabóia -O embaixador D. Claudio, do Duque de Sabóia, havendo, o que desejava, que era a mais formosa Princesa, que se podia di- zer, apressou sua ida em breve. El-Reí. vendo a sua vontade, e a do duque, que por cartas dava pressa à sua partida, ordenou uma mui boa armada de naus, galeões. caravelas e galés e muitos fidalgos honra- dos, e mui luzidos de muitos colares e chaparias."
N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)
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